Um ato de amor

Gui Dutra
Textando
Published in
3 min readMay 5, 2020

O isolamento como um ato de amor

Momentos de crise e adversidade, em geral, fazem com que voltemos nossos olhos para nós mesmos. Nos preocupamos com nossos sentimentos, nossas ansiedades, com os riscos que podem afetar nossa saúde mental e física. O foco sou eu, em como eu posso sair dessa situação com o menor dano possível.

E uma coisa que tenho percebido durante essa pandemia do Covid-19 é como grande parte de nossas ações tem o foco no outro, não em nós mesmos.

Eu não me isolo em casa simplesmente para me proteger, mas para quebrar o ciclo do contágio e evitar que alguém do grupo de risco seja infectado.

Eu não fico em casa porque é confortável e mais fácil, mas eu abro mão de estar com colegas de trabalho, com amigos queridos, com a família, abro mão de dar um abraço em quem eu amo, porque isso contribuirá a diminuir o ritmo do contágio do vírus e, no fim das contas, ajudará a evitar o colapso do sistema de saúde da cidade.

Eu não uso máscara para me proteger, mas para diminuir o risco de contagiar quem está próximo a mim, caso eu esteja infectado e assintomático.

Eu não fico sem ir aos shoppings, restaurantes, cinemas, parques, estádio e tantos outros programas de lazer porque eu quero economizar e guardar dinheiro para mim, mas faço isso tudo pelo outro e sou incentivado a ser mais generoso com os necessitados que sofrem ainda mais nesses dias de crise.

Eu não deixo de congregar pessoalmente com meus amados irmãos e irmãs da Igreja porque sou egoísta e penso dar conta de viver meu cristianismo sozinho, eu e Deus. Mas eu sofro, dia após dia, a saudade e a falta que eles fazem, por amor.

Por mais contraditório que possa parecer, se isolar é um ato de amor.

É doloroso, é sofrido, é solitário, mas é um ato de amor. Olhar com essa perspectiva e na esperança de que seja algo temporário nos ajuda e nos fortalece a continuarmos. Que não nos esqueçamos disso nesses dias. Não faça isso por você, faça pelo outro.

Que não nos esqueçamos desses dias. Do isolamento, da solidão, da saudade, da falta do toque e do abraço, da ausência das refeições à mesa com boas conversas e gargalhadas, da falta de jogar futebol ou praticar qualquer atividade física, da saudade de cantar louvores e orar junto com nossos irmãos em Cristo, da generosidade em dar, da gratidão ao receber, do esforço a mais para estar próximo do outro, mesmo que virtualmente, etc etc etc.

Que nos lembremos de Jesus, que sabia que a solidão faria parte de sua missão. Solidão que teve seu ápice na cruz, abandonado por seus discípulos, abandonado por Deus Pai. Mas, num ato de amor, perseverou até o fim.

Que esses dias nos ensinem o valor de todas essas coisas. Que aprendamos a gastar nosso tempo e nossos esforços com o que realmente importa. Que o isolamento nos ensine a apreciar a dádiva da presença.

Amém.

#fiqueemcasa

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