A reinvenção do escritório
A volta ao trabalho presencial vai se dar em espaços tão aconchegantes quanto a casa, com ambientes para reuniões em grupo e outros que garantam privacidade e concentração quando necessário (e com o apoio da tecnologia)
Por Denize Bacoccina
Especial para a The Funnel
O escritório nunca mais será o mesmo. A experiência do trabalho remoto foi desafiadora para muita gente, mas o fato é que ela mudou, de maneira definitiva, o modo como encaramos os espaços corporativos. A transformação é digital, mas não só. O ambiente físico também precisa se adaptar às novas necessidades.
O desafio, agora, é como trazer as equipes de volta. Muita gente gostou do home office, da flexibilidade para cuidar dos assuntos pessoais e domésticos e, principalmente, de se livrar do tempo gasto em deslocamentos. Para isso, as empresas precisam oferecer um espaço que seja tão aconchegante quanto a casa das pessoas, com ambientes para reuniões em grupo e outros que garantam privacidade e concentração quando for necessário. O escritório do futuro precisa usar a tecnologia para aproximar as pessoas, como as novas telas gigantes para salas de reunião que estão sendo instaladas na sede do Google, em Mountain View.
Uma das tendências é oferecer o máximo de soluções para a vida cotidiana dentro da empresa, do condomínio ou da vizinhança. De áreas mais confortáveis para almoçar a serviços como creche ou um espaço para aula de yoga ou relaxamento. “Nós não projetamos mais escritórios. Chamamos as empresas de campus. Tudo o que acontece na vida, agora acontece no campus”, diz a arquiteta Bruna de Lucca, do Studio BR Arquitetura, uma das empresas que vêm redesenhando o jeito de ser dos espaços de trabalho.
“Os projetos têm que ser mais voltados para o ser humano”, diz o arquiteto Antonio Mantovani Neto, do escritório Pitá Arquitetura, que tem em seu portfólio empresas como LinkedIn e Natura e vai fazer a Inteli, faculdade de tecnologia que está sendo criada em São Paulo. Isso inclui espaços com configurações flexíveis, áreas ao ar livre e muitas plantas.
A conexão com a natureza é uma das tendências. A biofilia prega não apenas o uso de plantas, mas a busca do bem-estar com elementos naturais que vão da mobília à iluminação natural. “Já trabalhávamos com isso há muito tempo, mas agora as empresas estão mais abertas”, diz o diretor de marketing da It´s Informov, Marcos Saade.
Acompanhe algumas das tendências para os novos escritórios.
Flexibilidade do espaço
Se o trabalho funciona em sistema híbrido (parte do tempo presencial e parte remoto), o espaço também precisa ser flexível para se adaptar às diferentes necessidades de uso. No projeto da It´s Informov (acima), as paredes da sala de reunião abrem e o espaço se integra ao restante do local. Na sede do Google (abaixo), cadeiras, mesas, armários, gaveteiros e divisórias têm rodinhas e podem ser rearranjadas de acordo com a necessidade.
Biofilia
O uso de plantas e de materiais que remetem à natureza já era uma tendência. Mas ganhou mais força agora, na busca pelo bem-estar. O conceito foi amplamente utilizado pela It´s Informov nos projetos para o iFood (acima) e na própria sede da empresa (abaixo), que tem um andar totalmente dedicado à biofilia. O Studio BR também usa bastante o conceito em seus projetos. “Existem muitos benefícios para a saúde, e essa vai ser uma grande preocupação no pós-pandemia”, diz Bruna de Lucca.
Espaços ao ar livre
Locais ao ar livre estão sendo integrados aos projetos, oferecendo mais uma opção para reuniões ou mesmo trabalho individual, como no projeto da It´s Informov (abaixo). Ou, de forma mais ambiciosa, na nova sede da Magalu (acima), onde o espaço pode ser usado para trabalho ou como área de convivência. O Google já está instalando tendas em ambientes abertos na sede da Califórnia.
Ambientes de convivência generosos
A copa ganha uma nova importância porque muitas pessoas começaram a levar comida de casa, seja por uma busca de alimentação mais saudável ou porque não se sentem à vontade para frequentar restaurantes. A cozinha apertada do passado dá lugar a uma área de convivência, como no projeto da It´s Informov para a Sumitomo (acima). Também pode ser um espaço para múltiplos usos, seja para reuniões ou uma tarefa que exige concentração, num ambiente diferente, como no projeto da Pitá (abaixo). “O espaço do cafezinho tímido acabou. Espaços de café, almoço e colaboração precisam ser mais generosos”, diz Antonio Mantovani Neto, da Pitá.
Reunião híbrida
O Google criou salas de reuniões no estilo Campfire (uma roda de conversa ao redor da fogueira), onde telas grandes mostram os participantes que estão online, como num estúdio de TV. A intenção é reduzir a assimetria entre a comunicação presencial e online, colocando todos os participantes no mesmo grau de igualdade. Já existem escritórios de arquitetura com projetos desse tipo no Brasil.
Áreas de silêncio e foco
Ao mesmo tempo em que os espaços são mais abertos e multiuso, é preciso ter algumas áreas para momentos de foco e concentração. Podem ser cabines com isolamento acústico, como neste projeto da It´s Informov (acima) ou espaços abertos, como na proposta da Pitá (abaixo). “As pessoas se acostumaram a trabalhar com mais foco em casa e vão precisar desses espaços no escritório”, diz Marcos Saade, da It´s Informov.
