A força e a Solidão: Gojo vs Sukuna

Maycon Stuartt
Texto Salvo
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17 min readSep 30, 2023

Satoru Gojo é uma raridade, uma anomalia que desequilibra o mundo de Jujutsu Kaizen. Nasceu abençoado com uma união de poderes inacreditáveis, o que lhe rendeu o título de “o mais forte”. Tal posição, para ele, sempre pareceu um fardo. Ser o mais forte também significava ser solitário.

Essa noção de solidão e força é exposta ao longo de todo o mangá, com inúmeras passagens onde Gojo se proclama (e é proclamado) como “o mais forte”. Deixar de pontuar isso seria leviano e imprudente ao analisar a trajetória desse personagem e o tema do mangá.

Seja no passado, seja no presente, Gojo sempre disse ser o mais forte. Essa certeza sobre sua força, no entanto, revela em seu íntimo sua solidão. Quanto mais só, mais forte ele se sentia. Quanto mais forte, mais só. Especialmente após a morte de seu melhor amigo, enfrentando a lógica do mundo de feiticeiros e tendo que lidar com “velhos burocráticos”, Gojo parecia cada vez mais sozinho em sua jornada.

Mesmo que não completamente, isso parece se alterar gradualmente com a chegada de seus alunos, pessoas que ele entregou o desejo de mudança do status quo, abalando as estruturas do mundo e transformando a sociedade de dentro para fora. Em suas próprias palavras, ele poderia, sozinho, dar fim a todos os seus problemas por conta própria por meio da força, mas curiosamente, se o fizesse, estaria sozinho e, em breve, o problema do mundo de Jujutsu ressurgiria. A sua força é sua solidão.

No início da série, vemos com clareza o tom e o tema do personagem. Ser o mais forte é muito mais que uma característica de Gojo: é sua função na obra. Mais que um homem formidável com grandes habilidades, ele era uma anomalia incomum. Sua força é muito mais que uma qualidade, é um tema por onde a história iria caminhar.

Quando Sukuna surge, deixando de ser uma lenda distante e passando a se tornar um possível desafio real, a reação de Gojo é de entusiasmo. Ter um desafio, ou enfrentar alguém mais ou tão forte quanto ele significaria não estar sozinho. Lembrem-se sempre disso.

Curiosamente, junto de sua força, Gojo experimentou a arrogância e a soberba. Sua distância dos demais era tamanha que sua compreensão não cabia mais nesta terra ou nesta realidade. Essa mesma arrogância — em alguns casos, iluminação — levou Gojo a um nível de altivez e presunção que precederia sua queda.

É verdade, Gojo se tornou o maior entre todos os que já haviam vivido. Nenhum desafio pareceria suficiente para ele. Nem mesmo a sombra de um monarca parecia lhe render mais que alguma esperança. Medo? Isso não poderia, jamais, existir acompanhando o mais forte. Dúvida? Nenhuma. Ninguém conseguiria vencer aquele que mais se sentia solitário. Porque solidão é força.

O que são essas palavras, senão o reflexo da mais pura arrogância — ou confiança, chamem como quiser. Por curiosidade, ele ainda reserva uma fagulha de consciência ao admitir que não seria fácil, mas sua convicção, a certeza da vitória, é proporcional ao tamanho de sua solidão.

Não diferente de Gojo, Sukuna experimenta sua solidão. Ambos, de formas díspares, mas estranhamente semelhantes, se aproximam, Gojo e Sukuna, da solidão. No passado do Sukuna, podemos ver um pequeno vislumbre desse assunto. Yorozu percebe nele um olhar solitário, uma alma desamparada, de alguma forma.

Sukuna também experimenta a solidão, do mesmo tipo de Gojo. Ser forte significa estar distante, desassociado, sozinho. Em outra passagem, enquanto Gojo ainda estava selado, Shoko, sua amiga, relembra algumas de suas palavras. Saber de tudo isso é importante para compreender o contexto e o tema dos dois personagens, bem como suas escolhas e, consequentemente, suas conclusões.

Shoko não se conforma, porque ela sempre esteve ao lado de Gojo, mesmo assim, ele se sentia sozinho. O que era essa solidão, afinal? Vemos, após isso, como os alunos se reúnem, todos fortes e espertos o suficiente para serem amigos, unidos por um objetivo (mas ainda não poderosos o bastante para estarem ao lado do próprio Gojo, como conferimos na luta contra o Sukuna).

Em algumas passagens, Yuta queria interferir e ajudar Gojo no combate, mas mesmo ele não tinha força o suficiente para ser um companheiro nesse momento. Seria um fardo e atrapalharia. Ambos, Sukuna e Gojo, precisavam lutar sozinhos. Ou juntos, se soa melhor dizer.

Aliás, não bastasse todos os exemplos que juntei ao longo desse texto até agora, colocarei, explicitamente, o pensamento que ocorre quando Sukuna e Gojo (no corpo do Megumi) se encontram pela primeira vez.

Tal pensamento, toda sua construção e contexto, é mais que suficiente para a gente conseguir, mesmo que superficialmente, compreender o que está motivando todos esses personagens a essa altura da história.

Gojo havia acabado de ser liberto de sua prisão e seu encontro com Suguru Geto, ou melhor, Kenjaku, estava cheio de tensão. Sukuna também estava presente.

“Uma pessoa incrivelmente forte deve ser sozinha!! E serei eu quem vai te ensinar o amor!!”

Seguindo essa mesma cena, Gojo decide por começar a lutar contra Sukuna no dia 24, dizendo que não haveria necessidade de haver 2 aniversários de morte na mesma data. Kenjaku pergunta: “Acha mesmo que vai ganhar?”

Mas diferente de antigamente, essas palavras parecem carregadas de cooperação. Gojo não queria vencer individualmente, nunca quis. Ele tinha força para fazer o que queria, mas sozinho, não fazia sentido. Dessa vez, porém, ele tinha um plano e companhia para ajudá-lo. Vemos isso logo a seguir:

Isto é tão claro que até o próprio Kenjaku diz que, se Gojo perder, os alunos ainda poderiam vencer por ele.

Enfim, acho que não preciso continuar contextualizando a respeito dessa temática no mangá e na luta entre Gojo e Sukuna. Só preciso que tenham consciência de todos esses fatos para conseguir entender a conclusão. Depois de alguns preparativos, a derradeira luta entre os solitários, se inicia. Gojo e Sukuna iriam protagonizar um combate insano.

Enfim, com o avanço da luta, Gojo percebeu que Sukuna se recusava a usar qualquer outra técnica para combater a expansão de domínio dele, além das técnicas inatas de sua própria expansão. Isso é algo importante que muitas pessoas deixam passar. Não foi por acaso.

Nesse ponto, fica claro a estratégia adotada pelo Sukuna. O Rei das Maldições tem um propósito. Um motivo. Quando ele lutou contra Yorozu, nos foi revelado essa razão. Os mais atentos já entenderam:

Nesta parte, estou teorizando um pouco, mas fica claro que Sukuna possui, além do clivar e desmantelar, os cortes que sempre usou, um arsenal de técnicas a sua disposição, muito além das já mostradas. Yorozu queria que ele usasse o santuário — que em algumas traduções pode ser lido como “relicário” — contra ela. Mas o objetivo de Sukuna era afundar a alma do Megumi completamente. Isso faz com que ele utilize apenas as técnicas das dez sombras. Não porque as suas técnicas não eram suficientes para vencer qualquer um, pelo contrário, mas para tomar completa e plenamente o corpo de Megumi.

No fundo, nós não fazemos ideia das verdadeiras extensões dos poderes de Sukuna e de sua técnica amaldiçoada. Ele sequer utilizou, contra o Gojo, suas armas sagradas da era Heian (que vemos em algumas artes e flashbacks)

Além de tudo, nesta mesma luta contra Yorozu, Sukuna realiza um teste, para ter certeza sobre as capacidades e condições do uso do Mahoraga para lutar contra Gojo, uma artimanha bem planejada por ele, ciente de que Gojo não seria o único desafio que enfrentaria.

Sukuna nunca precisou do Mahoraga para vencer Yorozu, mas aparentemente, por um voto, utilizou apenas os poderes do Megumi para conseguir afundar sua alma completamente.

Enfim, a luta contra Gojo segue e, como esperado, Sukuna usa o Mahoraga. A essa altura, espero que esteja claro para todos que Sukuna não venceu Satoru Gojo apenas porque tinha o Mahoraga a seu favor (vou desenvolver um pouco mais esse ponto adiante). Naturalmente o rei das maldições possui mais recursos disponíveis do que conhecemos, como o próprio Gojo confessa.

Caso Sukuna não estivesse utilizando o Mahoraga, suas estratégias contra a expansão de domínio do Gojo não seriam diferentes das primeiras vezes que foram expandidas. Transferir o dano do vazio imensurável do Gojo para o Megumi foi apenas sua cartada final para tomar posse do corpo do usuário das dez sombras por completo.

Em uma batalha de domínios, Gojo e Sukuna pareciam, por muitas vezes, formidavelmente empatados. No entanto, Sukuna nunca esteve utilizando toda a sua força nesses eventos, aparentemente. Além de tudo, no início da batalha, Gojo contou com ajuda para elevar suas habilidades e causar algum prejuízo em dano contra Sukuna, quando lançou seu Vazio Roxo ampliado em 120%. Não obstante, Sukuna só dispõe de 19 dos 20 dedos que representam seu poder, ou seja, 95%. (Fato contornado pela antropofagia de sua múmia, sejamos justos.)

Destacados esses pontos, quando foi atingido pelo “acerto garantido” de Gojo, Sukuna transfere todo o dano para a alma do Megumi. Concluindo, assim, seu objetivo, como disse anteriormente.

Enfim, a luta segue com seus altos e baixos, mas sempre mostrando certa superioridade de Gojo (por um motivo, que vamos abordar em breve). O resgate a algumas falas e acontecimentos do passado são feitas recorrentemente ao longo dessa luta, apesar da maioria dos fãs ignorar solenemente ou, simplesmente, não perceberem. Muitos temas são trabalhados. Em um momento de triunfo — arrogância e confiança — Gojo diz o mesmo que disse no segundo capítulo do mangá.

A mesma fala que ele diz para o Sukuna, quando surgiu pela primeira vez na obra, lembram? Mas o importante aqui é o resgate também ao tema central dessa luta e desses dois personagens, tema esse que passei todo o início do texto desenvolvendo: A força e Solidão.

“Eu ainda vou te ensinar o amor! Uma pessoa incrivelmente forte… deve ser sozinha”

No fim das contas, essa luta é para determinar quem é o mais solitário — logo, o mais forte — entre eles dois.

Muitas vezes eu fico revoltado com o comportamento dos fãs, em geral. Parece que só o que importa é o poderzinho, a lutinha. E essa fala sobre a força e a solidão, ensinar sobre o amor… Está martelando todos os quadros do mangá e ninguém dá a mínima. Não existem comentários ou reflexões a respeito. O que isso significa, afinal? Alguém já conseguiu pensar ou entender? É normal deixar pra lá, afinal, olha que legal, eles estão se matando enquanto lutam. Mas por quê?

Depois, com o avançar da luta, Sukuna tinha consciência que seria uma questão de tempo até sua vitória. Gojo não parecia um desafio para Sukuna (leia isso com cuidado), tanto quanto o Sukuna era para o Gojo. O tempo todo o mangá nos mostra o quanto Gojo é poderoso, criativo e uma barreira a ser vencida. E ambos — mais o Gojo do que o Sukuna — pareciam se divertir com o combate.

Narrativamente falando, isso constrói o momento em que a superação, o ápice, o clímax da história, se daria com o menor vencendo o maior, o desafiante vencendo o desafiado. Historias são escritas assim. Gojo é elaborado como um personagem com uma única função: ser forte. Ele sempre foi nosso parâmetro ao longo de toda a história. E tudo sempre será comparado com relação a ele. Ninguém diz que o Gojo é mais fraco que o Sukuna, mas sim que o Sukuna é mais forte que o Gojo. Isso porque, desde o princípio, Gojo se tornou nossa linha divisória. Ele se colocou nesse lugar. Essa é a função dele em todo esse enredo. Basta lembrar do começo do combate, um dos quadros mais importantes de toda essa luta, que muitos ignoram:

“Você é o desafiante”

Gojo mostra que é o parâmetro de força (e solidão) desse universo. E nós, a partir desse momento, estamos acompanhando a história de como Sukuna se mostrou mais forte (e solitário) que Satoru Gojo. Muitas pessoas não notaram essa sutileza. A partir daqui, por mais que Gojo seja o mocinho em um sentido moral, em um sentido narrativo ele se tornou o vilão a ser derrotado. E ele precisa ser superado. Só assim a história vai progredir. Quem se mostra surpreso com a derrota de Satoru Gojo, provavelmente, não leu nada além dos desenhos.

Sugiro a todos que releiam essa luta com calma, tendo em mente todos os pontos que estou levantando aqui. Garanto que a sensação e a experiência será diferente. Lendo semanalmente, caímos no pecado de perder nuances muito importantes sobre os personagens e seus respectivos temas.

Sukuna nunca pareceu estar em real perigo ou desvantagem. Talvez por sua posição altiva e igual arrogância, ele tinha soluções e resistências a todas as mais criativas e inusitadas tentativas de Gojo. Por pior que ele parecesse, por mais ferido ou agredido. Sukuna era mais parecido com um protagonista determinado do que qualquer outro.

Com o passar da luta, Mahoraga era um desafio quase intransponível e Gojo se via cada vez mais no limite. A estratégia de Sukuna era efetiva.

“A FORÇA ABSOLUTA OCASIONA A SOLIDÃO”

É necessário dar ênfase a essas frases e declarações do mangá, porque isso explica o fim que Satoru Gojo teve. Além disso, sejamos honestos, a maioria das pessoas que reclamam, sequer pararam para analisar ou refletir sobre isso.

Jujutsu Kaizen traz, através de Sukuna e Gojo, uma discussão única, que muitos ignoram ou tentam a reduzir a RANKING DE PODERZINHO DE SHONEN. E quando acontece alguma conclusão diferente de “UM SUPER PODER FODA OLHA QUE LUTA FODA”, ficam frustrados e até mesmo ameaçam o autor de morte. Retardados, convenhamos.

Enfim, a luta segue, e nessa página podemos ver como esse tema da força e da solidão é martelado repetidas vezes para a audiência, que se recusa a entender.

Quando as coisas parecem difíceis para Gojo, os seus alunos cogitam ajudá-lo, interferir no combate. Mas chegam a conclusão que não devem fazê-lo. Isso porque Sukuna, como esperado, não está usando toda a sua força. Ele guarda algumas alternativas e poderes na manga, exatamente por saber que teria que lidar com os alunos logo na sequência, como o próprio Kenjaku havia dito momentos atrás.

Muitos dizem que o que deu a vitória ao Sukuna foi o Mahoraga, mas discordo disso. Provavelmente Sukuna venceria usando suas próprias habilidades, como o próprio Gojo reconhece, no entanto, se ele fizesse isso, se esgotaria e teria que usar as dez sombras contra os alunos. O Mahoraga é mais eficiente no 1v1 do que contra todos os alunos atacando de uma vez. A melhor estratégia seria, então, usar o Mahoraga primeiro para, depois, se necessário, usar suas próprias técnicas contra os alunos.

Outro fato interessante é como Hajime comenta que essa luta é apenas de Gojo, evidenciando novamente sua solidão, nascida por sua força.

Mahoraga se adaptou ao ilimitado do Gojo, mas o próprio Sukuna explica que tal adaptação não era útil para ele de imediato, pois partia de princípios que ele próprio não poderia reproduzir. Quando, enfim, Mahoraga lança um corte a distância, capaz de sobrepujar o ilimitado, Sukuna se dá por satisfeito, certo de que tinha o suficiente para vencer a luta.

Muitos ficam frustrados por não verem o resultado do ataque de Sukuna nas páginas do mangá. No lugar disso, o que vemos é Gojo já derrotado, não mais sozinho, curiosamente. Falaremos disso adiante, mas cumpre destacar que a derrota de Gojo foi revelada desde o início da luta. Mostrar o ataque que o liquidou não fazia nenhum sentido ou necessidade, tendo em vista que já conhecíamos o resultado, a partir do momento em que Sukuna, com olhar de satisfação, diz “ótimo”.

Além disso, vocês não podem ignorar algo de extrema relevância, palavras do próprio Gojo:

“Morrer e depois vencer e morrer vitorioso são duas coisas bem diferentes”

Podemos ver, enfim, nas próximas páginas, o exato momento em que Sukuna havia vencido a luta.

Sukuna não dependia das dez sombras para vencer. Ele fez uma escolha. Abdicou de outras ferramentas e armas que tinha a disposição e lutou como um usuário das dez sombras. Em ambas as hipóteses, ele ganhou. Não por mérito do Mahoraga (até porque se fosse qualquer outro feiticeiro, mesmo em posse do Mahoraga, pelo que vimos aqui, perderia para Gojo), mas por sua própria força imparável.

Enfim, caminhando para o final, o ápice da luta é alcançada: Gojo, o desafiado, o mais forte, sozinho, tem a batalha mais divertida e emocionante que já sentiu.

Não se enganem. Não foi e não podia ser uma luta fácil. Sukuna foi o desafiante. Ele enfrentou o mais forte. E nada encontrou além de um poder massivo. Mas, narrativamente, Gojo foi construído como o obstáculo a ser superado. E assim foi. A conclusão da luta, ainda recente, nos leva a conclusão do arco desse incrível personagem que é Satoru Gojo.

Ele foi curado da solidão.

Quando Mahoraga enfim termina sua adaptação, Sukuna está pronto para finalizar a luta. Curiosamente, o capítulo seguinte ao grande espetáculo roxo de Gojo começa com a calmaria de uma conversa em um terminal, onde Gojo se preparava para partir.

Nesse lugar, ao contrário do que ele mesmo acreditava, ele não estava sozinho. Seus amigos estavam lá por ele contrariando suas próprias expectativas.

“Você sempre morrerá sozinho”

A solidão de Gojo não dura para sempre. Enfim, ele havia encontrado alguém capaz de ensiná-lo o que era o amor. Nesse devaneio pré-morte, Gojo coloca em palavras tudo aquilo que estava preso em sua garganta, alguns fatos que, até mesmo os fãs, não querem aceitar. Ele não se sentia mais sozinho, porque não se sentia o mais forte.

É exaltando a força de Sukuna que Gojo encontra a si e deixa para trás sua solidão. É reconhecendo que não é o mais forte que pode deixar de morrer sozinho.

O que pode assustar a maioria dos fãs é que Gojo reconhece que, mesmo sem as dez sombras, Sukuna provavelmente o venceria. Mas de qualquer forma, não importa quantas palavras eu coloque aqui, suponho que o próprio mangá seja suficiente (ou deveria ser, para quem lê o que está escrito e não apenas os desenhos):

Satoru Gojo deu tudo de si. Ele se divertiu e deixou de sentir-se só. E foi Sukuna que fez isso por ele. O que o entristece é que ele não conseguiu fazer o mesmo pelo Sukuna. A apatia e a solidão do Rei das Maldições permanecerá, porque nem mesmo o feiticeiro mais forte conseguiu superá-la. No fim, quem ensinou sobre o amor foi…

Geto diz a Gojo que o que importava era a sua satisfação. Que isso era tudo o que deveria focar sua atenção. Mas a falta do amigo, a solidão que Gojo sentia, ainda falava alto em seus últimos pensamentos.

“Se você tivesse lá quando me bateram nas costas, aí eu ficaria satisfeito”

Sua consolação, no entanto, é saber que ele morreu lutando contra alguém mais forte, alguém que carregaria o fardo da solidão por ele.

Enfim, em sua epifania, Gojo finalmente entende as coisas como elas são. Falando sobre escolhas e sobre a morte, Gojo percebe que sempre teve uma série de opções para fazer ao longo de sua vida.

E em mais um resgate importante, agora tudo faz sentido para o feiticeiro mais forte da era moderna. Satoru Gojo deixaria de ser só.

Quando Itadori vai ser admitido na escola Jujutsu, ainda no capítulo 3 do mangá, ele é testado pelo Diretor Yaga, que nos mostra tudo aquilo que precisamos saber sobre essa história:

Diante disso, eu sempre li Jujutsu com cautela, porque eu sabia que não poderia ter expectativa nenhuma em busca de um final feliz. Nem todos serão salvos. E nem todos ficarão satisfeitos. E o autor gosta, muita vezes, de subverter nossa expectativa, fazendo com que os mocinhos tenham arcos de vilões, e vilões tenham arcos de mocinhos. Seja em estética ou narrativa, essas nuances não podem ser ignoradas.

Nesse contexto, Gojo faz sua escolha. Entre a vida e a morte. Entre a solidão e a companhia.

Enfim, Satoru Gojo, morre.

Mas antes de seu fim, a sua última amargura é curada. Gojo se queixa de que não havia conseguido arrancar a solidão de Sukuna. Era o que ele pensava. As últimas palavras que Sukuna diz a ele fazem sua vida ter valido a pena.

Depois que você entende por que essa epifania do Gojo está onde está, você para de se importar com o golpe final que foi executado em off. Você entende o tema do mangá e o arco de personagem se construindo e se encerrando perfeitamente, diante dos seus olhos. É impossível ignorar isso.

Às vezes não parece, mas os mangás tem mais a oferecer do que discussões sobre “quem é o mais forte”.

O fim de Satoru Gojo é bem escrito.

“Enquanto eu viver, jamais vou te esquecer”

Isso é mangá. Isso é Jujutsu Kaizen.

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Maycon Stuartt
Texto Salvo

Ensaios desengonçados, opiniões inconclusivas. Ainda estou aprendendo.