Torpor
Escuro.
Enquanto a visão lhe falhava, o leve formigar no dedão do pé, dava o indício de que sua vida não esvaíra. Ainda.
Mesmo com força, nenhuma parte de seu corpo parecia responder direito. Além do formigar, o cheiro artificial de desinfetante começava a invadir as narinas.
O amargor na boca logo veio seguido da repulsa. Era quase certo que vomitara.
Ruídos, antes inteligíveis, começaram a ganhar forma. Duas mulheres próximas conversavam. Pareciam rir de alguma coisa. Não soube dizer do que.
Focou a mente e recobrou algum movimento das pernas.
Com o progresso, a luz lentamente tomou conta na forma de borrões distintos.
Tentou o ouvido, novamente. E ouviu, com clareza, o agudo da criança vindo do corredor.
"Olha mamãe! Eu tomei a injeção e nem desmaiei!"
Descobrira, então, o motivo dos risos das enfermeiras que o acudiram.