Teoria do agir comunicativo e o Hip Hop.

Patrícia X Patrocínio
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4 min readDec 11, 2019
Racionais Mc’s

Quem nunca ouviu falar sobre o Hip Hop? Popularizado nos guetos Nova yorkinos com a intenção de diminuir as mortes entre os jovens de gangues que ali viviam, desde o inicio o Hip Hop, seja pelo break, rap, batida ou grafite tem como objetivo principal resgatar uma camada de jovens socialmente excluída.

O Hip Hop está presente no contexto urbano e se apresenta como ferramenta de resgate social e de enfrentamento dos problemas urbanos de uma classe social. O Hip Hop desenvolve a autoestima, ressignifica o ato de vestir, de se enxergar como indivíduo no mundo e estimula a prática da responsabilidade social pelo próximo. Além disso, os elementos presentes no cotidiano dos “marginalizados” pelas outras camadas da sociedade ganham valor quando entram em contato com a cultura Hip Hop.

Para Habermas, ação comunicativa é:

Forma de interação social em que os planos de ação dos diversos atores ficam coordenados pelo intercâmbio de atos comunicativos, fazendo, para isso, uma utilização da linguagem (ou das correspondentes manifestações extraverbais) orientada ao entendimento. À medida em que a comunicação serve ao entendimento (e não só ao exercício das influências recíprocas) pode adotar para as interações o papel de um mecanismo de coordenação da ação e com isso fazer possível a ação comunicativa (HABERMAS, 1997, p.418, apud SILVA; GASPARIN, 2006, p.6.)

Emicida

A linguagem do Hip Hop é expressa na dança, na música, no grafite e dissemina uma mensagem que o torna algo maior do que apenas um gênero musical, sujeitos a margens da sociedade transformam sua realidade social e histórica em expressão artística. Se levarmos em consideração que o Hip Hop é popularmente conhecido como cultura marginal ou de rua, podemos considerar também que ele é capaz de dialogar com uma juventude imersa nesse contexto, privada de inúmeros serviços básicos de qualidade e marcada pela exclusão social. Não há dúvidas que o movimento Hip Hop é emancipador e traduz essa capacidade nas ações dos indivíduos e nas mudanças de comportamento promovidas na vida daqueles que já nascem com destinos estabelecidos. Alternativa para os jovens sairem da criminalidade, do abuso de drogas ou de outros inúmeros problemas presentes em contextos de vulnerabilidade, a mensagem presente no Hip Hop é capaz de convencer sem coagir os sujeitos a se tornarem agentes transformadores dos contextos em que eles estão inseridos. No trecho da música Triunfo de Emicida isso é exemplificado:

Uns rimam por ter talento, eu rimo porque eu tenho uma missão. Sou porta-voz de quem nunca foi ouvido, os esquecidos lembram de mim porque eu lembro dos esquecidos tipo embaixador da rua.

Segundo Silva e Gasparin (2006) a respeito da Linguagem: podemos considerá-la como toda e qualquer forma de comunicação que pode modificar o comportamento.

Rael da Rima, Emicida e Mano Brown

Habermas compreende o entendimento como a capacidade que algo tem de ser considerado apenas pelos argumentos, convencimento e por nenhum outro motivo, resultado de diferentes pontos de vistas e intenções, é aquilo que ouvinte acredita e orienta o seu agir a partir do que foi acertado em uma interação. Quando aproximamos a teoria do agir comunicativo ao Rap percebemos a capacidade que a cultura Hip Hop, de um modo geral, tem de transformar indivíduos justamente pela compreensão de entendimento defendido por Habermas.

Quando uma mensagem é entendida ela é capaz de modificar o comportamento, traduzi-la em ação. Observamos isso na citação de Emicida. No trecho, o rapper apresenta a ideia da prática de responsabilidade social presente no Hip Hop. Portanto, a mensagem no Hip Hop conseguiu convencer Emicida e transformou o seu agir apenas por convencimento dos argumentos apresentados pela cultura através de suas linguagens (rap, break ou grafite) ao indivíduo, é o que Habermas define como ação comunicativa. Outro exemplo é o comprometimento com o Rap presente na letra do saudoso mano Sabotage. Uma vez que ele entende que o Hip Hop salva vidas, o rap se torna um compromisso.

“O rap é compromisso, não é viagem.”

Autoras: Patrícia Xavier Patrocínio, Victoria Fernanda e Sophia Bezerra.

Referências:

SILVA, Márcia; GASPARIN, João Luiz. A teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas e suas influências sobre a educação escolar. Universidade Estadual de Maringá — Pr. (2006)

PERSH, Danilo. A teoria o agir comunicativo e a formação do sujeito moral. Universidade do Estado do Mato Grosso- UNEMAT. (2010)

ALVES, Adjair. Hip-Hop e linguagem, hip-hop é a linguagem. Revista Diálogos. N°4. Garanhuns, PE. (2011).

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