Antídotos ao medo da morte

Ricardo Moura
Textura
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1 min readMay 19, 2020

De Rebecca Elson*

Às vezes como antídoto
Ao medo da morte,
Eu como as estrelas.

Nessas noites, deitada de costas,
Eu as chupo da escuridão
Até que todas estejam dentro de mim
Pimenta quente e aguçada.

Às vezes, em vez disso, me mexo
Em um universo ainda jovem,
Ainda quente como sangue:

Sem espaço sideral, apenas espaço,
A luz de todas as não-ainda estrelas
À deriva como uma névoa brilhante,
E todos nós, e tudo
Já estamos lá
Mas sem restrições de forma.

E às vezes é o suficiente
Deitar aqui na terra
Ao lado de nossos longos ossos ancestrais:

Atravessar os campos de calçada
Dos nossos crânios descartados,
Cada um como um tesouro, como uma crisálida,
Pensando: o que restou dessas cascas
Voou com asas brilhantes.

*Astronauta e poeta, Rebecca Elson morreu aos 39 anos vítima de um câncer raríssimo em pessoas de sua idade. Sua obra poética é atravessada pela experiência da precariedade da vida em contraponto à vastidão do universo. O blog publica a versão em português de um de seus poemas “Antídotos ao medo da morte”. Para saber mais sobre ela https://www.brainpickings.org/2020/04/10/antidotes-to-fear-of-death-rebecca-elson/

Tradução: Ricardo Moura

Rebecca Elson aos 27 anos

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Ricardo Moura
Textura

Jornalista e cientista social. Interessado nas interfaces desses 2 campos, com ênfase em segurança pública e comunicação para o desenvolvimento.