“Não Olhe Para Cima” — O Retrato da Manipulação das Massas.

Barbara Evely
teorias-comunicacao
5 min readJun 13, 2023
“Não Olhe Para Cima” (2021) — Fonte: Site Oficial da Netflix

Apesar da revisão majoritariamente mista pela crítica, o filme “Não Olhe Para Cima” (2021), produção original lançada pela Netflix, carrega consigo diversas mensagens que correspondem a questões relevantes vivenciadas atualmente. A obra tem como elemento principal do seu enredo a descoberta feita por dois astrônomos acerca da existência de um cometa que passou a orbitar o sistema solar e que segue em rota de colisão direta com a Terra. Diante desse cenário, os cientistas precisam alertar a todos sobre a catástrofe iminente que está prestes a desolar o planeta, porém se deparam com desafios impostos pela mídia que dificultam levar esta notícia para toda a humanidade.

A partir de uma perspectiva cômica e satírica, aspectos esses que são característicos dos trabalhos realizados pelo diretor e roteirista do filme, Adam McKay, “Não Olhe para Cima” apresenta diversas críticas a fatores presentes na sociedade. A obra cinematográfica ressalta problemáticas que interferem tanto no meio ambiente, ao fazer analogias com mudanças climáticas, quanto no âmbito social, acentuando especialmente questões que envolvem as mídias e seu uso para manipular comportamentos. Nesse sentido, a produção permite realizar associações ao representar fatores que correspondem à realidade e incentiva a reflexão sobre como os processos comunicacionais estão sendo empregados no contexto atual.

“Não Olhe Para Cima” (2021) — Fonte: Google Imagens

No decorrer das cenas presentes na obra cinematográfica são expostas numerosas questões de teor social, especificamente aquelas que englobam os meios de comunicação, o que, consequentemente, estabelece relações com teorias da comunicação, tal como a teoria hipodérmica. A televisão é a principal mídia representada na obra, demonstrando a sua capacidade de manipulação no que diz respeito aos interesses daqueles que estão no poder e que pretendem controlar o medo das pessoas.

No filme a mass media é vista pelos astrônomos como instrumento que trará maior visibilidade a sua descoberta, mas ao contrário do esperado a mídia descredibiliza o trabalho científico e reforçam convicções daqueles que estão mais interessados na sua posição política do que ser prudente perante a sobrevivência da nação. Dessa maneira, o longa-metragem destaca como as ferramentas midiáticas podem ser usadas para estabelecer controle sobre as massas, entendendo os indivíduos como passivos e incapazes de responder ao estímulo de outro modo que não o já previsto.

Assim, em “Não Olhe para Cima” os meios de comunicação de massa têm como objetivo moldar o comportamento da sociedade massificada, transformando a população em agentes submissos que negam a ameaça latente e esperando que a recepção das informações emitidas sejam aceitas sem questionamentos, fato que realmente ocorre no filme.

“Não Olhe pra Cima” (2021) — Fonte: Google Imagens

A cena que pode destacar a devida relação com a potência manipuladora, trata-se do momento em que o Dr. Randall (Leonardo DiCaprio) e Kate (Jennifer Lawrence) empenham-se em uma entrevista de televisão a fim de alertar a humanidade quanto ao cometa que está em rota de colisão com a Terra. Entretanto, os jornalistas responsáveis pelo jornal, bem como a equipe não dão a devida atenção ao assunto, passando até mesmo a debochar e diminuindo o grave assunto a piadas. A partir disso, a cena ilustra a falta de atenção da mídia quanto a problemas reais, assim como representa o esforço de trazer passividade às atitudes dos telespectadores a partir da disseminação de mensagens triviais com intuito de encobrir a situação alarmante.

Ademais, fortificaram-se ainda mais as batalhas comunicacionais produzidas a partir das diferentes perspectivas quanto a esta tragédia qual o mundo sofreria em alguns dias, sendo adotado as mais diferentes formas de defender um posicionamento quanto ao caso, incluindo assim o posicionamento negacionista da mídia. A cena do reality “Kick the Comet”, é uma das encenações que correspondem a forma tendenciosa que a mídia pode agir tendo em vista apenas o entretenimento, podendo transformar eventos graves em espetáculos visando a audiência e descartando assim quaisquer atitudes ligadas a uma devida seriedade. Desta forma, a ideia obtida por meio desta dramatização, é quanto a manipulação midiática, podendo afetar as percepções e reações do público.

“Não Olhe pra Cima” (2021) — Fonte: Google Imagens

Sendo assim, o filme “Não Olhe para Cima” de Adam McKay retrata aos espectadores a respeito da mídia como instrumento manipulável, tornando-a uma ferramenta para a criação de um cenário sensacionalista sob a situação de destruição do planeta, tal que com a disseminação desta informação poderia causar certa histeria, fazendo com que o governo utilize assim dos meios de comunicação de massa para manter o controle da situação, bem como da sociedade.

Desta forma, a negação da ciência e a influência da mídia movem o filme para o final catastrófico e objetivado pelos grandes governantes, declarando assim a população como potenciais a influência, estes de forma passiva. Portanto, o longa-metragem ilustra como a mídia é capaz de moldar a percepção pública, além de manipular as respostas coletivas aos devidos eventos críticos, o que, consequentemente, adverte-se a respeito da importância de um pensamento crítico, bem como uma compreensão sólida da utilização dos meios de comunicação para a sociedade.

Escrito por Barbara Evely e Christian Pinheiro.

REFERÊNCIAS

ADOROCINEMA, 2021. Não Olhe Para Cima. Disponível em: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-281330/. Acesso em: 24 maio 2023.

RIBEIRO, Pedro Henrique. Não Olhe Para Cima — Filme da Netflix Ganha Trailer Hilário e Pôster. Omelete, 2021. Disponível em: https://www.omelete.com.br/filmes/nao-olhe-para-cima-trailer#:~:text=Escrito%20e%20dirigido%20por%20McKay,tem%20um%20canal%20no%20Telegram!. Acesso em: 24 maio 2023.

WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. 3º Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

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