Coragem para dialogar com os nossos monstros

Edu Alves
Terapeuta de Papel
Published in
4 min readAug 28, 2023

Todos nós temos dentro da gente algo que desperta sensações desagradáveis, aquelas que queremos deixar de ver ou reviver. Com o tempo, percebemos que sufocar tais sentimentos não faz com que aquilo perca força, como um vento que chega fraco na porta de casa. Pelo contrário, ganha mais potência e nos assombra ainda mais com seu zunido.

Acredito que dialogar com os monstros que moram no nosso íntimo é um ato de coragem em direção ao autoconhecimento. Quando fazemos isso, enfrentamos os nossos medos, dúvidas e angústias, permitindo-nos explorar os cantos mais profundos de nossa mente e alma. Nessa busca, encontramos a força necessária para compreender, aceitar e superar aquilo que nos aflige.

Por muitos anos, mantive a prática de escrever diários. Essa era uma forma de dar voz a esses sentimentos e pensamentos internos que, muitas vezes, ficavam soterrados pela agitação da vida cotidiana ou pelo meu desejo inconsciente de que eles sumissem feito fumaça no ar. Ali, o caderno que recebia essas palavras, tornava-se um fiel confidente. Ele “ouvia” sem julgamento e acolhia minhas inquietações com paciência e compreensão. Com o tempo, o exercício da escrita foi diminuindo, mas nunca cessou.

Percebi que, algumas vezes, convidar meus medos para um papo ao redor do caderno parecia tão difícil como quando eu me sentia obrigado a ir à terapia. Tinha a sensação que havia alguém me esperando lá dentro e não era a terapeuta, mas, sim, eles, os meus monstros.

Com a prática da escrita, percebi que não há confrontamento, se assim desejarmos. Podemos criar um espaço de diálogo, onde esses pensamentos podem ganhar espaço para se manifestar e serem acolhidos na sua integridade. Entenda: isso também é possível na terapia, mas, para mim, não há lugar mais íntimo que meu caderno. Depois que eu consigo escrever, eu sei que posso dizer, sem resistências.

Hoje gosto de estabelecer pausas entre meus registros, assim como passei a visitar mais vezes essas páginas para reler minhas palavras com amorosidade e compaixão. Decidi que o Edu que lê está mais adiante do que escreveu e pode fazer isso sem se julgar. Ele entende o que é o momento da escrita e a catarse que pode nos trazer. E que o que está ali revelado é parte das suas necessidades, inclusive da expressão de quem ele é.

Por isso, sigo encorajando que o caderno seja como uma mesa em um café gostoso ou aquele cantinho aconchegante de um bar que possui a bebida que você gosta. Convide, então, aquilo tudo que está dentro de você para esse passeio. É um ato de amor e de grande abertura consigo.

Esse encontro por meio da escrita se torna, então, um portal para explorar o tamanho real dos nossos monstros. Ao expressarmos nossos sentimentos no papel, damos vida a eles e os encaramos de frente. Iluminamos com a caneta os cantos escuros da mente e percebemos que a sombra que os medos fazem diminuem à medida que nos aproximamos do que eles, de fato, são..

Quer uma ajuda para pensar como esse encontro pode acontecer? Vou deixar alguns exercícios para que comece a praticar. E lembre-se: eu estou aqui para ouvir como foi a sua experiência.

Vamos lá?

Prática de Terapeuta de Papel #1 | Dando nome aos nossos monstros:

Escreva sobre o que deixa você com (nomear o “monstro”, ou seja, o sentimento, a sensação).

  • “Sinto esse monstro (o nome novamente) quando…” e escreva livremente sobre isso.
  • Busque soltar todo filtro (julgamento). Está só você e ele, conversando abertamente, sem julgamentos, em uma folha de papel.

Prática de Terapeuta de Papel #2 | O que te impede?

  • Liste o que percebe que esse monstro impede que realize.
  • Agora numere em ordem de prioridade.
  • Te convido a pensar (ou a escrever):

Quais habilidades possuo que podem ser úteis para que eu possa agir diante dessas sensações?

Como eu vou me sentir ao conseguir agir e realizar algo diante desse monstro?

O que eu posso fazer hoje para ter uma melhor relação com essa sensação?

  • Revisite esses pontos sempre que achar necessário.
  • Também sugiro que vá riscando de sua lista quando perceber que já superou ações que a impediam de agir diante dos seus monstros internos.

Prática de Terapeuta de Papel #3 | o que há de bom?

Conecte-se com o que há de bom para lhe fazer feliz. Pegue uma folha vazia e escreva livremente.

  • O que vem depois de ultrapassar esses monstros e criar com eles uma relação melhor?
  • Circule entre 3 e 5 principais.
  • Leve as principais para o seu mês e dia e busque vivenciá-las ou criar meios e recursos para que elas estejam na sua vida e possa experimentar as sensações que eles trazem.

Você vai reparar que seus monstros querem ser vistos e integrados. Dê espaço para isso.

Observação: ah, você não precisa fazer todos os exercícios de uma vez. Escreva no seu ritmo e encontre os melhores momentos para abrir espaço para esse mergulho interno.

Do meu caderno para o seu,

Edu Alves

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