A floresta e as nuvens
Uma dessas histórias é verdade. Uma dessas histórias será verdade para você, só depende das suas escolhas. Não que você tenha algum controle sobre elas, entretanto.
Ele já tentou se matar cinco vezes. Nunca conseguiu porque, afinal, nesses 50, quase 60 anos de vida, ele sempre pôs os outros à sua frente em termos de prioridade. Não havia motivo para isso mudar de uma hora para outra. Hoje nenhum amigo dele sabe disso. Ele vive em um apartamento de um prédio bem alto em Nova York, como se a altura o confortasse por representar a desconexão e apatia que ele sente pelo resto do mundo.
Ele raramente sai de casa. Ele raramente sorri. Ele raramente aceita elogios — não entende por que as pessoas elogiam umas as outras com palavras ao invés de atitudes. A infelicidade do passado o impede de encontrar alguma alegria no presente.
A boa notícia que ele ainda não sabe é que agora ninguém pode machucá-lo ou afetá-lo. Caso tentem, ele só dará um sorriso vago e se afastará. A má notícia é que o amor também não o afeta mais, e mesmo para isso o seu sorriso sempre permanecerá vago.
Ou, na verdade, nada disso aconteceu. Depois de perceber que nunca seria capaz de amar novamente, antes de completar a terceira década de vida ele pegou o carro, dirigiu até a floresta, tomou vários comprimidos de soníferos para que nunca mais acordasse e ali ficou para sempre. Ele sentiu alívio antes de cair no sono ao som do canto dos pássaros: finalmente, não teria mais que lidar com a decepção de ser a pessoa que ele era e de amar quem ele amava.
Um homem acorda, confuso, depois de um sonho no qual o vento sopra e faz as altas árvores de uma floresta balançarem. Logo as nuvens vistas da janela do quarto dele o fazem adormecer novamente.
Um esqueleto em uma floresta do leste dos Estados Unidos sonha com uma vida longa em um apartamento perto do céu, como se a altura o pudesse proteger das coisas que o fizeram desistir da vida.
Nesse sonho, bons amigos o entendem e o confortam. As únicas lágrimas que ele chora são de felicidade.
