A dificuldade de se comunicar de maneira autêntica nos nossos relacionamentos

Thayna Meirelles
Thayna Meirelles
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4 min readJun 12, 2017

Alguns de vocês que me conhecem já sabem que destoo um pouco do comum quanto ao relacionar-me… e as vezes sou tida por demasiado complexa ou “profunda”, mais ou menos num sentido filosófico, embora eu realmente defenda que não deveria existir nada mais simples e desejável do que viver relações autênticas e co-construídas. Na verdade, já há algum tempo, não consigo enxergar outra possibilidade de relacionar-me, como ser humano que sou com o ser humano que você é.

Isso porque, há mais ou menos uns 6 anos, comecei a perceber que assim como tantos outros por aí, talvez você também, tinha vivido relacionamentos com verdadeiros personagens, que obviamente EU havia ajudado a construir. Aqui incluo todo tipo de relacionamento humano: amorosos, amizades, profissional, família, etc. Assim como eu também me dei conta da personagem, que muitas vezes, representava em cada contexto, adaptando-me às expectativas, provavelmente ainda na ânsia infantil da conquista do amor e aceitação do outro.

Foi libertador, e ao mesmo tempo, decidi de maneira ativa, assumir o relacionar-me de maneira autêntica como uma verdadeira causa de vida. Neste ato, muitas vezes, tenho a sensação de que é assustador para o outro, e deve ser mesmo. Relacionar-se de maneira autêntica é vulnerabilizar-se e não fomos preparados para tal, ao contrário. E embora tenham cruzado meu caminho algumas pessoas a quem lhes parecia curioso e interessante (aqui em um tom meio Alien) este relacionar-se com autenticidade, ainda assim se apresentava como um grande desafio, com o qual não sabiam ou mesmo não queriam lidar.

Para mim, confesso que quase todas estas vezes senti tristeza e frustração, mas como já disse antes:

Não consigo enxergar outra possibilidade de relacionar-me, como ser humano que sou com o ser humano que você é.

E além disso, faz muito, muito sentido e é recompensador quando encontro um outro “louco” disposto a vir e trilhar comigo esta trajetória imprevisível de libertar-se e construir uma relação autêntica. E o que chamo de relação autêntica? Se trata de observar a mim mesmo, meus sentimentos, desejos e necessidades como ser humano que sou, imperfeito e individual, acolhê-los, aceitá-los, e comunicá-los a outra pessoa com a qual me relaciono e ela o mesmo a mim, para que juntos possamos construir e evoluir nossa relação, da maneira mais satisfatória possível para ambos. E aqui é importante não entender mal. A maneira mais satisfatória para ambos pode, inclusive muitas vezes, ser a decisão de que a relação não deve ir adiante ou não merece investimento naquele momento, simplesmente porque as necessidades de ambos e as maneiras de atendê-las não são conciliáveis.

Certamente, relacionar-se de maneira autêntica não é fácil, porque demanda libertar-se de muitas amarras e crenças, e sobretudo exige vulnerabilizar-se. E nós aprendemos que a vulnerabilidade é ruim, é sinônimo de fraqueza e deve ser evitada, sobretudo nas nossas relações. Nos escondemos atrás de mil máscaras, e por um conflito constante entre o que sentimos e desejamos, e aquilo que supomos (porque na maioria das vezes não perguntamos) que o outro sente ou deseja, ficamos sem palavras. Sem as nossas palavras, aquelas que nos representam, a nós e o que realmente gostaríamos de expressar ou conquistar. Em lugar disso, sentimos medo, de vulnerabilizar-nos e de romper o “laço de aceitação”, que tanto penamos para construir, e optamos por nos comunicar com inverdades nas nossas relações, ou outras tantas vezes, escolhemos o silêncio.

É difícil mesmo expressar aquilo que realmente está vivo em nós quando nosso medo de magoar ou não atender as expectativas do outro (para não perder sua admiração, amor e aceitação) é maior do que a nossa necessidade de ser autêntico e verdadeiro. Porém, quando comunicamos inverdades ou escolhemos o silêncio nas nossas relações, embora estejamos nos protegendo (só a gente sabe do que), desrespeitamos o outro, e o desrespeito leva a desumanização. Mesmo que esta não seja nossa intenção, pois como disse anteriormente, nossos esforços ao comunicar-nos costumam indicar justamente uma intenção oposta.

Ou seja, mesmo na intenção de construir pontes, nós as destruímos, simplesmente porque não aprendemos como construir! Não aprendemos a dizer a verdade nos nossos relacionamentos. Desde o relacionamento amoroso de 20 anos à resposta a um “tudo bem?”, vindo do vizinho no elevador. E por tantas vezes ao longo da vida, vemos as relações se “dissolverem” por um pouco de verdade, independente do tempo que levam, e pessoas que se conheciam tão bem, de repente, se tornarem completas estranhas.

Eu acredito profundamente que a autenticidade é o único caminho para a criação de confiança e de relações verdadeiras. Só é tão difícil, porque não estamos acostumados a ela, mas sempre podemos aprender. E embora, muitos tenham medo, acredito que como seres humanos relacionais que somos, ansiamos por construir relações mais autênticas.

Eu decidi de maneira ativa, assumir o relacionar-me de maneira autêntica como uma verdadeira causa de vida.

E você?

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Thayna Meirelles
Thayna Meirelles

Empatia, Autenticidade e Comunicação Não-Violenta. Para mim o melhor da vida são as conexões. www.cnvkonekti.com