Guia do hackathon

Redação The Funnel
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A definição de um objetivo claro, atenção na elaboração do regulamento e uma boa curadoria dos participantes são alguns dos pontos fundamentais para o sucesso do evento

Por Dubes Sônego

Os hackathons podem parecer, aos olhos de muitos que observam de fora, uma reunião de nerds programadores movida a pizzas e bebidas energéticas. No entanto, atualmente os eventos do tipo vão muito além do estereótipo e ocupam espaço crescente na agenda de grandes companhias, escolas e universidades, no Brasil e lá fora. Apenas no ano passado, foram realizados 5,6 mil hackathons, públicos e corporativos, em todo o mundo. De acordo com levantamento, realizado pela Hackathon.com, maior comunidade online de hackathons do mundo, o número representa um aumento de mais de 40%, na comparação com 2016.

Um dos principais motivos é a versatilidade dos eventos do tipo. Além de serem úteis no processo de pesquisa, desenvolvimento e teste de novos produtos, vêm sendo usados para recrutamento e seleção de novos talentos, colaboração com startups, projeção do posicionamento tecnológico da empresa no mercado (seus valores e sua cultura voltada à tecnologia), melhora do relacionamento entre as equipes de diferentes departamentos e a reciclagem de executivos em novas tecnologias, entre outras finalidades. “A principal vantagem é a mudança de mentalidade dentro da empresa, a possibilidade de troca de informações, o contato com novas tecnologias e a oportunidade de testá-las”, diz Rodrigo Terron, presidente da maior empresa de organização de hackathons do país, a Shawee.

No Brasil, segundo levantamento feito por Terron, foram realizados cerca de 200 eventos do tipo. Companhias como Globo, Itaú, Ultragaz, Elo e Uber, já estão usando. O tamanho dos eventos, o custo e o modelo, podem variar de acordo com a empresa e o objetivo do hackathon. Mesmo um grande hackathons, porém, a recomendação é de não passar de 150 participantes. O número ideal, avalia Terron, fica entre 40 e 45 pessoas. “Costuma dizer que hackathon é como casamento. Pode ser mais íntimo e barato, ou muito grande e muito caro”, afirma Terron. “Um hackathon corporativo bacana, ‘com flores’, custa por volta de R$ 120 mil. Um menor, pode custar a partir de R$ 70 mil, R$ 80 mil. Já fiz de R$ 30 mil a R$ 500 mil. O valor, porém, depende também do porte e do prestígio da empresa no mercado”.

O tamanho da empresa, no caso, leva a expectativas maiores dos participantes e a exigência de investimentos maiores. A mesma lógica vale para a premiação, que precisa ser aderente. Por outro lado, quem é grande tende a ter facilidade para fechar parcerias para baratear os custos, outra boa prática na realização de hackathons. Confira a seguir mais algumas dicas de Terron e de outras duas empresas do ramo, a americana Devpost e a israelense Blee, para quem tem interesse em usar esse tipo de ferramenta de gestão.

Prazo

A organização de um hackathon leva tempo. Recomenda-se começar com 60 dias de antecedência. Um período de inscrições razoável, por exemplo, é de entre 25 e 35 dias. Outros dez dias são necessários para que os candidatos selecionados possam ser avisados a tempo de se programarem para participar.

Local e data

A escolha de um local com infraestrutura tecnológica adequada, de fácil acesso aos sistema de transporte público e considerado fundamental para que as pessoas participem. A Devpost recomenda ainda a realização somente aos finais de semana, desde que sem feriados e outros grandes eventos coincidindo.

Objetivo

A primeira pergunta que se deve fazer é: por que fazer um hackathon? Ter um objetivo claro, nem amplo, nem específico demais, e alinhado aos objetivos estratégicos da empresa, é fundamental. Saber que não se trata de uma fábrica de produtos, também. “Há uma mentalidade no mercado de que a empresa vai dar pizza para os desenvolvedores e ficar com o resultado do que vão produzir”, diz Terron. “No Vale do Silício, por exemplo, quem desenvolve costuma ficar com o produto”.

Integração interna

O ideal é envolver diversos departamento em um mesmo hackathon. Até porque os custo são altos e a natureza do evento permite objetivos casados. A área de comunicação aproveitar para dar visibilidade ao posicionamento tecnológico da empresa; o RH pode selecionar talentos e treinar pessoas; a área de tecnologia pode aproveitar para divulgar e levar desenvolvedores parceiros a testar novas APIs, e o comercial pode convidar potenciais clientes, entre outros exemplos.

Regulamento

O regulamento é a alma do evento e precisa ser muito bem trabalhado. Isso nem sempre acontece. “Muitas empresas copiam e colam o regulamento de outros eventos”, afirma Terron. Mas nem sempre o que serve para um, serve para outro. É preciso envolver o jurídico e pensar em tudo antes. Quais as regras, por exemplo, sobre quem fica com o produto do hackathon? Se for do desenvolvedor, a empresa tem ou não preferência de compra? Pode ou não vetar a venda a concorrentes? Segundo a Devpost, a comunicação clara dos critérios de avaliação ajuda as equipes a desenvolverem soluções mais adequadas ao objetivo.

Divulgação

A capacidade de atrair participantes depende do relacionamento prévio da empresa com o ecossistema de inovação (universidades, aceleradoras, startups). Quem não tem, ou chama quem tem para ajudar, ou correr o risco de ficar sem candidatos. Se tudo for feito corretamente, a demanda será maior que a oferta de vagas e será possível escolher a combinação de perfis adequada.

Participantes

A curadoria dos participantes é outra etapa fundamental. É preciso garantir diversidade racial e de gênero e um ambiente de tolerância para que possam surgir ideia mais diversas, diz Terron. “Assim funciona muito melhor”. Outro erro comum é selecionar só profissionais experientes. Isso porque tecnologia, é uma área muito dinâmica e o evento, em si, tem caráter educativo. “O ideal é que entre 30% e 40% dos inscritos nunca tenham participado de um hackathon antes”, diz Terron.

Produção

Contratar facilitadores e profissionais de eventos ajuda a evitar erros como, por exemplo, a oferta de wifi de baixa qualidade, a falta de tomadas ou a escolha de um lugar distante e de difícil acesso para o hackathon. Aos facilitadores cabe quebrar o gelo em momentos em que pode haver impasse, como na formação das equipes. A Blee recomenda ainda a disponibilização de ao menos três mentores para orientar os grupos: um para tirar dúvidas das equipes sobre o problema a ser resolvido, um de perfil técnico para dizer que soluções técnicas são viáveis e um, de negócios, para alinhar as soluções propostas aos objetivos de negócios da empresa.

Alimentação e conforto

É desaconselhável entupir os participantes de pizza e energético. Para garantir uma boa experiência aos participantes, o mais recomendado é a criação de uma área de descanso e a oferta de opções variadas de alimentação, inclusive para quem é vegano ou alérgico a alguns tipos de alimentos.

Banca julgadora

O cuidado com os juízes é igualmente importante. Não se deve chamar um diretor que não sabe nada de tecnologia só por política interna, diz Terron. Também é preciso ter gente com perfis diversos. Segundo a Devpost, bons juízes, com credibilidade no mercado, ajudam a atrair participantes.

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