Coração Criança — mas não tanto

Sim.

Eu tive aquela certeza. Senti sua falta quando o teu cheiro, único e exclusivamente seu, saiu de vez do meu travesseiro, que na noite passada você roubou de mim. Que falta eu senti teu perfume tão quente quanto o cabelo vermelho fogo e as gotas de suor que você deixou na cama. Meu Deus, como senti.

Sabe, meu bem, perguntei a mim por que muitas coisas acabam mais rápido do que o intervalo entre abrir e fechas os olhos ao piscar, enquanto outras alcançam a eternidade e não terminam jamais. Pensei nisso enquanto passava um café e olhava para a janela da cozinha.

Não quero que essa falta que sinto de você e todo o rebu que o meu corpo sente com a sua presença seja eterna, porque eu não aguentaria tanto tempo assim: longe dos seus beijos e diferentes locais do meu corpo e abraços que quebram minhas frágeis costelas, que se destacam quando me espreguiço. Esta é a quarta noite que vou dormir sem ouvir “amo você” ou “deite aqui comigo”.

Não nego.

Acreditei mais no amor quando você fez morada aqui dentro e me fez conhecer muitos lados de uma mesma pessoa. Olha, não sei mais o que fazer com o lado esquerdo da cama, que só pertence a você. Sim, ele fica incompleto. Acho que as pessoas que andam em par são mais felizes, mas mesmo nessa minha vida ímpar eu consigo sentir o tesão e caos de uma cidade como São Paulo.

Não ia te contar isso.

Mas eu descobri mais uma música que me faz lembrar de você, meu bem. Ela fala sobre garrafas e algo superior a nós. Eu poderia cantá-la agora, mas meu tempo é curto nessa cidade. Peço desculpas pelo o que vou lhe dizer agora, mas ser a amada de alguém que escreve, e tem um coração criança, não é uma tarefa fácil. Nunca foi. É ser lembrada em cada ponto final. Em cada parágrafo. Olha, espero que entenda quando eu precisar escrever sobre você ou sobre nós — até mesmo o que espero desse nós.

A metade do ano se aproxima.
O que vai fazer amanhã?