Zoe Cartagenova
teorias-comunicacao
4 min readDec 13, 2019

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Paradigma da Complexidade e a Sociedade dos Poetas Mortos

Sempre escutamos que teoria e prática são coisas muito distintas. Geralmente, quem se considera bom em uma, não diz o mesmo sobre a outra. Escolha qual seu ponto forte. No entanto, os sábios de antigamente, que produziam as ciências e as artes, circulavam por diversos campos de conhecimento. Platão, por exemplo, era filósofo e matemático. Leonardo da Vinci foi pintor, escultor, engenheiro e cientista. Ou seja, podemos notar que ambos transitaram em áreas que parecem se dissociar, mas que, integraram esses conhecimentos e souberam criar produtos a partir da relação entre pensamento e ação.

No século XVII, com a Revolução Científica Moderna, também conhecida como a “era das especializações” e, posteriormente, com a Revolução Industrial, na metade do século XVIII, houve a separação das ciências e a quebra do pensamento renascentista da época. Foi então que o filósofo, sociólogo e escritor, Edgar Morin, elaborou uma obra durante muitos anos para criar um método que unisse os saberes. Fez uma forte crítica sobre o reducionismo dos estudiosos da época, que entendiam o conhecimento como algo imediatista, mecânico, padronizado e exato. Então, em vez de simplificarmos o objeto, deveríamos ampliar nossa visão sobre ele. Seu método funcionava quase como um processo de dinamização do conhecimento. Ele acreditava que não deveríamos fragmenta-lo e sim, articula-lo. De modo que os diferentes ramos científicos dialoguem entre si para que consigamos interpretar melhor a realidade. Isso foi chamado de “Pensamento Complexo” ou “Paradigma da Complexidade”.

Em 1989, estreava “Dead Poets Society” ou “A Sociedade dos Poetas Mortos”, um filme dirigido e roteirizado por Peter Weir e Tom Schulman, altamente premiado e vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original em 1990. Atualmente é uma obra cinematográfica bastante popular, aclamada, muito resenhada na internet e usada como uma ferramenta de reflexão metodológica nas escolas. O filme se passa numa instituição de ensino médio tradicional e conservadora dos Estados Unidos, chamada Academia Welton. Os quatro maiores princípios que constroem a narrativa de todo o corpo docente, são:

• Honra

• Tradição

• Disciplina

• Excelência

Tudo começa quando John Keating, que há muitos anos atrás havia sido ex-aluno da Academia, retorna à escola para lecionar como professor substituto de literatura. Antes dele aparecer na sala de aula pela primeira vez, há três cenas onde mostram claramente que os métodos dos outros professores consistiam em ameaçar tirar ponto dos alunos, a repetir tudo que eles falam em voz alta, e a sobrecarrega-los com trabalhos enormes para entregar no dia seguinte.

Quando o Sr. Keating faz sua primeira aparição, tudo muda. Ele tinha uma forma de abordar o conhecimento que era considerada fora da curva. Quebra paradigmas ao ensiná-los em sua primeira aula o que era Carpe Diem (importante ressaltar que os levou para fora da sala de aula) e isso, de certa forma, instigou os alunos. Todos estavam curiosos sobre o novo professor. Uma das cenas mais icônicas do filme, é quando o Sr. Keating sobe na mesa e pergunta aos alunos o que ele estava fazendo lá. Dalton, um dos alunos, responde: “Pra se sentir mais alto”. E o professor agradece a participação e diz “Estou aqui, para me lembrar que devemos constantemente olhar as coisas de maneira diferente. O mundo parece ser bem diferente daqui de cima.” Ele convida todos a subirem na mesa também… “Ousem avançar e encontrar novos pontos de vista”. Após os alunos procurarem o antigo anuário do Sr. Keating, descobrem sobre “A Sociedade dos Poetas Mortos” onde eles irão integrar teoria e prática, e é justamente nesse momento que percebemos a presença do pensamento complexo.

Eles iam para uma gruta na floresta aos arredores da escola e buscavam, através da poesia, captar a essência da vida. Liam grandes poetas mas também compartilhavam suas próprias poesias, era uma válvula de escape para aqueles estudantes vítimas do sistema de ensino militarizado da escola. Lá eles conseguiam se expressar de forma autêntica. Tudo isso graças a diferença da metodologia de um único professor, que transformou a vida daqueles alunos e a maneira como eles compreendiam o conhecimento.

No final do filme, quando o Sr. Keating é demitido pelos seus métodos de ensino não-ortodoxos, outro professor o substitui e pergunta: “O que é poesia?”. Então pede para que os alunos abram seus livros e que um deles faça a leitura do conceito. Em seguida, o aluno sobe na mesa e diz: “Oh Capitão, meu Capitão”. Fazendo homenagem a fala emblemática do Sr. Keating, durante o filme. O restante dos alunos também sobem na mesa e repetem a fala. Essa cena traduz todo o aprendizado que eles tiveram durante as aulas de literatura, sobre fazer algo que nunca pensaram em fazer antes, sobre pontos de vista diferentes embora estivessem analisando o mesmo objeto, sobre pensar por eles mesmos. Valorizando todo o aprendizado que os foi transmitido.

[…] o paradigma emergente busca provocar uma prática pedagógica que ultrapasse a visão uniforme e que desencadeie a visão de rede, de teia, de interdependência, procurando interconectar vários interferentes que levem o aluno a uma aprendizagem mais significativa, com autonomia, de maneira contínua, como um processo de aprender a aprender para toda a vida (BEHRENS, 2013, p.111).

Autores: Elena Zoe e Vítor Queiroz

Referências

http://www.uniararas.br/revistacientifica/_documentos/art.4-001-2013.pdf

https://pgl.gal/os-7-saberes-necessarios-a-educacao-do-futuro-segundo-edgar-morin/

http://anniebitencourt.com.br/vai-uma-pipoquinha-ai-006/

https://andragogiabrasil.com.br/sociedade-dos-poetas-mortos/

https://www.google.com.br/amp/s/www.minhaseriefavorita.com/2019/07/25/a-sociedade-dos-poetas-mortos-vc-ja-viu/amp/

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