Interacionismo simbólico no filme “Cidade de Deus”

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5 min readJun 23, 2023

A Construção da Realidade Social no Filme “Cidade de Deus”, à Luz do Interacionismo Simbólico.

Fonte: Pinterest

Você já ouviu falar sobre o interacionismo simbólico? É uma teoria sociológica que nos ajuda a compreender como as interações sociais e os símbolos compartilhados influenciam a construção da realidade social. Uma ótima forma de aplicar essa teoria é analisando o filme “Cidade de Deus” dirigido por Fernando Meirelles, codirigido por Kátia Lund e estrelado por Alexandre Rodrigues, Leandro Firmino e Alice Braga.

Nessa obra cinematográfica, podemos observar como os personagens constroem suas identidades, interpretam os símbolos presentes em sua comunidade e se relacionam uns com os outros com base nesses significados compartilhados.

  • Símbolos e significados:

No filme “Cidade de Deus”, os símbolos são abundantes e desempenham um papel importante na vida dos personagens. Um dos símbolos mais evidentes no filme é o uso de armas de fogo. Para os personagens, especialmente os jovens, as armas representam poder, status e proteção. Elas se tornam um símbolo de controle e influência dentro da comunidade. Os personagens que possuem uma arma são vistos como mais respeitados e temidos pelos outros, o que lhes confere uma sensação de superioridade.

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Outro símbolo importante é o uso de drogas. A droga é retratada como uma fonte de dinheiro rápido e poder no mundo do crime. Os personagens envolvidos com o tráfico de drogas buscam ascensão social e financeira através do comércio ilícito. A droga se torna um símbolo de riqueza e status, mas ao mesmo tempo traz consigo a degradação, a dependência química e a violência associada ao consumo e ao comércio.

Por fim, a própria Cidade de Deus é um símbolo complexo no filme. Para os alguns personagens, ela representa um local de exclusão, marginalidade e violência. Ao mesmo tempo, a Cidade de Deus também é um símbolo de resistência e identidade para aqueles que a habitam. Apesar de todas as adversidades, os personagens encontram na comunidade um senso de pertencimento e solidariedade.

  • Interpretação e interação social:

O interacionismo simbólico ressalta a importância das interpretações compartilhadas na interação social. No contexto de “Cidade de Deus”, os personagens interpretam e atribuem significados aos símbolos presentes em sua realidade. Podemos observar diálogos que exemplificam melhor a teoria de acordo com o contexto social, como quando Buscapé diz: “Na cidade de Deus, se você der as costas, já era. Ou você tá olhando ou você tá morto.” Nessa fala, o “olhar” é um símbolo de poder e vigilância, indicando que alguém está presente e atento. Em contrapartida, se “você der as costas”, isso se torna um ato de vulnerabilidade, uma vez que a ausência do olhar pode atrair violência e morte.

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Outra fala importante é quando Dadinho, também conhecido como Zé Pequeno, enfatiza que “a única coisa que presta é ser bandido. É foda, mas é isso que dá futuro”. Ser “bandido” é visto como a única solução para garantir um futuro, indicando como os símbolos associados à criminalidade são valorizados e internalizados nessa realidade.

Essas interpretações moldam as interações sociais entre os personagens, influenciando suas escolhas, relacionamentos e comportamentos.

  • Construção da identidade:

No filme “Cidade de Deus”, podemos observar a construção da identidade individual e coletiva dos personagens com base em suas interações sociais e nos símbolos presentes na comunidade. Um exemplo disso é o personagem Zé Pequeno. Desde jovem, ele busca afirmar sua identidade através do poder e da violência. Em uma cena emblemática, Zé Pequeno ostenta um revólver em frente ao espelho, praticando gestos de ameaça e poder. Essa atitude simboliza a forma como ele constrói sua identidade, associando-se à imagem de um líder temido e respeitado dentro da comunidade.

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Por outro lado, temos o personagem Buscapé, que busca escapar do ciclo de violência e encontrar uma identidade diferente. Ao longo do filme, Buscapé se envolve com a fotografia, uma forma de expressão artística que contrasta com a realidade violenta da Cidade de Deus. Através dessa paixão, ele encontra uma maneira de se distanciar das influências negativas do ambiente em que vive e construir sua identidade como um observador atento e narrador da história da comunidade.

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A busca por poder, violência ou a tentativa de romper com o ciclo de violência são formas pelas quais os personagens constroem suas identidades dentro do contexto social em que estão inseridos, ao mesmo tempo que são influenciados pelas interações sociais e pelos símbolos presentes na comunidade retratada em “Cidade de Deus”

  • Influência do contexto social:

O contexto social de pobreza, violência e marginalização na Cidade de Deus exerce uma influência significativa nas interações e nas interpretações dos personagens ao longo do filme. Esse ambiente molda os símbolos e os significados atribuídos a eles, afetando a forma como os indivíduos se relacionam e se comportam.

Um exemplo marcante é a cena em que o personagem Bené, amigo de Buscapé, tenta sair do mundo do crime e busca uma vida diferente. Ele se esforça para se distanciar das influências negativas da comunidade, buscando estabilidade emocional e financeira.

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No entanto, mesmo com seus esforços, Bené é constantemente pressionado e afetado pelas circunstâncias sociais e pela cultura de violência que o cerca. Eventualmente, ele acaba sendo arrastado de volta para a criminalidade, mostrando como o contexto social limita as possibilidades de escolha e de construção de uma vida alternativa.

O filme “Cidade de Deus” ilustra de maneira impactante a influência do contexto social na construção da realidade social. Evidencia como a pobreza, a violência e a marginalização moldam as interações e as interpretações dos personagens. A aplicação da teoria do interacionismo simbólico nos permite compreender essas dinâmicas sociais complexas e refletir sobre os efeitos do ambiente social na vida dos indivíduos.

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Autores: Bernardo Vitor da Silva Martins e Jhully Sarah Lima Chaves.

Referências:

CIDADE de Deus. Direção de Fernando Meirelles. Rio de Janeiro: Globo Filmes, 2002. 1 DVD (130 min.).

SILVA, Sandro Takeshi Munakata da. Teorias da comunicação nos estudos de relações públicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011.

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