Isaias Santana
teorias-comunicacao
5 min readNov 14, 2017

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Tropa de Elite 2: uma visão teórica e crítica indutiva do sistema de interesses individuais.

Existem vários tipos de notícias, no filme “Tropa de Elite 2: o Inimigo agora É Outro” (2010), há um fato que gera uma enorme bola de neve por ter divergido com algumas vertentes dos Direitos Humanos, mesmo que sem intenção. Referindo-se a um acontecimento de quatro anos atrás, representado nos primeiros 20 minutos. Fato que mudou totalmente a vida do Capitão Nascimento (interpretado por Wagner Moura), que foi aplaudido por pessoas que o apoiaram no término da operação em questão, enquanto outras pessoas o condenaram pelo feito, devido as notícias publicadas. O fato ocorreu durante uma rebelião na penitenciaria de segurança máxima Laércio da Costa Pellegrino, mais conhecida como Bangu 1, prisão com os 40 maiores infratores do Estado do Rio de Janeiro em que o B.O.P E. (Batalhão de Operações Policiais Especiais) foi chamado para apaziguar a situação, assim como Diogo Fraga (Interpretado por Irandhir Santos) representante dos Direitos Humanos.

Alguns carcerários foram feridos e outros feitos de refém, mas Fraga tenta solucionar o problema articulando com os meliantes, tudo acontece como planejado os reféns são soltos, mas o líder da rebelião morre, deixando uma poça de sangue que acabou manchando a camisa do Fraga, que por coincidência vinha com os dizeres “human rights aid” / “direitos humanos ajudam” fazendo referência a causa que o mesmo defendia. Devido ao fato, as notícias publicadas não foram das melhores, principalmente para o Capitão Nascimento.

Por ter dizeres em inglês, a notícia foi manchete no mundo todo, isso de maneira tendenciosa, pondo em questão a violência por parte da polícia brasileira alegando que houve execução, um verdadeiro massacre por parte do batalhão para eliminar alguns presos, deixando de lado o fato dos próprios presos terem causado suas sentenças fazendo reféns e iniciando a rebelião. Após o fato ainda naquele dia, Fraga afirmou o quão a polícia é mais violenta do que aqueles que são presos por serem violentos, usou do símbolo do B.O.P.E. que por ser uma caveira, faz referência a violência e o fator principal dos policiais usarem preto ser a morte de suas vítimas.

A realidade é que a situação do capitão Nascimento poderia ser evitada, afinal tudo que têm valor de notícia passa por um processo de escolhas, escolhas essas que aos poucos afunilarão tudo o que foi recebido até o produto final, as quais não são feitas pelos jornalistas diretamente, como muitos acham, inclusive devido a teoria do Gatekeeper do psicólogo Lewin que menciona que todo o furo desde sua matéria prima é de responsabilidade do Jornalista (na maioria das vezes), mas infelizmente são feitas em prol de ganho aquisitivo para as emissoras de notícias, ou seja, o jornalista é apenas mais uma vítima do sistema de interesses próprios, com exceções, claro.

Tais matérias quando compartilhadas têm alcance de maior relevância do que o próprio fato a ser transmitido, formando clãs de resistências e clãs passageiros que entre si partilham da mesma ideia, assim surgiram aqueles apoiadores dos Direitos Humanos e também a Força Policial, ou seja, uma simples notícia transmitida como essa foi capaz de mudar trajetórias práticas e teóricas, afinal lutar para defender ideais acontece desde sempre com ou sem derramamento de sangue.

É o quarto poder da sociedade: A Mídia.

O newsmaking e o gatekeeper demonstram com clareza essa força de transformações culturais, uma fabricação de realidades sendo justo dizer que unem natureza e racionalidade com a emissão de notícias. Um totem, “O totemismo elabora um sistema recíproco de classificações que articula séries paralelas de diferenças e semelhanças entre natureza e cultura.” (ROCHA, 2000, p. 25)

E você já parou para pensar quão propositais são alguns “erros” publicados?

Ao nos depararmos com notícias é normal que queiramos compartilhar o recebido, certo, afinal, o ser humano é um ser sociável. Porém, como pessoas são diferentes, a maneira como veem o mundo é diversificada. A todo momento grupos são formados ou desintegrados por essa divergência de opiniões. Uns unem-se por dividir da mesma ideia, outros estapeiam-se e existem aqueles que temem.

Todos os dias ouvimos, sentimos e visualizamos informações novas. Como filme, música, entrevista jornalística, matéria policial, burburinhos. Somos bombardeados por todos os lados pelas mídias digitais e impressas com conteúdos fresquinhos. Por isso há aqueles que se acham “os donos da verdade”. Gabam-se por possuir o poder da Informação, mas se esquecem que ter informação não é necessariamente ter conhecimento. Acredito que aqui fica claro, ou pelo menos nos remete ao que tanto se comenta hoje: o senso comum. Mas não apenas o senso comum e sim o Senso Comum de Interesses. De um lado a suposta maioria e do outro as minorias, não existe imparcialidade, existem lados.

É comum a batalha entre lados como, por exemplo, este clássico: Correto contra Corrupto. O Capitão Nascimento, ou melhor, o Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro ainda no filme Tropa de Elite 2 , em um dado momento, anos após os acontecimentos do primeiro longa, viu-se taxado como um fantoche humano ou narcotizado de sanidade prática, pois a corrupção ocorria de uma maneira tão grande no corredor patriarcal policial que aqueles que não compartilhavam das mesmas ideias eram taxados como traidores, contra o “movimento”.

É algo recorrente, provavelmente existente em todos os setores da sociedade, é um reflexo de um mundo que todos têm interesses e os que interferem os interesses alheios são exonerados do meio social. E isso pode ser colocado em potencial comparação com a Espiral do Silêncio, em determinadas realidades, quanto mais você caminha na mesma estrada do próximo, mais você obtém força e apoio para falar, do contrário o espaço e o tempo de fala na sociedade enfraquecem, assim o silêncio reina, mesmo que carregue contigo conhecimento e sabedoria. Ou seja, ou você a favor ou contra.

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