A hipocrisia na igreja

Porque troquei de igreja e depois destroquei

Rodrigo Bino
Textando
6 min readJun 18, 2018

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pixabay.com

Me lembro de quando entrei na fase “proibidão”. Ou seja, em algum momento em 2006 ouvi dizer que alguma igreja tinha a placa Proibido Entrar Pessoas Perfeitas.

Não, não era a igreja Capital Augusta.
Mas me encantou aquilo e me fez ver a igreja com outros olhos.

Mas no fundo era com os olhos que deveria ser vista. Logo embarquei num lema:

Igreja não é museu de santos, mas sim um hospital de pecadores.

Tudo isso é o que a igreja deveria ser. Porém, havia um outro extremo.
A gente tende a não conseguir ficar equilibrado por muito tempo, por isso vamos para outro extremo automaticamente.

Minha fase revolts começou a criar um sentimento de superioridade ao me declarar inferior.
Em meados de 2009, descobri como de fato o confessar pecados para os meu amigos foi libertador.

Tudo isso aumentou meu orgulho e me fez sentir no direito de julgar todas as igrejas hipócritas.

Me fez também ir para um extremo de dizer que sou pecador imperfeito e por isso não sentia vontade de buscar uma santidade com todas as minhas forças, já que eu era imperfeito. Não verbalizei isso, estava no meu inconsciente.

Quando via um crente, daqueles bem crente mesmo, eu ficava com preguiça e já julgava ele por não se enxergar como pecador imperfeito.

Logo eu e alguns amigos brincávamos de querer criar uma igreja para nós.
Mas logo outros amigos alertaram-me sobre a igreja emergente e seus problemas teológicos.

Isso não tem nada a ver com o que estou passando — pensei.

Reparando na brincadeira nossa de querer montar outra igreja, reparei que não estava me sentindo parte de nenhuma igreja.

Então me perguntei o que tinha de errado em não comungar numa igreja, se eu poderia me reunir com meus amigos e cantar, ler a bíblia e orar?

Comecei a procurar vídeos de “gurus” reformados que falassem sobre desigrejados, mas nenhum dava essa resposta clara, apenas criticavam o problema de “desinstitucionalizar”, de não fazer parte de uma comunidade e etc. Mas na minha cabeça estávamos em comunidade e não queríamos desinstitucionalizar nada, só queríamos uma igreja sincera e verdadeira, sem julgamentos.

Eu comecei a ficar com suspeitas de que me achavam um cristão emergente, ou desigrejado. E talvez eu tenha transmitido mesmo esta impressão, embora para mim não sabia bulhufas do que era ser emergente ou desigrejado.

Fiz várias artes nesta fase da minha vida para postar no Orkut

Aí procurei mais um pouco sobre isso e, embora não tenha me identificado com as ideias emergentes, liberais e desigrejadas, entendi o problema que estava ali, há um centímetro de distância de mim.

Comecei a namorar quando já estava tentando me acertar com essa guerra interna. E, na época, minha namorada disse que iria me seguir onde eu decidisse ficar, mas eu tinha que decidir logo, me deu um prazo me mostrando que um defeito pelo menos eu tenho que engolir ao escolher uma igreja.

Me lembrei que se a igreja é um hospital para pecadores, o que eu estava fazendo da minha igrejinha com amigos? Eu praticamente estava tornando a igreja num museu de santos e me esquecendo que até a igreja que se acha santa de mais é um hospital para pecadores.

E uma das maiores dificuldades é deixar o orgulho de lado com medo de julgamentos alheios.

Ou seja, eu reclamava muito sobre a igreja ser hipócrita enquanto eu estava sendo um. Não me sentia a vontade em confessar meus pecados, mas também nunca tentava. Como poderia dizer que a igreja era hipócrita?

Parei de exigir tanto da noiva de Cristo e decidi escolher voltar para igreja que havia saído. Graças a minha namorada, que hoje é minha esposa, que Deus colocou em meu caminho.
Ah, o livro de Hebreus também me ajudou neste processo de cura. Acredito que as orações de meus irmãos e familiares também me ajudaram, mesmo sem saber o que estava acontecendo.

A gente tende achar que o problema está nos outros, numa entidade, na instituição, ou seja, nunca em nós. Entender que a igreja é para hipócritas em recuperação incluindo eu, mudou tudo.

O que aprendi com tudo isso é que devo buscar ser santo com todas as minhas forças, mas também me lembrar que não é por meu mérito que sou lavado, justificado e isso me lembra do quão imperfeito eu sou.

Meus amigos também passaram por este processo de cura, cada um de uma forma. Depois Deus nos espalhou para várias igrejas e hoje agradeço por isso.

É melhor espalhar o que temos aprendido de Deus pelo Brasil todo do que ficar só em um lugar que julgava ser melhor e “imperfeito”.

Hoje digo que a igreja é proibida para pessoas perfeitas com muito cuidado. Isto porque somos de extremos e temos dificuldades de ficarmos equilibrados, tendo em vista que somos imperfeitos (risos).

Somos imperfeitos, mas devemos procurar sermos aperfeiçoados em Cristo perseverando dia após dia. Isso não nos faz melhor que ninguém. Isso nos coloca em nosso lugar com humildade e mansidão, nos torna mendigos a contar para outros mendigos onde encontramos o pão; É lembrar de orar sempre pelo pão nosso e perdão pelas nossas dívidas e nunca pelo meu pão e minha dívida.

O seu problema é o meu problema também. A sua cura é a minha também. Sua alegria é minha alegria. Sua tristeza é a minha tristeza. Somos um corpo e se há algo de errado com uma igreja que te decepcionou, está errado com você e com todo o corpo.

Devemos cuidar da vida dos outros sim!

Não preciso sair de uma igreja para outra caso vejo um defeito, mesmo que seja um defeito de não aceitar pessoas imperfeitas. Somos um corpo, ou seja, abandonar um problema que é seu de uma igreja não resolve nada, apenas nos torna egoístas que procuram uma igreja como um acessório de roupa, só porque me faz bem.

O mesmo conselho vale para um casamento.

Hoje quero viver mais essa ideia de corpo, sem concorrências, sem competição, sem exigir que minha igreja seja menos hipócrita, porque somos. Pois se a igreja lá do bairro do Jamelão é hipócrita, então isso é um problema nosso. Como igreja, estamos cheias de problemas.

Não deserte, não desista, não se engane.

Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água pura.

Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel.
E consideremo-nos uns aos outros para incentivar-nos ao amor e às boas obras.

Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia.

Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus.

E como sempre, obrigado por ler!

Nota

Trecho do “sendo assim” até “inimigos de Deus” foi retirado de Hebreus 10:22–27. Fiz isso para você não pular o versículo bíblico. #tepeguei

Minha igreja local

Revisão: Ana M. M. Dias

Rodrigo Bino é designer, músico, professor na EBD Teen e líder de Jovens com sua esposa Maiara na igreja.

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