Folkcomunicação — proximidade e realidade em evento realizado na UFAM

Maria Fernanda
teorias-comunicacao
6 min readDec 11, 2019

A folkcomunicação está mais próxima da realidade social do que se pode imaginar. Quando escutamos através de algum veículo midiático sobre o Boi Bumbá, quadrilhas, maracatu, festa do divino ou qualquer outra manifestação folclórica, estamos por dentro do que a folkcomunicação tem intenção de mostrar. Ela foi fundada com o intuito de “estabelecer um intercâmbio de informações de opiniões, ideias e atitude da população através de agentes ligados direta ou indiretamente com o folclore.” (BELTRAO, 1967 apud BENJAMIM, 2001, p.12). Desenvolvida pelo professor Luiz Beltrão em 1967, é considerada a única teoria genuinamente brasileira. Ela aborda a comunicação sobre manifestações populares, para exemplificar isso, pode-se usar as quadrilhas.

As quais possuem uma história super rica e uma origem bem antiga. Surgiu de forma elitista vinda da Europa e com o tempo popularizou-se. Desde seu início até os dias atuais, muito se evoluiu desse movimento popular que é tão conhecido atualmente, tudo foi se adaptando com o tempo e o povo. Hoje em dia possuem grupos formados para dançarem e proliferarem cultura das quadrilhas que sobrevive a gerações.

Atualmente, quem faz parte desse movimento está sempre buscando divulgar da melhor maneira a manifestação folclórica da qual faz parte. Como a Brincante — forma como são chamados os quadrilheiros — Andrezza Rebelo (19), estudante de Relações Públicas da Universidade Federal do Amazonas, fala um pouco sobre a experiência dela em uma quadrilha junina: “Fiquei um ano sem dançar até surgir uma nova quadrilha junina que no momento atual faço parte e que além de dançar faço a gestão das mídias sociais do grupo folclórico. Foi graças a esse movimento cultural que conheci pessoas extremamente especiais na minha vida.”

A busca pelo espaço nos meios de comunicação em massa é importante para o alcance de líderes de opiniões, os quais, por meio de canais folk, ou seja, populares, transmitirão informações que poderão chegar as pessoas de alguma forma marginalizadas. No entanto, para Beltrão, os grandes meios de comunicação midiáticos, apesar de importantes, não são os únicos capazes de fazer comunicação, assim como a brincante Andrezza através da gestão de mídias da sua quadrilha é capaz de ser um canal comunicativo, os meios considerados informais, como a fofoca, ruídos, e até conversas de rua entre vizinhos também. Afinal, Beltrão acreditava que a comunicação está presente onde se tem necessidade de se comunicar. Com isso, percebe-se que folkcomunicação tem a intenção de acompanhar culturas, e com as mudanças culturais também podem ocorrer mudanças na forma de comunicação.

Sob esta perspectiva, há uma grande importância em discutir a temática folkcomunicativa em ambientes acadêmicos, além de ser uma teoria de grande relevância nesses locais, também é necessária para que possa ser propagada a iniciativa de ser uma voz para aqueles que não possuem tanta visibilidade. Tal como as quadrilhas e o boi bumbá, os quais foram iniciados com pouco apoio comunicativo, e hoje, através de portais midiáticos pôde-se ter um melhor acesso a essas culturas. Visando isso, foi realizado na Universidade Federal do Amazonas um evento sobre folkcomunicação, onde muitos assuntos valiosos foram abordados.

SEMANA FOLKCOMUNICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS:

Para evidenciar como folkcomunicação está próximo do cotidiano, entre os dias 25 e29 de novembro aconteceu na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em Manaus, a II Jornada de Folk Comunicação, organizada pelo grupo de pesquisa Trokano, coordenado pela UFAM e co-coordenado pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA). O evento objetivava compartilhar a teoria de Luiz Beltrão de uma forma interativa através de mesas redondas, mostras de documentários, oficinas e palestras.

Foto/reprodução instagram @jornadafolkcomunicacao

A primeira mesa redonda ocorreu no primeiro dia do evento, 26, com o tema muito criativo: “Produção de Documentários sobre cultura popular na universidade” mediado pelo Prof. Raphael Cortezão e composta pelos jornalistas: Orivaldo Júnior, Yandrei Farias e Fábio Modesto.

Cada debatedor falou sobre o documentário que produziu para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), mostrando para os universitários o quanto a Folkcomunicação pode ser explorada. Orivaldo Júnior fez sobre “Festa dos Marujos de Freguesia do Andirá”. Yandrei produziu sobre “Recomendadores de Almas”. Fábio elaborou sobre “Sob a benção da Virgem do Carmo”. Nos três dias de evento em Manaus aconteceram exibição de documentários com os projetos audiovisuais. Para quem esteve presente na mesa redonda foi uma forma de entender ainda mais os trabalhos que eles produziram.

No dia seguinte aconteceu outra mesa redonda bastante produtiva. O tema apresentado foi “Folkcomunicação: a mídia dos grupos subalternos”. Os Profs. Drs. Wilson Nogueira, Allan Rodrigues e Adelson da Costa Fernando participaram da mesa mediada pela Prof. Dra. Inara Regina.

Além das mesas redondas ocorreram oficinas muito interessantes para quem gosta do audiovisual e até deseja produzir um documentário. As oficinas do dia 25 abordaram a “Fotografia Documental”, com o fotógrafo Raphael Alves e “Roteiro e direção de curtas-metragens”, com o diretor e roteirista Rafael Ramos. No dia 26 o Prof. Dr. Fábio Corniani desenvolveu o tema “Produção científica em Folkcomunicação — Teoria e Prática”. No dia 27 “Roteiro e direção de curtas-metragens” com Ariane Potto, “Direção de fotografias em movimento” com Cácia Araújo e em Parintins “Boi-Bumbá como História Pública” com Diego Omar.

A primeira palestra, chamada “Folkcomunicação Digital: o hoje e o amanhã, aconteceu após a mesa rendonda “Produção de documentários na universidade”, com o convidado Fábio Corniani da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Corniani construiu a sua fala com base na pergunta: a comunicação popular e marginal tem alterado algum protagonismo nas mídias digitais?

Seguido da mesa redonda “Folkcomunicação: mídia dos grupos subalternos”, teve início a segunda palestra com o convidado Luiz Ferraretto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o tema: “Rádio: entre o de sempre e a novidade, desafios de um meio essencialmente popular”.

Fábio Corniani
Luiz Ferraretto

Após a palestra do Luiz Ferraretto, a ll Jornada de Folk Comunicação finalizou em Manaus para dar continuidade na UEA e UFAM Parintins nos dias 28 e 29. E o encerramento entrou no contexto do tema do evento, marcando a transição de Manaus para Parintins, contou com uma apresentação muito animada do Boi Garantido com as suas toadas mais conhecidas.

Por fim, é importante salientar que além de todo o projeto da Semana de Folkcomunicação e os objetivos envolvidos, ela representa uma teoria de resistência, procurando incentivar e dar visibilidade às manifestações não favorecidas por grandes meios midiáticos e que lutam para sobreviver em uma indústria cultural norte-americanizada. Busca transmitir um valor de pertencimento e valorização das manifestações folclóricas locais.

--

--