O poder libertador da reprovação

Thayna Meirelles
Thayna Meirelles
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4 min readApr 3, 2017

Logo no comecinho do treinamento, nos perguntaram: “Por que vocês estão aqui? ”

Eu, aproveitando do suposto ambiente de confiança, expus com toda minha sinceridade, minha história recente de busca por sentido profissional, os encontros que me introduziram ao coaching, a surpresa de alguns por eu não atuar profissionalmente como tal, e mesmo a crença de outros no meu potencial e atuação autêntica já tão presentes na minha vida, apenas os oferecendo como verdadeiros presentes aos outros e ao mundo.

Naquele momento, eu acreditava que a beleza e o poder transformador que deposito na escuta empática ativa, e a confiança plena na capacidade da outra pessoa em solucionar seus próprios problemas e expandir todo seu potencial eram certamente o motivo de eu estar ali….

Mas, será que era aquilo mesmo?

Pois foi durante o próprio treinamento, que eu me enfrentei ao verdadeiro motivo de ter feito aquela escolha. Embora convicta de que potencialmente eu poderia trilhar este mesmo caminho através da autoaprendizagem com a facilitação de incríveis mentores e coaches, optei pela opção que resultava em um certificado, gerado após um sistema tradicional de avaliação!

Tive que confessar a mim mesma, e aos meus companheiros daquela jornada, que era o “peso” que os certificados e diplomas sempre tiveram na minha vida, o real motivo de eu estar ali. Havia escolhido aquele caminho entre outros possíveis, porque o “papel” ainda tinha uma grande importância profissional para mim. Era uma das minhas (certamente muitas) crenças limitantes.

Por não conseguir ressignificar a crença, havia decidido “resolver” da maneira mais cômoda: fazer uma formação oficial e conseguir o tal papel que me certificaria como Coach.

Aquela percepção me despertou. Mas o libertador mesmo, aconteceu somente no final da primeira etapa do curso: fui reprovada! Isso mesmo, logo eu que nunca fui familiarizada com as reprovações no sistema tradicional de ensino.

O motivo? Tinha bagagem! Diferente da maioria dos companheiros, eu não parecia à treinadora responsável pela avaliação, ter aprendido o tanto quanto ela gostaria do seu método, eu não parecia tão deslumbrada, e segundo ela, eu não havia entendido bem o que era o coaching…. Eu trazia outras ideias desde o primeiro dia do treinamento, o que na perspectiva dela era ruim, confundia tudo.

Sob a minha perspectiva, ela podia até não estar equivocada na sua avaliação (já que era seu método), mas ao contrário dela, eu estava (e sigo) convicta que minha bagagem só me enriquece! Portanto, conclui esta primeira etapa da formação feliz e muito satisfeita comigo mesma por uma reprovação subjugada àquela ótica.

Afinal, sou muito grata por tudo que já aprendi. Aquilo que me permitiu construir-me como o ser humano que sou hoje. E o que busco no coaching é o mesmo que busco atualmente na comunicação não violenta, e futuramente, quem sabe, buscarei na constelação sistêmica (interesse real) e no que mais decidir conhecer.

Quero me enriquecer, aprender cada vez mais e me construir como a profissional que quero ser, para ajudar ao máximo a outra pessoa a caminhar rumo a uma vida mais satisfatória.

Sigo no processo de formação e ainda tenho a oportunidade de receber este certificado, em uma típica “recuperação” do sistema tradicional de aprendizagem/avaliação, mas sinceramente, não estou preocupada. Estou estudando muito, lendo, conversando, praticando e sobretudo trocando experiências. Até já comecei um outro curso de coaching com um profissional que admiro muito, embora ele não emita certificados (risos. rs).

Sigo em frente totalmente confiante de que ninguém pode dizer o que sou ou não capaz de fazer, ou dizer se estou ou não estou apta ou preparada.

E termino, aproveitando para registrar uma fala do Dominic Barter, que escutei em seu curso introdutório sobre comunicação não violenta, uma semana após a reprovação, e que continua ressoando na minha cabeça e no meu coração, desde esse dia.

Ele disse* que enquanto acreditamos que não estamos prontos e seguimos na academia estudando, nos preparando cada vez mais e mais para só depois nos engajarmos, não contribuímos em nada. Lá fora, no mundo, as coisas seguem iguais, e os que criaram e mantém as estruturas que tanto nos incomodam seguem felizes por não acreditarmos em nosso poder de mudança.

Eu decidi me engajar pela mudança que quero ver no mundo e tenho certeza que sou capaz de fazer esta mudança. E você, no que acredita que é capaz de fazer? E o que está esperando para se engajar?

* Talvez o Dominic tenha usado palavras um pouco diferentes, mas foi assim que ressoou em mim! 😊

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Thayna Meirelles
Thayna Meirelles

Empatia, Autenticidade e Comunicação Não-Violenta. Para mim o melhor da vida são as conexões. www.cnvkonekti.com