“Não Olhe Para Cima” — O Retrato da Manipulação das Massas.
Apesar da revisão majoritariamente mista pela crítica, o filme “Não Olhe Para Cima” (2021), produção original lançada pela Netflix, carrega consigo diversas mensagens que correspondem a questões relevantes vivenciadas atualmente. A obra tem como elemento principal do seu enredo a descoberta feita por dois astrônomos acerca da existência de um cometa que passou a orbitar o sistema solar e que segue em rota de colisão direta com a Terra. Diante desse cenário, os cientistas precisam alertar a todos sobre a catástrofe iminente que está prestes a desolar o planeta, porém se deparam com desafios impostos pela mídia que dificultam levar esta notícia para toda a humanidade.
A partir de uma perspectiva cômica e satírica, aspectos esses que são característicos dos trabalhos realizados pelo diretor e roteirista do filme, Adam McKay, “Não Olhe para Cima” apresenta diversas críticas a fatores presentes na sociedade. A obra cinematográfica ressalta problemáticas que interferem tanto no meio ambiente, ao fazer analogias com mudanças climáticas, quanto no âmbito social, acentuando especialmente questões que envolvem as mídias e seu uso para manipular comportamentos. Nesse sentido, a produção permite realizar associações ao representar fatores que correspondem à realidade e incentiva a reflexão sobre como os processos comunicacionais estão sendo empregados no contexto atual.
No decorrer das cenas presentes na obra cinematográfica são expostas numerosas questões de teor social, especificamente aquelas que englobam os meios de comunicação, o que, consequentemente, estabelece relações com teorias da comunicação, tal como a teoria hipodérmica. A televisão é a principal mídia representada na obra, demonstrando a sua capacidade de manipulação no que diz respeito aos interesses daqueles que estão no poder e que pretendem controlar o medo das pessoas.
No filme a mass media é vista pelos astrônomos como instrumento que trará maior visibilidade a sua descoberta, mas ao contrário do esperado a mídia descredibiliza o trabalho científico e reforçam convicções daqueles que estão mais interessados na sua posição política do que ser prudente perante a sobrevivência da nação. Dessa maneira, o longa-metragem destaca como as ferramentas midiáticas podem ser usadas para estabelecer controle sobre as massas, entendendo os indivíduos como passivos e incapazes de responder ao estímulo de outro modo que não o já previsto.
Assim, em “Não Olhe para Cima” os meios de comunicação de massa têm como objetivo moldar o comportamento da sociedade massificada, transformando a população em agentes submissos que negam a ameaça latente e esperando que a recepção das informações emitidas sejam aceitas sem questionamentos, fato que realmente ocorre no filme.
A cena que pode destacar a devida relação com a potência manipuladora, trata-se do momento em que o Dr. Randall (Leonardo DiCaprio) e Kate (Jennifer Lawrence) empenham-se em uma entrevista de televisão a fim de alertar a humanidade quanto ao cometa que está em rota de colisão com a Terra. Entretanto, os jornalistas responsáveis pelo jornal, bem como a equipe não dão a devida atenção ao assunto, passando até mesmo a debochar e diminuindo o grave assunto a piadas. A partir disso, a cena ilustra a falta de atenção da mídia quanto a problemas reais, assim como representa o esforço de trazer passividade às atitudes dos telespectadores a partir da disseminação de mensagens triviais com intuito de encobrir a situação alarmante.
Ademais, fortificaram-se ainda mais as batalhas comunicacionais produzidas a partir das diferentes perspectivas quanto a esta tragédia qual o mundo sofreria em alguns dias, sendo adotado as mais diferentes formas de defender um posicionamento quanto ao caso, incluindo assim o posicionamento negacionista da mídia. A cena do reality “Kick the Comet”, é uma das encenações que correspondem a forma tendenciosa que a mídia pode agir tendo em vista apenas o entretenimento, podendo transformar eventos graves em espetáculos visando a audiência e descartando assim quaisquer atitudes ligadas a uma devida seriedade. Desta forma, a ideia obtida por meio desta dramatização, é quanto a manipulação midiática, podendo afetar as percepções e reações do público.
Sendo assim, o filme “Não Olhe para Cima” de Adam McKay retrata aos espectadores a respeito da mídia como instrumento manipulável, tornando-a uma ferramenta para a criação de um cenário sensacionalista sob a situação de destruição do planeta, tal que com a disseminação desta informação poderia causar certa histeria, fazendo com que o governo utilize assim dos meios de comunicação de massa para manter o controle da situação, bem como da sociedade.
Desta forma, a negação da ciência e a influência da mídia movem o filme para o final catastrófico e objetivado pelos grandes governantes, declarando assim a população como potenciais a influência, estes de forma passiva. Portanto, o longa-metragem ilustra como a mídia é capaz de moldar a percepção pública, além de manipular as respostas coletivas aos devidos eventos críticos, o que, consequentemente, adverte-se a respeito da importância de um pensamento crítico, bem como uma compreensão sólida da utilização dos meios de comunicação para a sociedade.
Escrito por Barbara Evely e Christian Pinheiro.
REFERÊNCIAS
ADOROCINEMA, 2021. Não Olhe Para Cima. Disponível em: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-281330/. Acesso em: 24 maio 2023.
RIBEIRO, Pedro Henrique. Não Olhe Para Cima — Filme da Netflix Ganha Trailer Hilário e Pôster. Omelete, 2021. Disponível em: https://www.omelete.com.br/filmes/nao-olhe-para-cima-trailer#:~:text=Escrito%20e%20dirigido%20por%20McKay,tem%20um%20canal%20no%20Telegram!. Acesso em: 24 maio 2023.
WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. 3º Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.