Dos meios às mediações

Gabriel Caldeira
Teorias da Comunicação
3 min readFeb 28, 2021

Uma breve passagem pela obra mais expressiva de Jesús Martín-Barbero.

Capa da edição brasileira de “De los medios a las mediaciones”.

Publicado em 1987 em Barcelona, e editado no Brasil em 1992 pela da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a notória obra de Jesus Martín-Barbero, De los medios a las mediaciones, trouxe grandes contribuições para os estudos comunicacionais latino-americanos. Além de ser responsável por gerir um sentimento de valorização para o trabalho científico latino-americano, Barbero se opõe a questões que envolvem processos elitistas de julgamento dos fenômenos socioculturais.

Nesta obra, Barbero expõe a impossibilidade de se compreender os fenômenos comunicacionais latino-americanos sem que se reconheça que as transformações culturais, os conflitos sociais e os processos de independência politica são fatores que moldaram a maneira de se comunicar da população latino-americana.

Assumidamente Marxista, o autor é crítico à teoria funcionalista, pois nela estariam enraizados valores elitistas da relação entre as classes sociais propagados desde o iluminismo, sendo somente as classes mais altas detentoras do exímio saber, enquanto o povo vivia fadado à alienação e ignorância. Barbero propunha a superação da teoria funcionalista, pois excluía toda a carga cultural de um povo que portador de um rico passado histórico. Seu olhar crítico perante os fatores históricos para se analisar fenômenos se deve principalmente por grande influência da obra de Walter Benjamin.

Barbero desaprovava as circunstâncias em que todo o conteúdo científico sobre comunicação era centralizado por pesquisadores centralizados no hemisfério norte, que aproveitavam de seu status para atenuar o conteúdo produzido fora de seu eixo de poder. Feito isso, a partir de seu encanto com a cultura, os costumes, e os movimentos sociais que presenciou em sua vinda à América Latina, Barbero desenvolveu uma teoria de mediação, que consistia na análise do discurso através dos meios, que resultava em uma análise profunda dos processos culturais populares e como esse fator influenciava diretamente na recepção da mensagem. Nesta teoria, os meios e o emissor perdem seu protagonismo de análise, dando espaço para o papel autônomo do receptor.

Barbero divide em duas fases os conceitos que envolvem a formação da cultura de massa e implantação dos meios comunicacionais latino-americanos. A primeira, que parte do período entre os anos de 1930–1950, revela o surgimento de uma classe que tem seu primeiro contato com os meios de comunicação ocorrente do êxodo rural, sendo este, um período crucial para o reconhecimento desse povo como nação. A segunda, situada na década de 1960, reconhecemos uma nação já habituada com os meios de comunicação e a vida em cidades, sendo esses locais, palcos para o estímulo a praticas consumistas. A predominância de propagandas que vendem estilos de vida considerados padrões pela sociedade. Observamos que se período, a sociedade se consolida através de fenômenos como o jornal, o rádio e a televisão.

O autor propõe que são três os lugares de mediação onde se é realizado a concretização cultural. O primeiro é a cotidianidade familiar, que consiste em nossa construção de nossos comportamentos como indivíduos em prol das instituições em que pertencemos e as pessoas que nos relacionamos. Seguido dela, temos a temporalidade social, está ligada a nossa contribuição à sociedade em que vivemos no capitalismo é sinônimo do tempo que passamos pra produção de capital para garantir nossas necessidades mínimas. Por último temos a competência cultural, que abordam todas as nossas experiências cotidianas e juntamente a experiência da interação interpessoal e a educação escolar.

Em Dos meios às mediações, o foco é o processo da mensagem, como ela chega ao receptor e como cada um a apreende de maneira única. A obra nos traz grandes reflexões sobre nosso papel social perante os meios de comunicação, e como é grande a necessidade de se explorar os vários eixos culturais ao redor do globo, pois há grande necessidade de se valorizar a pluralidade dos pontos de vista. Nota-se que a obra de Barbero não é vista com bons olhos por pesquisadores que possuem uma linha de pensamento conservadora, pois em seu trabalho ao colocar o cidadão e sua cultura em um papel de importância social entre os meios, se destrói a ideia histórica de que a grande massa sempre teve um papel inativo nas relações comunicacionais, seja em uma era em que se há uma grande diversidade de plataformas tecnológicas, ou mesmo em períodos históricos em que sempre lhe foram excluídas ou reprimidas suas experiências culturais.

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Gabriel Caldeira
Teorias da Comunicação

Brazilian social communication student at Federal University of Juiz de Fora, who enjoy discussing about music, television and pop cultural phenomena.