Cuscuz — o protagonista

Conto Comigo
Textos.Hibridos
Published in
Oct 23, 2020

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"Que gostinho de natal" pensei enquanto saboreava o cuscuz feito pela minha mãe. Ainda era julho, mas o prato era tradicional na ceia da família todo vinte e quatro de dezembro.

Talvez fosse isso que fizesse do simples cuscuz paulista tão especial. Nos encontrávamos uma vez por ano. Eu ficava como um cachorrinho na beira do fogão me deliciando com o cheiro que invadia a cozinha.

Na panela, uma mistura de tudo que eu sempre amei: molho de tomate, pimentão, ervilha, cebola e sardinha em lata. Eu queria morar naquele caldeirão.

Minha mãe sempre fazia dois cuscuz, um menor, pra eu comer durante a tarde, e o outro pra levar pra ceia. Eu me fartava, até não conseguir mais olhar pra cara do cuscuz e desejar vê-lo só no próximo ano.

Ele não era só gostoso e cheiroso, ele era bonito, charmoso, vistoso. Moldado numa forma redonda com buraco no meio e decorado com ovos cozidos e azeitonas.

Molhadinho, desmanchava na boca. Combinava com tudo que estava disponível na mesa de jantar: Arroz com passas, tender com abacaxi e ameixa, e a salada de maionese com maçã.

Não sei dizer se a nossa ceia era servida com uma salada de fruta, ou a salada de fruta que era servida com nossa ceia, fato é, desde sempre eu adoro essa mistura agridoce, acho que um realça o sabor do outro, mas nenhuma delas é suficiente sem o protagonista da noite: O cuscuz de mamãe (feito com as mãos, como ela gosta de ressaltar)

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Uma mente inquieta que usa a escrita como forma de limpar o HD.