Raymond Williams: Principais contribuições para os estudos culturais

SAMUEL LACERDA CHAVES
Teorias da Comunicação
3 min readFeb 21, 2021

Raymond Williams foi um importante pesquisador e escritor nos estudos a respeito da cultura no século XX, no entanto suas contribuições sobre o assunto extrapolam unicamente o campo da filosofia e se enjambram desde as áreas de sociologia, passando pela literatura até os estudos de comunicação, portanto é difícil fazer uma abordagem concêntrica de suas contribuições acadêmicas a partir de uma visão monocentrada. Além disso, suas contribuições vão para além dos estudos culturais britânicos mas perpassam desde as teorias da comunicação até estudos sobre Marxismo. Por isso, nesse texto será abordado de maneira concisa algumas de suas principais preposições no estudo da cultura durante sua produção acadêmica ao longo do século XX sem grande aprofundamento em nenhum campo específico de estudos afim de descomplicar a abordagem de suas teorias.

“O erudito, o popular e a doce virtude da ignorância

Materialismo Cultural: O materialismo cultural se trata do estudo das tecnologias de criação de cultura, uma teoria enviesada de raízes materialistas marxistas, mas que sobretudo contrapõe com os preceitos da escola de Frankfurt sobre a visão da produção de conteúdos culturais pobres para massas passivas, sob prerrogativa de um efeito de domesticação. A teoria do materialismo cultural parte do pressuposto que a criação de qualquer produto cultural necessita, para além de inspiração divina e talento puramente, um fator laboral, que por sua vez exige uma determinação econômica e precificação do produto artístico ou cultural. Ou seja, a partir dessa perspectiva, a produção artística é também vista como um tipo de exploração de mão de obra, que embute em si custos de trabalho, insumos, interesse de mercado entre outros fatores que pertencem ao mundo material e econômico.

Williams visa justamente quebrar a ideia (preconceituosa) de que elementos de cultura de massa necessariamente tem menos qualidade, são alienantes, ou que a produção em escala necessita de um fator de “emburrecimento” para agradar as massas, enquanto a cultura erudita representa o sublime da criação artística humana. Ele se opõe a essa corrente ideológica e enxerga a criação cultural como uma construção pragmática e que depende de diversos fatores, que não necessariamente dizem respeito ao receptor ou ao autor, mas a produção do produto artístico/cultural em si. Ademais, suas considerações não ranqueiam a arte em melhor ou pior de acordo com sua origem, intuito, ou público alvo, mas pelo contrário enxerga a produção artística como um forma laboral e um setor econômico da sociedade como outro qualquer.

Os estudos culturais: Os estudos culturais surgiram no final dos anos 50 organizados através da chamada Escola de Birmingham, eles originalmente traziam uma herança do pensamento Frankfurtiano, mas renovando alguns conceitos chave. Seu objetivo primordial era entender as relações entre a cultura e a sociedade, e as relações de hierarquia, segregação e poder que aconteciam perante as percepções de culturas massificadas e eruditas (conceitos da Escola de Frankurt) e das relações antagônicas da disputa de classes dentro da seara da cultura, a qual era marginalizada ou exaltada de acordo com o lugar onde era produzida.

As colaborações de Williams para os estudos culturais britânicos são riquíssimas, ele primeiramente quebra com o termo “Cultura de massas” ou “produção de massa” pois se trata de uma abordagem que parte do pressuposto de que há uma elevação ou superioridade em quem identifica um conteúdo popular e o classifica como massivo. Em outras palavras, é preciso certo grau de arrogância para considerar um produto audiovisual de massa, pois para essa suposição é preciso que haja um produto superior, e além disso que haja um juiz que decida o que é erudito e o que é massificado. Williams propões então que se quebre a dicotomia que separa os padrões de produção cultural “boa” e “ruim”, a fim de que as colaborações artísticas para sociedade sejam vistas a partir de uma escala igualitária de importância.

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