Teorias da comunicação nas estratégias de engajamento da Fórmula 1

Laura Santiago
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5 min readSep 12, 2022

Durante muitos anos, o automobilismo era um esporte relacionado a homens maduros e ricos. Atualmente, o cenário mudou, exceto pelos valores dos ingressos, que continuam com preços altos. Uma pesquisa feita pela própria F1 apontou que os jovens são agora a maioria dos espectadores: cerca de 63%, têm menos de 34 anos.

É possível observar que, nos últimos anos, houve uma clara mudança de estratégia em relação ao engajamento de fãs na Fórmula 1. A chegada de espectadores mais jovens têm ligação com dois elementos fundamentais na busca pelos mais jovens: os videogames e a Netflix.

Dentro desse contexto, a série Drive To Survive produzida pela Netflix apresenta ao público os momentos mais enérgicos da temporada passada, mostrando o dia a dia dos pilotos e chefes de equipe, e, claro, a disputa intensa entre eles.

Em 2022, a 4° temporada trouxe a memorável disputa entre Lewis Hamilton e Max Verstappen, em que ambos chegaram ao último Grand Prix empatados. O último GP da temporada, em Abu Dhabi, teve uma das maiores audiências da história da Fórmula 1.

Umas das ferramentas mais lucrativas na divulgação de Drive To Survive foram as redes sociais, conduzidas pela Netflix e pela própria Fórmula 1.

A Betway publicou alguns infográficos para facilitar o entendimento, em números, do crescimento da Fórmula 1 nos últimos anos.

Fonte: F1, Nielsen, Netflix, FlixPatrol. Betway.

Já no Brasil, além de todo o engajamento das redes sociais, a mudança de emissora contribuiu para o alcance de um público maior. A adoção de uma nova estratégia, o maior tempo de transmissão e a cobertura detalhada dos GPs atraiu ainda mais a atenção do público mais jovem.

Com a expansão mundial de fãs do esporte, houve também um crescimento exponencial da audiência na televisão.

Fonte: F1, Nielsen, Netflix, FlixPatrol. Betway.

Além disso, os videogames e eSports vem desempenhando um papel muito importante quando se fala de engajar. Os games da F1 cresceram em interesse e contam com maior potencial para os próximos anos, atraindo pessoas que também sonham em pilotar um carro de F1, mas de forma virtual.

A The Insights Family apresentou, em 2021, um aumento de 17% em seu público entre 12 e 18 anos, em relação ao ano de 2020. Números maiores do que o futebol, que cresceu 6% nesse mesmo período. Demonstrando que os investimentos em games e conteúdo digital tem rendido bons resultados para a atração de novos públicos. Levando, inclusive, ainda mais pessoas para os autódromos.

Fonte: F1, Nielsen, Netflix, FlixPatrol. Betway.

As estratégias de engajamento na F1 não atraíram apenas o público mais jovem, como também o olhar de grandes patrocinadores. A questão é: o que esses patrocinadores pensam em relação às manifestações sobre questões sociais realizadas pelos pilotos?

A resposta veio em forma de uma regra aplicada aos atletas, em que os pilotos que terminarem a corrida na primeira, segunda e terceira posições devem permanecer vestidos após a corrida até o momento das entrevistas. Uma das razões dessa regra seria para não cobrir os patrocínios.

A resposta não foi bem recebida pelo público, principalmente pelo fato da regra surgir após o piloto britânico Lewis Hamilton subir ao pódio com uma camisa escrito “prendam os policiais que mataram Breonna Taylor”, em 2020.

Imagem: Daily Mail

Ao analisar o panorama, é evidente que as relações públicas, tanto das equipes de Fórmula 1 quanto da própria Federação Internacional de Automobilismo (FIA), adotaram um bom planejamento de estratégias para que as funções de comunicação fossem promovidas com excelência. Cumprindo com o objetivo de identificar o interesse privado, executando um programa de ação que teve como objetivo conquistar novos públicos, tendo em vista o engajamento do esporte.

No entanto, é notável que algumas questões envolvendo a opinião pública ainda deixam a desejar. Sempre que há um evento sem clímax assistido por todo o mundo, a reação do público é de amargor. Afinal, os fãs ficaram sem o momento pelo qual esperaram e investiram tempo, dinheiro ou os dois para ver uma corrida. A questão do que aconteceu na Bélgica em 2021, passa a ser discutida por muita gente pela perspectiva da decepção. Deveriam correr ou não? Mas o ponto principal não deveria ser esse.

O que passou em Spa-Francorchamps foi uma fatalidade climática. Era óbvio que não era possível enxergar e o trecho mais perigoso da pista apresentava um insistente ponto de aquaplanagem (fenômeno que acontece quando o veículo, ao passar por uma pista molhada, perde o atrito com a pista), como ficou visto no acidente grave na W Series, que também teve batida.

A questão é: como a Fórmula 1 e a FIA procederam ao longo deste fim de semana de maneira exótica ao permitir que a classificação fosse em frente e não acionar a bandeira vermelha (parar a corrida), mesmo após os pilotos relatarem que a pista estava perigosa. Instantes depois Lando Norris, piloto da McLaren, aquaplanou na subida da Eau Rouge (uma das curvas mais perigosas da F1) e bateu no muro com violência. E somente neste momento a bandeira vermelha entrou em cena. Ou seja, o limite para interromper uma corrida era um acidente.

No fim das contas, a Fórmula 1 foi desonesta com o público. O plano nesse fim de semana era torcer para a chuva diminuir. Se isso não acontecesse, como não aconteceu, tudo seria o resultado de um esquema de relações públicas para parecer que tudo estava sob controle de uma situação que era, na verdade, incontrolável.

Apesar de tudo, ao analisar o panorama, é evidente que as relações públicas, tanto das equipes de Fórmula 1 quanto da própria Federação Internacional de Automobilismo (FIA), adotaram um bom planejamento de estratégias para que as funções de comunicação fossem promovidas com excelência. Cumprindo com o objetivo de identificar o interesse privado, executando um programa de ação que teve como objetivo conquistar novos públicos, tendo em vista o engajamento do esporte.

Autores: Laura Santiago e Bruna Marques

Referências

SILVA, Sandro Takeshi Munakata da. Teorias da comunicação nos estudos de relações públicas. Porto Alegre : EDIPUCRS, 2011. Pag. 45–67.

CANDIDO, Júnior. Drive to Survive e os games ajudam a Fórmula 1 a expandir seu público. Arkade, 2022. Disponível em: https://www.arkade.com.br/drive-to-survive-e-os-games-ajudam-a-formula-1-a-expandir-seu-publico/. Acesso em: 20/07/2022.

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