Qual é o melhor lugar para fazer testes de usabilidade?

Elisa Volpato
TESTR
Published in
9 min readSep 4, 2016

Na praia? Quem sabe se tiver um bom wi-fi! :D

Depois de definir o seu objetivo com o teste de usabilidade (veja nosso passo-a-passo), é bom começar a pensar em questões práticas: onde fazer, como fazer e como registrar o teste.

Qual o lugar ideal para fazer o teste de usabilidade?

  • Do ponto de vista do participante que trabalha a semana toda, o melhor lugar é a casa dele, no final de semana.
  • Do ponto de vista de quem trabalha com teste de usabilidade, o melhor lugar é a sala de reunião do escritório (para não ter que se deslocar) ou direto do computador, sem ter que levantar da cadeira.
  • Do ponto de vista do cliente, o melhor pode ser uma sala de espelho porque ali ele consegue assistir tudo ao vivo sossegado, enquanto come salgadinhos.
  • Do ponto do seu chefe, a melhor opção é que a gera resultados mais rápidos e com o menor custo.

Para decidir onde fazer, é bom pensar em algumas coisas:

  • Se o participante vai ficar à vontade e agir naturalmente
  • Qual é o grau de profundidade necessário no teste
  • Se a equipe e os clientes vão conseguir acompanhar o teste
  • Se vai dar para registrar o que o participante fez em vídeo
  • Qual vai ser o tempo de dedicação da equipe
  • …e o custo do projeto.

Como você pode imaginar, não existe solução ideal em que você consegue falar com o participante por um tempão, ele fica totalmente à vontade, você consegue fazer um vídeo incrível e com um custo baixo. Mas o que você pode fazer é pesar as opções de acordo com o que é mais importante para o seu projeto. No gráfico abaixo, por exemplo, avaliamos do ponto de vista do conforto do participante e o custo do projeto (considerando que o tempo da equipe também é custo).

Gráfico com

A seguir, damos uma visão sobre 6 formas diferentes de fazer testes de usabilidade.

1. Sala de espelho

sala_espelho
Demonstração de teste em sala de espelho em uma das primeiras edições de nosso workshop de teste de usabilidade.

É clássico, é tradicional, é o que chamamos de laboratório de teste de usabilidade. É a imagem mental que muita gente tem de teste de usabilidade (e a mais comum em uma busca do Google). Há quem pense que é até a única de forma de fazer (dica: não é).

A sala de espelho é composta de duas partes, separadas por um espelho falso — de um lado é espelho, do outro é um vidro transparente (tipo Big Brother). De um lado, ficam o participante e o moderador. Do outro, os clientes e outras pessoas da equipe, assistindo tudo. Geralmente há uma vedação para isolar o áudio de um lado e de outro — quem está assistindo vê e ouve o participante, mas não o contrário.

Vantagens:

  • Várias pessoas podem assistir do outro lado, sem intimidar (muito) o participante
  • A infraestrutura facilita gravar vídeos ótimos.
  • É um ambiente controlado, sem muitas variáveis.
  • Lanchinhos infinitos geralmente estão inclusos na diária da sala.

Desvantagens:

  • É mais difícil deixar o participante à vontade com aquele espelhão atrás.
  • É um ambiente controlado demais e isso pode afetar a espontaneidade da pessoa (logo, afetar os resultados).
  • O aluguel da sala pode encarecer bastante o projeto.
  • Você precisa recrutar reservas — se alguém faltar, não dá para desperdiçar o tempo da sala.

2. Sala de reunião

sala_reuniao
Sala de reunião muito legal da House of Work. Repare na estrutura montada para gravar a tela do celular de cima.

É parecido com um teste em sala de espelho: você prepara uma sala especialmente para a pesquisa e chama o participante. A diferença é que é uma sala normal, sem aquela estrutura toda. Você pode aproveitar uma sala de reunião na sua empresa ou contratar uma sala de reunião em um co-working, por exemplo.

Mas e como outras pessoas vão poder acompanhar, sem o espelhão? O ideal é não deixar muita gente na mesma sala que o participante, para não virar um interrogatório. Então uma boa ideia é colocar sua equipe em conferência (via Skype ou Google Hangouts) para que possam ver a navegação e ouvir o participante.

Vantagens:

  • Você não precisa sair da empresa pra fazer os testes.
  • É um ambiente controlado, sem muitas variáveis.

Desvantagens:

  • Mais difícil para o resto da equipe acompanhar.
  • Demanda uma certa logística de organizar a conferência, checar se o áudio está funcionando (dica: não confie no wi-fi!).
  • Se a sala de reunião for dentro da sua empresa, o participante pode se sentir intimidado a reclamar do site.

3. Em locais públicos (teste de guerrilha)

Pessoas fazendo teste em café
Eu fazendo um teste de guerrilha para o TESTR, no Starbucks do Shopping Eldorado.

Quando você quer resultados rápidos para questões pontuais e não precisa de um perfil de público muito específico, testes de guerrilha podem ser bem úteis.
Neste caso, em vez de recrutar os participantes e marcar um horário, você vai até onde elas estão. O primeiro passo é procurar um lugar com um alto fluxo de pessoas que tenham “a cara” do seu produto. Pode ser um café, uma praça de alimentação de shopping, um parque, uma loja de departamentos (peça autorização!) ou mesmo a entrada de um metrô (desde que você não faça as pessoas perderem o trem!).

É bom escolher um lugar com wi-fi. Se não for muito barulhento e tiver um lugar para sentar, melhor ainda. No local, você aborda as pessoas e convida para participar de um teste rápido (é bom limitar a uns 15 ou 20 minutos). E como recompensa, pode dar um vale-compras do local onde está ou um vale-compras de uma loja ali por perto.

Dica: é bastante comum pensar em redes de café com o Starbucks para este tipo de teste, mas avalie se o seu público frequenta este tipo de café ou não. Dependendo do lugar escolhido, você pode enviesar a amostra sem querer.

A equipe de pesquisa do Google fez um vídeo bem bacana demonstrando um teste de guerrilha (em inglês).

Vantagens:

  • Você pode fazer vários testes seguidos no mesmo dia.
  • Não precisa se preocupar em recrutar e agendar com as pessoas: é só abordar as pessoas ao vivo.
  • Você faz um teste mais próximo de um contexto real — principalmente se for um teste mobile.

Desvantagens:

  • Se você precisa de um público específico, pode ser difícil encontrar “por aí”. E um teste feito com as pessoas erradas pode ter resultados que atrapalham o seu projeto.
  • É difícil fazer testes mais aprofundados, porque você depende do tempo livre das pessoas.
  • Dependendo do local, fica mais difícil de acompanhar e o vídeo não fica tão bom assim.
  • Você precisa exercitar a cara de pau e aprender a receber “não”. Parece simples, mas gasta muita energia. ;)

4. Em contexto, presencial

Senhora que recebeu a equipe de pesquisa em casa.
Em muitos casos pode ser mais legal visitar a pessoa em casa do que chamá-la para um laboratório. E pode ser mais divertido, também.

Que tal em vez de preparar um lugar e esperar o participante, ir até onde ele está? É interessante quando você quer fazer uma abordagem mais aprofundada ou mesmo mesclar o teste com uma entrevista. Pode ser na casa da pessoa ou em seu local de trabalho.

Para registrar tudo, não se esqueça de levar na mochila computador, câmera e um celular com 4G para compartilhar o wi-fi se necessário — teste em contexto é uma pequena aventura.

Vantagens:

  • É mais cômodo para o participante e facilita o recrutamento.
  • Você testa em um ambiente mais natural e o participante pode ficar mais à vontade.
  • Você conhece o ambiente da pessoa e isso ajuda a formar uma ideia mais clara de quem ela é — bem útil para montar personas.
  • Em geral, menos gente falta quando não precisa sair de onde está.

Desvantagens:

  • Você gasta mais tempo se deslocando de um lugar a outro e faz menos testes por dia.
  • O que deixa de gastar com a sala de espelho passa a gastar com deslocamento da equipe.
  • É bom limitar a quantidade de pessoas assistindo para não deixar o participante pouco à vontade.
  • É preciso se precaver: você não sabe se vai encontrar wi-fi, um lugar com boa iluminação ou mesmo uma mesa para sentar. E vale a pena checar de antemão se o caminho é seguro.
  • É provável que o seu vídeo fique pior do que seria em uma sala preparada para isso.

5. Em contexto, remoto

Pessoas conversando pelo Skype
Exemplo de teste remoto — via Google Hangouts.

E se você quiser falar com a pessoa na casa dela, mas sem ter que se deslocar? Você pode fazer um teste remoto. Há ferramentas próprias para conferências online (mas muita gente acaba optando pelo Skype, mesmo).

Vantagens:

  • Sendo remoto, você não fica limitado às pessoas de sua cidade — as diferenças regionais podem ser relevantes!
  • Gasta menos tempo da equipe envolvida, não precisa se preocupar em preparar um local para isso.
  • Os participantes fazem o teste em contexto, no computador / celular que estão acostumados a utilizar (e você pode ver detalhes como os favoritos salvos no navegador e a resolução).
  • Como estão em casa e no computador que costumam utilizar, os participantes podem ficar mais à vontade.

Desvantagens:

  • Ao usar uma ferramenta de compartilhamento de tela, você depende da internet do participante funcionar bem para conseguir acompanhar tudo ao vivo.
  • Algumas pessoas com menos experiência com internet podem sentir-se desconfortáveis ou ter dificuldade para compartilhar a tela — isso pode limitar a amostra.
  • É melhor evitar testes muito longos.
  • É mais complicado para fazer testes mobile.

6. Em contexto, remoto e automatizado (sem moderador)

emcontextotestr
A pessoa pode responder o teste em casa, em seu contexto de uso, sem interferências.

Tá vendo a moça simpática na foto acima? Ela está em casa, sozinha, fazendo um teste de usabilidade. É um teste remoto não moderado, como os que fazemos aqui no TESTR. Os participantes respondem as tarefas de onde estiverem, quando quiserem. Você não precisa agendar um horário com cada um — basta publicar o teste e aguardar os resultados. O participante recebe o convite por e-mail, clica no link e responde as tarefas, gravando o vídeo com a navegação na tela e a webcam.

Testes remotos automatizados são bem úteis como testes rápidos, que você pode fazer dentro do ciclo de desenvolvimento.

Vantagens:

  • A combinação do teste em contexto e sem pessoas assistindo do lado faz com que os participantes fiquem muito à vontade: tem gente que faz o teste deitado na cama, tem gente que pede opinião da esposa. E tem gente que começa a fumar quando o site demora a carregar.
  • Sendo remoto, você não fica limitado às pessoas de sua cidade — as diferenças regionais podem ser relevantes!
  • Como você não precisa agendar um horário com o participante, os participantes podem responder o teste em qualquer horário (inclusive à noite e aos finais de semana) e o recrutamento é mais rápido.
  • Gasta menos tempo da equipe envolvida.
  • Os participantes fazem o teste em contexto, no computador / celular que estão acostumados a utilizar (e você pode ver detalhes como os favoritos salvos no navegador e a resolução).
  • Vários participantes podem fazer o teste ao mesmo tempo e os resultados podem ser muito mais rápidos que em um teste moderado.

Desvantagens:

  • Como não é moderado, não é possível tirar dúvidas sobre o que as pessoas fizeram durante o teste e o contato com a pessoa é menos aprofundado que em um teste presencial.
  • Algumas pessoas com menos experiência com internet podem sentir-se desconfortáveis e isso pode limitar um pouco a amostra. Se você quer fazer testes com pessoas que estão começando a usar computador, por exemplo, melhor fazer ao vivo.
  • É melhor evitar testes muito longos e focar em questões pontuais.
  • É mais complicado para fazer testes mobile.

E pronto, montamos um cardápio de opções de teste de usabilidade. Sentiu falta de alguma coisa? Ainda tem dúvidas? Mande pra gente. :)

Fotos, de cima para baixo: banco de imagens, Elisa Volpato em projetos de consultoria, e Daniel Salotti (a última).

Originally published at TESTR Blog.

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Elisa Volpato
TESTR
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Pesquisadora de experiência do usuário, trabalhando com UX desde 2005.