Morfologia do Conto Maravilhoso

Notas e recortes do livro.

Sophia Kraenkel
TFG_sophia_amanda_2017
5 min readMar 21, 2017

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Victor Nizovtsev

Vladimir Propp propõe analisar os contos maravilhosos através das funções que as personagens realizam no conto.

Prosseguindo com estas observações, pode-se estabelecer que os personagens do conto maravilhoso, por mais diferentes que sejam, realizam freqüentemente as mesmas ações. O meio em si, pelo qual se realiza uma função, pode variar: trata-se de uma grandeza variável. Morozko atua de modo diferente de Baba-Iagá, mas a função, enquanto tal, é uma grandeza constante. No estudo do conto maravilhoso o que realmente importa é saber o que fazem os personagens. Quem faz algo e como isso é feito, já são perguntas para um estudo complementar.

Para destacar as funções é preciso, primeiro, defini-las. Esta definição deve ser o resultado de dois pontos de vista. Em primeiro lugar, não se deve nunca levar em conta o personagem que executa a ação. Na maioria dos casos, a definição se designará por meio de um substantivo que expressa ação (proibição, interrogatório, fuga etc.). Em segundo lugar, a ação não pode ser definida fora de seu lugar no decorrer do relato. Deve-se tomar em consideração o significado que possui uma dada função no desenrolar da ação.

Por função, compreende-se o procedimento de um personagem, definido do ponto de vista de sua importância para o desenrolar da ação. As observações apresentadas podem ser formuladas brevemente nos seguintes termos:

I. Os elementos constantes, permanentes, do conto maravilhoso são as funções dos personagens, independentemente da maneira pela qual eles as executam. Essas funções formam as partes constituintes básicas do conto.

II. O número de funções dos contos de magia conhecidos é limitado

III. A seqüência das funções é sempre idêntica. (**só para o folclore e não para os contos maravilhosos criados artificialmente**)

IV. Todos os contos de magia são monotípicos quanto à construção

(PROPP, 2001, p.16)

Funções dos personagens: (PROPP, 2001, p.19)

Segundo Vladimir Propp, essa é uma estrutura que se remete em praticamente todos os contos maravilhosos (de magia), salve raras exceções.

Diagrama geral dos personagens

Situação inicial: descrição inicial do herói, da família e a sua situação

I. Um dos Membros da Família Sai de Casa (definição: afastamento): frequentemente por trabalho, ir na mata, comércio, guerra, negócios

II. Impõe-se ao Herói uma Proibição (definição: proibição): surge uma adversidade sobre a família feliz. O herói é proibido/ordenado de não fazer alguma coisa.

III. A Proibição é Transgredida: I e III constituem um elemento par. O segundo membro pode existir, às vezes sem o primeiro. Surge o antagonista cujo papel é estragar a felicidade do protagonista.

IV. O Antagonista Procura Obter uma Informação(definição: interrogatório) o interrogatório pode ser feito também pela vítima ao antagonista.

V. O Antagonista Recebe Informações sobre a sua Vítima

VI. O Antagonista Tenta Ludibriar sua Vítima para Apoderar-se dela ou de seus Bens. Antagonista se disfarça, usa magia, suborna ou cria artifícios para enganar a vítima.

VII.Vítima se Deixa Enganar, Ajudando assim, Involuntariamente, seu Inimigo. Veja que: proibições são sempre desobedecidas e as propostas enganosas, pelo contrário, são sempre aceitas e executadas.

VIII. O Antagonista Causa Dano ou Prejuízo a um dos Membros da Família. Os VII podem ser considerados a parte preparatória do conto maravilhoso, enquanto que o nó da intriga está ligado ao dano — tudo leva a esse ponto.

VIII-A. Falta Alguma Coisa a um Membro da Família, Ele Deseja Obter Algo. A carência pode ser muitas vezes provocada pelo dano. A carência pode também vir antes do dano. Esses dois pontos são o centro do conto.

IX. É Divulgada a Notícia do Dano ou da Carência, Faz-se um Pedido ao Herói ou lhe é Dada uma Ordem, Mandam-no Embora ou Deixam-no ir. Herói é introduzido no conto

X. O Herói-Buscador Aceita ou Decide, Reagir. Os heróis do conto maravilhoso podem ser de dois tipos: 1) Se a jovem foi raptada, e desapareceu assim das vistas de seu pai (bem como do horizonte do leitor), e Ivan parte à procura da jovem, então o herói do conto é Ivan, e nãoo a jovem raptada. Podemos denominar buscadores a este tipo de heróis. 2) Se uma jovem ou um menino são raptados ou expulsos, e o conto centrado em quem foi raptado ou expulso, não se interessando pelos que ficaram, então o herói do conto é a jovem (ou o menino) raptada (-o) ou expulsa (-o). Nestes contos não herói- buscador, e o personagem principal pode ser denominada herói-vítima.

XI. O Herói Deixa a Casa. Momento no qual se iniciam as aventuras do herói.

Entra no conto um novo personagem, que pode ser denominado doador (seria, mais precisamente, o provedor). Geralmente, ele È encontrado por acaso na mata, no caminho etc. (cf. cap. VII, as formas de entrada em cena dos personagens). Tanto o herói-buscador, como o herói-vítima, recebem dele um objeto (geralmente um meio mágico) que lhes permite superar o dano sofrido.

XII. O Herói é Submetido a uma Prova; a um Questionário; a um Ataque etc., Que o Preparam para Receber um Meio ou um Auxiliar Mágico. O herói recebe uma prova do provedor. Ou ele recebe um pedido de alguém que é desafiador. Ou passa por ataques.

XIII. O Herói Reage Diante das Ações do Futuro Doador. Responde os pedidos (sim ou não). Falha no desafio ou o supera. Ele vence ou não aos ataques, etc.

XIV. O Meio Mágico Passa às Mãos do Herói. O herói consegue um animal mágico ou objeto mágico através de um presente, recompensa, por acaso, roubo, consumo(comida/bebida), compra, personagens oferecem serviços, etc.

Funções do doador estão relacionadas com as formas de transmissão do objeto mágico.

XV. O Herói é Transportado, Levado ou Conduzido ao Lugar onde se Encontra o Objeto que Procura. Geralmente o que ele procura se encontra longe, esse objeto não é o objeto mágico que o auxilia e sim o objeto de sua carência.

XVI. O Herói e seu Antagonista se Defrontam em Combate Direto. Se ele vence o antagonista ele recebe seu objeto de carência.

XVII. O Herói é Marcado

XVIII. O Antagonista é Vencido

XIX. O Dano Inicial ou a Carência são Reparados

XX. Regresso do Herói

XXI. O Herói Sofre Perseguição

XXII. O Herói é Salvo da Perseguição

Este fenômeno mostra que um grande n˙mero de contos maravilhosos se compıe de duas séries de funções, que podemos chamar de seqüências. Uma nova desgraça da origem a uma nova sequência, e deste modo uma história reúne, às vezes, toda uma série de contos. O desenrolar da ação, que descreveremos a seguir, mesmo constituindo uma nova sequência, nãodeixa de ser um prolongamento de um determinado conto.

XXIII. O Herói Chega Incógnito à sua Casa ou a outro País

XXIV. Um Falso Herói Apresenta Pretensões Infundadas

XXV. É Proposta ao Herói uma Tarefa Difícil

XXVI. A Tarefa é Realizada

XXVII. O Herói é Reconhecido. Reconhecido pela marca ou pelo objeto conquistado.

XVIII. O Falso Herói ou Antagonista ou Malfeitor é Desmascarado

XXIX. O Herói Recebe Nova Aparência

XXX. O Inimigo é Castigado

XXXI. O Herói se Casa e Sobe ao Trono

Referências:

(PROPP, Vladimir. Morfologia do Conto Maravilhoso. CopyMarket.com, 2001.)

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