Dicionário do Jeitinho Brasileiro

E o prejuízo de usar o jeitinho brasileiro no vocabulário

Rodrigo Bino
Textando
8 min readMay 24, 2018

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Loki, o deus da trapaça do universo Marvel

Isso mesmo, o jeitinho brasileiro está também no nosso falar. Caso você não saiba, esse jeitinho é o jeitinho malandro para sair por cima, ou o mais ileso possível e com vantagem de alguma situação.

É tão presente no nosso vocabulário também que quase não percebemos quando nós usamos.

Somos tão “mi mi mi”, tolerantes e politicamente corretos, que ao falar a gente acaba tentando evitar conflitos e sair por cima a todo momento praticamente.

Vamos ver algumas palavras do nosso dicionário do Jeitinho Brasileiro e o que deveria significar na real:

  • Vou ver = É não;
  • Estou indo = A pessoa está pensando em sair de casa. Na verdade está começando a trocar de roupa;
  • Estou chegando = Agora ela está saindo de casa, ou acabou de sair;
  • Cheguei = Tá a caminho. Na verdade ela pode estar no meio do caminho ou faltando 10 minutos para chegar ainda.

E somos mestres em fazer variação das mesmas palavras.

O ‘vou ver’, por exemplo, pode ter uma variação como:

  • ‘manda no meu whats’;
  • ou ‘manda lá no meu email’.

Veja outras variações, porém mais complexas:

“-Você já viu se o cara lá vai conseguir o esquema?
-Eu já vi a outra parada lá, mas o esquema eu posso ver
-Então veja se é possível e pergunte pra ver se rola daquele jeito que comentei
-Não sei se ele vai conseguir, mas posso ver isso.”

Ao invés de dizer ‘não’, a gente conta algo para suavizar o conflito e depois solta o famoso “ah, eu posso ver”, ou “posso estar vendo isso”, que nada mais é ‘não queria fazer isso, espero que desista dessa ideia, mas eu faço’.

Aí o personagem responde que “não sei se é bem assim, mas posso ver isso”.
Que, de novo, significa: “não queria, mas já que insiste…”

Gente, qual o problema do nosso sim ser sim e nosso não ser não?

Talvez este exemplo do “posso ver” soe exagerado e seja mais difícil de perceber o que se quis dizer.

Bom, é só se perguntar: Por que eu digo “posso tá vendo isso” ao invés de “vou fazer isso” para alguém? Eu tenho certeza que você se lembrará das situações em que fez isso e principalmente do porquê.

É como se não fosse com você. Como se esquivasse.
Isso não seria uma forma de evitar um possível conflito?
“Bom, vou dar um jeitinho aqui pra amenizar a situação e sair por cima.”

Assumir que não fizemos algo e que de prontidão vamos corrigir o que erramos não é sinal de fraqueza, é de coragem e de honra. Sua palavra será honrada e pura, pois não há ambiguidade. Não há porque estar querendo sempre amenizar o conflito e sair por cima. Deixe seu orgulho para lá.

A pessoa que mais sofre e é a mais enganada com essa história é você mesmo.

Você se prejudica fazendo essas coisas, porque você estará se mostrando alguém não tão confiável e que não dá para contar. Falta-lhe responsabilidade e honra.

Por causa desse jeitinho brasileiro a gente acaba tendo que usar palavras como “juro”. Só que nem isso é suficiente, você acaba jurando até pelo seus pais. E, se deixar, vai além arriscando cometer pecado dizendo que jura por Deus. Isso mesmo crente, pecado!

Permita-me um parenteses para me direcionar aos evangélicos no trecho a seguir:

Ora, se você jura, você deve isso que jurou caso não seja confirmado como verdade sua informação. Por isso jurar por Deus não é algo legal.

Como está escrito no próprio manual de como viver uma vida com Deus:

“Mas eu lhes digo: Não jurem de forma alguma: nem pelo céu, porque é o trono de Deus;

E não jure pela sua cabeça, pois você não pode tornar branco ou preto nem um fio de cabelo.

Seja o seu ‘sim’, ‘sim’, e o seu ‘não’, ‘não’; o que passar disso vem do Maligno”.

Livro de Mateus, Capítulo 5​​

Você se prejudica fazendo essas coisas, porque você estará se mostrando alguém não tão confiável e que não dá para contar. Falta-lhe responsabilidade e honra.

Você sempre chega atrasado?

Talvez o jeitinho entrou no seu cotidiano e todas as suas ações se tornaram meio preguiçosas e irresponsáveis, impactando diretamente na sua programação para sair de casa. Por isso o seu ‘estou chegando’ ninguém leva mais a sério. Não reclame se começarem a atrasar com você também. Porque sabendo que você atrasa, seus amigos e colegas contarão com isso e se atrasarão também.

Confesso que de vez em quando eu ainda escorrego nisso. E não, não está tudo bem. Acho possível ser mais disciplinado.

“Ah Bino, pega mais leve, você não é asiático.”
Ora, asiáticos também são humanos. Se eles podem, eu também posso. E creio que isso fará bem a mim e aos que convivem comigo.

Você sempre precisa usar a palavra juro?

Eu procuro sempre dizer sim ou não. Quando me perguntam ‘JURA’ após o meu ‘sim’, eu respondo ‘SIM’ novamente, sem mais.

Quero que as pessoas confiem o máximo possível em mim e que minha palavra realmente seja valiosa. Que meu sim seja sim e meu não, não.

Desejo que as palavras realmente voltem a significar o que elas realmente significam.

Pode parecer utópico, mas eu acredito que isso é uma pequena diferença que posso começar a fazer no micro para refletir no macro.

Eu não sei como combater exatamente a corrupção do Brasil, mas começar no meu círculo, na minha casa, eu consigo e já é um bom começo.

Pense em um mundo onde as palavras são verdadeiras e honradas!
Adeus burocracia. A burocracia existe para pessoas desprovidas de honra (e talvez de bom de senso).

Só existe grade, chave e fechadura porque não podemos confiar em nós mesmos e nos outros.

Nós não honramos os outros e não nos honramos, logo temos o sistema de sociedade que merecemos.

Eu também acredito que o jeitinho brasileiro não está somente no Brasil, está no mundo todo. Porém e alguns lugares as pessoas são mais ou menos desinibidas em praticar este ato.

Isso porque é aquela busca hedonista que o homem não consegue saciar. Enquanto ele pensar em si próprio, em poder e lucro, o mundo será mais burocrático, mais egoísta e mais artificial.

Só existe grade, chave e fechadura porque não podemos confiar em nós mesmos e nos outros.

Cena do filme Wall-e

E com artificial quero incluir inteligência artificial também, porque enquanto estivermos pensando somente em lucro, em resultados para ontem e para o meu eu, mais robôs farei para conseguir ter resultados sobre-humanos. Isso implica em profissões sendo extintas e o homem cada vez mais se tornando o homem do filme Wall-e. Ou seja, cheios de si numa cadeiras-babás automática que nos mantém enfeitiçados pelo nosso umbigo.

Destronando o Eu

Eu não posso fazer uma aplicação final sem usar minha visão de mundo que é cristã, então, espero que me permitam encerrar meu texto com esta aplicação.

Gráfico do site http://cru.org.br/conhecer-a-deus-pessoalmente/

Esse egoísmo só é destruído quando tiramos nós do centro e colocamos o Senhor Jesus no lugar.

Você poderia colocar o seu filho, um amigo, o cônjuge, mas ainda sim estaria sendo egoísta. No fim você estaria pensando em se agradar em algum grau. E hora ou outra você terá que trocar o centro, porque pessoas morrem, traem, te frustram.

Mas quando você coloca um Deus, isto é, Jesus no centro de sua vida, o morrer é lucro e o viver é Cristo. Ele é perfeito, não te trairá, não te frustrará e muito menos morrerá.

Assim, você se vê como um hóspede que vive de malas prontas num hotel chamado Terra;

Você se vê como um servo, onde você ama a Deus acima de tudo, seu próximo como a si mesmo e o seu inimigo também;

Você descobre também que amor não é um sentimento, mas uma ação, um movimento, uma atitude. O contrário de amor não é ódio, mas indiferença. Se você é indiferente aos seus inimigos logo, você não está amando os inimigos;

Você também perceberá que é muito difícil ser um homem puro e perfeito. Talvez sua consciência de que merece o inferno ao invés do paraíso aumente. Mas colocando Cristo no centro a você será revelado o mistério da Bíblia, não por esforço algum, mas pela graça de Deus, para que a gente não se glorie. Pois se nosso problema sempre é o nosso ‘eu’, logo não é o ‘eu’ que me salvará e me curará.

“Pois pela graça somos salvos mediante a fé e isso não vem de nós, é dom de Deus, justamente para que não nos gloriemos…”

Deus se encarna na forma humana, Jesus, para sofrer e morrer em nosso lugar. A justiça de Deus foi satisfeita em seu filho, em si próprio, em Jesus, o Cristo. Ele resolveu tudo sozinho sem nossa ajuda, pois nosso ‘eu’ é bastante corrompido. Merecíamos esta punição, pois a justiça deveria ser cumprida em nós, já que nós somos corruptos desde a infância.

O encontro da justiça e do amor de Deus resulta em misericórdia e é por isso que se chama graça. Pois pela graça somos salvos mediante a fé e isso não vem de nós, é dom de Deus, justamente para que não nos gloriemos por algum feito. Até nossas boas obras são como um trapo para Deus, são como absorventes sujos para Ele, que é puro.

Destronar o ‘eu’ e colocar Deus no trono é saudável. Resolveria todos os problemas da humanidade. Todos mesmo! É só pensar em um problema da humanidade e tente usar a imaginação tirando o ‘eu’ do centro para ver se não resolveria.

E como sempre, obrigado por ler!

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