Moda e Emergência no Medium

Como a nova plataforma de textos pode interferir nos estudos de moda.

Moa Marangoni
Têxtil e Moda

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A Moda, estudada e discutida, é, por mais que banalizada, pouco desenvolvida. Acreditem, estamos tão evoluídos em estudos sobre Moda quanto estávamos em estudos sobre Comunicação na década de 1960. Como a Moda se constrói? Quem ou o que dita as tendências? Como signos de determinada época ressurge em coleções contemporâneas?

As coincidências que vemos entre um desfile e outro nas Fashion Weeks de todo o mundo respondem aos reconhecidos escritórios de tendências e seus trabalhados birôs, livros com texturas, silhuetas, cores e detalhes, com uma função tão simples como complicada: prever o futuro.

Por mais que os birôs tenham uma metodologia em suas confecções, fica difícil imaginar como informações em imagens etnográficas de diversas partes do globo tornam-se em algo tão bem estabelecido e uniforme. Ainda pensando na repercussão desses birôs, temos tendências em toda parte de forma alternativa, paralela ao que vemos nos desfiles de moda.

Certo dia, me introduziram à Teoria dos Sistemas Complexos, principalmente ao fenômeno Emergência, onde, dentro dessa teoria, componentes independentes sem posição hierárquica aparentemente relevante compõem um sistema de organização sem um planejamento ou ordem, formando então o que o autor norte-americano Steven Johnson chama de comportamento bottom-up, ou seja, um fenômeno onde determinados dados emergem de baixo para cima, sem qualquer hierarquia (JOHNSON, 2003).

Fiquei automaticamente obcecado pela idéia de que mesmo respondendo às supostas hierarquias de forma mecânica elas talvez não merecessem devida proporção. Passada a euforia, após ler o livro Emergência: A Dinâmica de Rede em Formigas, Cérebros e Softwares de Steven Johnson, elaborando uma pesquisa sobre a moda no bairro Soho em Londres, passei a pensar que Moda e Emergência talvez sempre estiveram ligadas e nunca em toda a história isto ficou tão claro.

O individualismo, o querer pertencer e despertencer, querer aparecer e se camuflar, e todas as outras características de nossa atual sociedade, nos levam a crer que não há hierarquias: as barreiras estão cada vez mais borradas. A extinção da linearidade, a gigante proporção das redes, a concepção de amizade, uma crise encadeando outra… Tudo isto propõe que a Emergência serve muito bem à Pós-Modernidade, com reflexos na Moda, principalmente se tratando de grupos de estilo.

O Soho em Londres e a Rua Augusta em São Paulo, lugares que passei a pesquisar para a comprovação das Tendências como Propriedade Emergente, são apenas alguns dos que podemos notar: complexos Habitacionais com pessoas que nunca saíram da cidade de São Paulo possuem estas características, assim como jovens turistas de todo o mundo, que nunca se viram antes, utilizam roupas muito parecidas e formam uma massa uniforme em Saint Tropez.

Mais curioso ainda saber que os elementos de um espaço interferem em outro espaço. A veiculação desses elementos é praticamente imperceptível, assim como a originalidade, que se perde relativamente. Segundo a pesquisadora brasileira Silvia Laurentiz:

"É fato que fazemos parte e contribuímos para a formação de um sistema complexo cultural, social, econômico -, embora não possamos perceber claramente nossa contribuição individual, pois ela se dilui entre os demais participantes deste sistema." (LAURENTIZ, 2004)

Por anos procurei algo na web em que minhas ideias tivessem um formato que vestissem perfeitamente. O Medium, além de todas as outras características que li em críticas, é exemplo de uma sociedade adequada aos conceitos de Emergência. Até então, qualquer lugar na rede para mim tratava-se de uma hierarquia com uma boa maquiagem: Curtir e Não Curtir, Follow e Unfollow, viral e last season. Opinião sem muito o que dissertar. Tudo binário, preto no branco. O discurso dói um pouco mais para ficar pronto do que um clique ou um toque, mas me fazia falta.

Embora nos meios acadêmicos Internet seja algo muito mais discutido e desenvolvido do que Moda, os comportamentos dentro da web se estagnaram, mesmo com múltiplas redes sociais e atualizações, aperfeiçoando tudo e todos.

Já tentei ser assíduo em Blogs e Twitter, Facebook é sempre o mesmo e minha vida não é linda a todo momento para uma foto no Instagram, muitas vezes nem um filtro salva. O Medium me veio com uma proposta bem mais contemporânea, tanto em relação ao que eu vivo quanto em relação ao que observo.

Buscando colaborar com a evolução dos estudos em Moda, pensei que deveria divulgar minhas ideias e quase ideias. O assunto que mais estudo em Moda (Emergência), é uma tendência comportamental, uma metodologia (ou transgressão de metodologia) aplicável em muitos eventos ainda inexplicáveis e o Medium comprova isso de certa forma.

Pela primeira vez me vejo pisando em terra firme na web.

Inspirem-se!

JOHNSON, Steven. Emergência: A Dinâmica De Rede Em Formigas, Cérebros, Cidades e Softwares. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

LAURENTIZ, Sílvia. Padrões emergentes originam valores estéticos?. In: I Congresso Internacional Mídias: Multiplicação e Convergências — Caderno de Resumos. São Paulo: Senac, 2004.

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