Teoria empírico-experimental aplicada ao filme “Ele está de volta”.
Após as Revoluções Industriais iniciadas no século XVIII, foi possível perceber o progresso e avanço científico-tecnológico dos meios de contato com as massas e das formas de fazer comunicação. É nesse contexto e com o período das Guerras Mundiais que as teorias comunicacionais são elaboradas, há o surgimento de novos métodos de persuasão e a intensificação da aplicação dessas teorias aos meios de comunicação em massa.
Uma dessas teorias comunicacionais é a empírico-experimental (teoria da persuasão) a qual é formulada na década de 40 no período de abandono parcial da teoria hipodérmica — método focado nos meios de comunicação em massa, sem presença de pesquisa empírica, responsável pela formulação de mensagens universais e seguidora do modelo behaviorista de estímulo e resposta.
Diferente da teoria hipodérmica, os estudos empírico-experimentais são uma reunião de micro pesquisas específicas, estudos psicológicos que se preocupam em explorar as características dos destinatários, a busca pela adequação às especificidades individuais e o rastreio da compreensão dos fatores psicológicos relativos à audiência como exposição, recepção e memorização seletiva. Além disso, a teoria empírico-experimental pode ser considerada uma reformulação da teoria hipodérmica por seguir a mesma estrutura lógica: causa(estímulo), processos psicológicos e efeitos(respostas).
O uso da teoria da persuasão se intensificou com a aplicação dessa tese às notícias de rádio e às propagandas publicitárias que eram os principais meios de comunicação em massa no contexto da Segunda Guerra Mundial. Nesse cenário, a teoria era usada em campanhas políticas para disseminar os discursos políticos dos governos mais aceitos pela população. É importante pontuarmos que no período da Segunda Guerra Mundial havia uma grande produção de discursos na Europa favoráveis à xenofobia e ao antissemitismo, além de que as propagandas eram feitas de acordo com a opinião pública visando persuadir as minorias que tinham posicionamento impopular.”
Assim, fica perceptível que a abordagem empírico-experimental pode ser usada de diversas formas e ser aplicada aos diversos canais de comunicação garantindo a sua eficácia por, principalmente, se adequar aos aspectos do público e compreender o campo psicológico. É seguindo essa lógica, levando em consideração a tese da persuasão aplicada aos discursos políticos, que podemos analisar o filme alemão “Ele está de volta (Er ist wieder da)”, lançado em 2015 e dirigido por David Wnendt.
O enredo se desenvolve na Alemanha, mais especificamente em Berlim, no ano de 2014 baseando-se no cenário hipotético de como as pessoas agiriam, caso Adolf Hitler — ditador alemão nazista — voltasse à vida após os 70 anos que sucederam o Nazismo. Além disso, é possível entrarmos em contato com a prática dos métodos de persuasão através das situações que compõem o filme.
Nos primeiros minutos do filme é possível identificar Hitler reclamando por não ser cumprimentado e reverenciado pelas pessoas com o levantamento da mão direita como ocorria no período do Nazismo. Além disso, é possível perceber que o ditador cita a existência de inimigos nacionais, fica desajustado ao mundo contemporâneo e atrai olhares curiosos por onde passa.
Com o decorrer da trama, é possível perceber que quando Hitler expressa os seus discursos nacionalistas, xenofóbicos e antissemitas, há em certa medida um desprezo e deboche por parte dos ouvintes. Na sequência, o ditador percebe certa familiaridade entre suas ideologias e as opiniões populares quando realiza pesquisas com a população e se propõe a ouvir o que os alemães tem a dizer em relação às questões sociais.
Após fazer as pesquisas, Adolf procura um veículo de comunicação de massa que possa ser usado para propagar as suas ideias. O meio comunicacional escolhido pelo ditador, é uma emissora televisiva que concorda em ceder espaço em um dos seus programas de humor para que Hitler possa discursar livremente e para o amplo público. É nesse momento que podemos ver a exposição seletiva, um dos processos empírico-experimentais, sendo aplicada quando Adolf discursa sobre assuntos lineares à opinião popular e os ouvintes se tornam mais suscetíveis a concordar com o discurso devido à presença de pontos semelhantes.”
Outro processo persuasivo representado no filme é a normalização das declarações de Hitler à medida que o público entra em contato com as falas, configurando o efeito latente (sleeper effect) — a eficácia persuasiva tende a aumentar em função do tempo e à exposição ao tema. Além disso, é possível citarmos a questão da recepção seletiva e em como o humor é usado como uma cortina de fumaça para os discursos de ódio do ditador, já que a interpretação individual tem a capacidade de transformar e modelar o significado das mensagens.
Fica evidente, portanto, que o filme exibe a prática de alguns dos métodos persuasivos aplicados à construção da comunicação com o público, aos discursos e às mensagens transmitidas por meio dos veículos de comunicação popular, além de evidenciar a eficácia da teoria em relação à persuasão individual e coletiva facilitada pelos fatores psicológicos.
Autores: Geovana Fonseca Amâncio e Marco Aurélio Winholt Castro
Referências
FILMES, Santana. Filme: Ele esta de volta. YouTube, 11 de dezembro de 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Q6qzESVhvYM>. Acesso em: 26/07/2022.
PORTO, Gabriella. Teoria Hipodérmica. InfoEscola. Disponível em: <https://www.infoescola.com/comunicacao/teoria-hipodermica/>. Acesso em: 26/07/2022.
TEORIA EMPÍRICO-EXPERIMENTAL. Comuniqueiro, 2021. Disponível em: <https://comuniqueiro.com/blog/Teoria-Empirico-Experimental>. Acesso em: 26/07/2022.
AS TEORIAS DA COMUNICAÇÃO PT II. Mundo Acadêmico RP. 2016. Disponível em:http://mundoacademicorp.blogspot.com/2016/02/as-teorias-da-comunicacao-pt-ii.html. Acesso em: 02/08/2022
