Design chato

Rodrigo Bino
Textando
Published in
5 min readSep 5, 2019

Todas as artes gráficas das marcas estão chatas e iguais.

Na verdade quase todas.

Um design preguiçoso com cores quase fluorescentes, gradientes, fontes sem serifa que são uma variação da Helvetica. Grid sempre a esquerda ou centralizado e talvez com uma leve inclinação.

Às vezes uns ornamentos geométricos frufru pra dar um tcham.

Tá tudo chato.

Mas esse é o caminho natural de quem apressa a arte. O famoso “pra ontem”. Este tipo de arte é o tipo mais fácil e rápido de fazer.

Só que no meio da prateleira todas as embalagens são iguais, não importa o produto.

Hoje vou a uma barbearia para fazer a barba e parece que estou entrando numa hamburgueria.

Você segue uma conta sobre produtos, outra sobre comida e ambas são iguais na sua expressão de marca.

Todo mundo é coloridinho e divertidinho como Netflix no twitter.

Só se destaca quem foge dessa regra.
Mas fugir da regra às vezes parece que é desafiar a academia.

Se você foge demais, talvez não comunique o que quer.
Mas o que queremos comunicar é o que o cara do outro lado quer saber?

Arte feita por Laurie Rader citando David Carson (um ícone em grungetype e design desconstruído). “Use seus olhos, não as regras.”

Uma página institucional de um banco por exemplo poderia ser apenas um monte de blá, blá, blá literalmente e botões relevantes para o usuário como “Sua conta” e “Criar conta”. O resto é um monte de coisa que não interessa.

Quantos produtos, serviços e empresas não são assim na internet?

Há um tempo atrás, em um post que já não me lembro qual era, eu dizia que o que me move na arte é a frase “Essa coisa deve ter um jeito que fica melhor”.

Antes de ontem (3/9/19) eu estava com minha esposa olhando uma arte de alguma igreja, não me lembro qual. Lembro que comentei que outra coisa que não tinha gostado da arte era o meio termo. Ou seja, ela não era organizada demais nem desconstruída demais, estava no meio e isso é… estranho.

É o mesmo que uma pessoa que é calva deixa o cabelo crescer para tentar tampar a careca, sendo que assumir a careca seria algo mais interessante. Pelo menos é o que digo para mim quando essa fase da minha biologia chegar.

É melhor assumir de uma vez que tipo de arte você é, que tipo de texto você é, que tipo de gente você é. Essas coisas em cima do muro que quer ser algo, mas está comedido acabam deixando uma arte pobre.

Outra coisa legal é que há algumas formas de tocar a pessoa com essas artes efêmeras.

Na maioria das vezes a gente atinge a pessoa ativando a percepção dela por cores e formas. Ela nem precisa pensar muito. Bateu o olho e já entendeu o que está lá (às vezes né? rs).

Tem artes que você deve parar, interpretar e às vezes se emocionar.

E tem um tipo que não sei o nome, mas que está entre os 2, que é algo mais intuitivo, onde o apreciador vê a arte e sente um mérito por ter usado a intuição para concluir: “Eu acho que esta arte quer dizer isto e aquilo”. Ele se sente como passando de uma fase em algum jogo e não é uma recompensa real, mas é aquela sensação de resolver um problema baseando em suas experiências.

Tá aí, eu gostei. Fazer um tipo de arte que faça a intuição do cara trabalhar. Porque se eu for na linha do “Não me faça pensar”, o usuário liga o automático e agrupa tudo numa mesma categoria. Se um é passível de ser ignorado, o cérebro passará a ignorar todos os semelhantes ao longo do tempo.

E se eu conseguir fazer uma arte diferente e fazer o usuário pensar um pouquinho, não muito, mas só mais um pouquinho que o normal somando com uma carga intuitiva, então ele ficará alguns segundos a mais observando minha arte. Isso já é um ganho enorme em tempos que deslizamos o Instagram e deixamos correr todo o feed sem absorver as informações.

Ainda não tenho a resposta de como resolver tudo isso. Mas o que tento fazer hoje é pensar no “Por que não?” na minha próxima arte e assim vou experimentando.

Não acho que minhas artes são diferentes a ponto de se destacar e tocar o usuário dessa maneira que refleti aqui, mas eu estou tentando fazer isso. Pode ser que seja só diferente para o meu próprio estilo padrão, mas quero descobrir como fazer isso em relação a prateleira enorme do supermercado Internet.

A partir dessa reflexão quem sabe se eu descubro um jeito e você descobre outro?

Talvez você já tenha ouvido este discurso por outra pessoa e eu sou só mais um dizendo o mesmo. Não tem problemas. É como o personagem de Fringe, Walter Bishop, diz: “As ideias já existem. Estão todas voando por aí. Os criativos percebem e as capturam.” (Por isso parece que constantemente quando a gente acha que teve uma ideia, alguém já teve antes. hehe Não desanime. Porque se aquela pessoa não existisse você teria essa ideia. Fique feliz!)

Ou seja, eu sei que não sou o único, outros estão refletindo o mesmo que eu. Uns recentemente e outros já há tempos. No meu caso, recentemente.

Para este post ser mais sincero, julguem vocês mesmo analisando as artes que tentei experimentar algo diferente neste sentido. Sei que não sou o melhor e muito menos tenho conseguido fazer com excelência o que propus aqui. Mas estou tentando, mesmo que eu esteja no começo dessa experiência (e não tenho vergonha de expôr isso) espero que seja útil para te dar algum insight, reflexão ou outra ideia. Talvez você até possa me corrigir do caminho que estou me propondo a tomar.

Abaixo me propus a fazer isso em algumas artes. O que acham?

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