ELE NÃO MERECE UMA SEGUNDA CHANCE

Lucas Peterson Magalhães
Textando
Published in
4 min readMar 17, 2017
Goleiro Bruno com a camisa do Boa Esporte-MG

O caso do goleiro Bruno é intrigante, mexe com nossas emoções mais profundas e faz com que tenhamos um sentimento generalizado de injustiça perpetrada.

Há alguns dias, o goleiro foi colocado em liberdade e assinou contrato com o Boa Esporte, time mineiro que disputa a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.

Bruno em seu julgamento

Bruno estava preso desde 2010 e foi condenado pela primeira instância a passar 22 anos e três meses na cadeia por homicídio triplamente qualificado, sequestro, cárcere privado qualificado e ocultação do cadáver de Eliza Samudio, antiga amante do goleiro.

Entretanto, por meio de uma ação judicial ao Supremo Tribunal Federal (“STF”), uma medida chamada Habeas Corpus, e de uma decisão liminar (preliminar/provisória) proferida pelo Ministro Marco Aurélio, foi deferido o pedido para que Bruno fosse solto.

O principal fundamento dessa decisão é o de que contra o goleiro não existe decisão transitada em julgado (ou seja, decisão definitiva), e a sua prisão é feita de maneira preventiva, há, pasmem, 6 anos!

Isso porque em face da decisão de primeira instância foi interposto pelos advogados do jogador um Recurso de Apelação, que aguarda julgamento pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais há mais de 3 anos.

Esses são os fatos. Vamos às opiniões.

São comuns e ganham apoio e repercussão na grande mídia, nos círculos de convívio, e, principalmente, nas redes sociais opiniões como: “O Bruno só conseguiu sair da prisão porque é rico/famoso” ou ainda “Sou a favor da ressocialização dos presos, mas não em casos como o do goleiro Bruno, ele não merece uma segunda chance.

Ao me deparar com esse tipo de opinião, uma coisa não me sai da cabeça: Como saciar essa sede de justiça? Qual a medida eficaz para se fazer justiça em retribuição ao ato que o delinquente supostamente cometeu? Será que se o Bruno cumprir os vinte e poucos anos de pena essa sede vai passar? Ele ainda tem chance?

Deixando de lado, por ora, a morosidade do Judiciário, faço uma análise introspectiva. Quem sou eu pra dizer quem é justo e que não é?

Essa situação me faz lembrar de uma parábola que Jesus contou aos seus discípulos, a do joio e do trigo. Em poucas palavras a história é essa:

Um homem plantou semente boa de trigo em seu campo, mas enquanto dormia, seu inimigo foi lá e jogou semente de joio (plantinha que parece muito com trigo, mas é zuada).

Aí os servos desse homem descobriram e perguntaram se era pra tirar o joio, mas ele respondeu que não, que era embaçado, tudo muito parecido e se eles tirassem poderiam arrancar algum trigo junto. Pediu pra esperar até a época da colheita, quando essa hora chegasse ele ia dar ordens aos seus empregados para separar o que é trigo do que é joio. O trigo ele ia guardar no seu celeiro, mas o joio ia jogar na fogueira. (o texto original tá lá em Mateus 13:24–29).

Esse texto embasa a minha inquietação. Não cabe a mim, neste momento, distinguir o joio do trigo. É tudo muito parecido, pode ser que eu mande alguém pra fogueira injustamente.

Mas… Vai ter uma hora em que a justiça será plenamente satisfeita! Aquele que plantou a semente boa vai voltar com seus encarregados pra separar o que ele vai guardar do que ele vai lançar ao fogo.

Cristo veio pra os condenados, os que já tinham sentença transitada em julgado em seu desfavor. Não cabia mais recurso algum e a pena era de morte.

Viver segundo os passos de Jesus nos traz esta consciência. Eu não era digno de uma segunda chance! Mas ele se fez culpado para que eu fosse absolvido, para que eu fosse solto sem mais nenhuma acusação contrária, sem pena de nenhum tribunal.

Bruno chorando ao ser condenado em primeira instância

Não creio que devamos deixar de lutar por uma justiça mais eficiente, por instituições mais críveis e céleres, por leis justas que punam e sirvam de exemplo aos demais para que os erros cometidos não se repitam pelos indivíduos que o fizeram e por outros.

Contudo, aqueles que foram alcançados pela graça de Deus não têm porque ter sede de vingança, a não ser reconhecer que a nossa justiça e a nossa separação das pessoas boas das más é passível de falha e que a Justiça de Verdade vem de cima e tem hora marcada.

Creio no Deus da Justiça, ao mesmo tempo em que creio no Deus das Segundas Chances.

--

--