Torpor

Fabricio Altran
Textos.Hibridos
Published in
1 min readOct 8, 2020
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Escuro.

Enquanto a visão lhe falhava, o leve formigar no dedão do pé, dava o indício de que sua vida não esvaíra. Ainda.

Mesmo com força, nenhuma parte de seu corpo parecia responder direito. Além do formigar, o cheiro artificial de desinfetante começava a invadir as narinas.

O amargor na boca logo veio seguido da repulsa. Era quase certo que vomitara.

Ruídos, antes inteligíveis, começaram a ganhar forma. Duas mulheres próximas conversavam. Pareciam rir de alguma coisa. Não soube dizer do que.

Focou a mente e recobrou algum movimento das pernas.

Com o progresso, a luz lentamente tomou conta na forma de borrões distintos.

Tentou o ouvido, novamente. E ouviu, com clareza, o agudo da criança vindo do corredor.

"Olha mamãe! Eu tomei a injeção e nem desmaiei!"

Descobrira, então, o motivo dos risos das enfermeiras que o acudiram.

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