“O meio é a mensagem”: 1984 e Big Brother Brasil

lucas santiago
teorias-comunicacao
3 min readJun 12, 2023

A frase ”O Meio é a mensagem”, cunhada pela escola de Toronto, composta por Harold Innis e Marshall McLuhan nas décadas de 50 e 60, destaca a influência dos meios de comunicação e tecnologias na sociedade.

Inventor Hugo Gemsback com seus óculos de televisão. Foto: Alfred Eisenstead.

A teoria criada por McLuhan vai além dos meios convencionais e engloba todas as formas de mídia que surgem como novas tecnologias, provocando transformações profundas na organização social. McLuhan introduziu o conceito de “aldeia global” muito antes da existência da internet e das redes sociais, reconhecendo o potencial revolucionário dessas tecnologias. Segundo ele, o meio não apenas transmite mensagens, mas também molda a cultura e a experiência humana, sendo a forma de transmissão tão relevante quanto o próprio conteúdo. McLuhan também introduziu os conceitos de “veículos quentes” e “veículos frios”, descrevendo como diferentes meios de comunicação influenciam nosso envolvimento e percepção da informação. Meios “quentes” como rádio, cinema e fotografia são menos abertos à interpretação, enquanto meios “frios” como telefone e televisão permitem uma participação mais ativa do receptor no processo de processamento da informação.

A obra “1984” de George Orwell apresenta elementos que se conectam com os conceitos de McLuhan. O romance retrata uma sociedade controlada pelo regime totalitário do Big Brother, na qual telas de televisão em todos os lugares monitoram, manipulam e controlam a população. O protagonista trabalha no “Ministério da Verdade”, produzindo propaganda para o governo, alterando documentos passados e moldando a percepção da realidade. Surge também a polícia do pensamento, como o próprio nome diz, responsável por antecipar ideias de contravenção e rebeldia. Essas tecnologias e meios de comunicação presentes na trama reorganizam a vida dos cidadãos, influenciando sua relação com o governo, modo de pensar e agir. Além disso, o conceito de vigilância e controle do Big Brother inspirou o reality show de entretenimento televisivo de mesmo nome, demonstrando como os meios de comunicação podem reproduzir e adaptar essas ideias em diferentes contextos e propósitos.

Cena do filme 1984 e imagem promocional do Big Brother Brasil. Reprodução: Columbia Pictures/Globoplay.

O Big Brother Brasil ilustra o fenômeno apresentado por McLuhan de que novas tecnologias comunicacionais resultam em novos valores e comportamentos sociais, destacando o impacto da televisão na criação de uma cultura visual e em como se dão as interações e comunicações humanas. O programa, que pode ser visto tanto como mero entretenimento televisivo quanto como uma grande plataforma para anúncios publicitários que inadvertidamente atingem o receptor, levanta questões sobre privacidade, autenticidade das interações e os efeitos psicológicos da exposição midiática em larga escala.

Embora o programa tenha perdido audiência ao longo dos anos na televisão aberta, é possível que o público tenha migrado para outros meios de consumo, em vez de abandonar o programa. As interações do público por meio de votações demonstram como a mensagem é recebida de maneiras distintas, dependendo dos meios e das pessoas que os utilizam. Um exemplo recente da edição de 2023 foi a preferência do público nas enquetes da rede social Twitter, que indicavam a participante Domitila como favorita, enquanto o público que votava efetivamente no programa a eliminou e escolheu outro vencedor. Esse caso evidencia como a informação pode ser percebida de forma diferente conforme o meio utilizado. Essa situação também exemplifica o conceito de ‘aldeia global’ proposto por McLuhan, em que a mesma informação chega a diferentes meios e, dependendo desses meios, afeta as pessoas de maneiras distintas. O modo como a informação é apresentada em um jornal impresso pode impactar as pessoas de forma diferente daquelas que a obtêm pela televisão ou pelas redes sociais, demonstrando a influência dos meios de comunicação na percepção e na recepção da mensagem.

Autores: Juan Pablo Reis da Silva e Lucas Wilson Fernandes Santiago

Referências:

Martino, Luiz. (2019). Pensamento comunicacional canadense: as contribuições de Innis e McLuhan.

MCLUHAN, Marshall. Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem (Understanding Media).12ª ed. São Paulo: Cultrix, 2002.

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