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Inicie quer levar a transformação digital das escolas para além do Zoom

Redação The Funnel
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Published in
6 min readDec 1, 2020

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Grupo forma professores na preparação de aulas usando outras ferramentas digitais e planeja lançar a “Uber” das atividades extracurriculares

The Funnel Brasil

A pandemia forçou as empresas a se preocuparam com a transformação digital e tornou as plataformas de videoconferência quase onipresentes na vida de trabalhadores e estudantes. Por outro lado, também evidenciou o desgaste gerado por longas teleconferências e a inadequação do ensino tradicional às aulas virtuais e remotas.

A brecha vem sendo aproveitada por startups de educação, as chamadas edutechs, como as do Grupo Inicie. Criado há cerca de cinco ano, a partir de uma consultoria especializada em transformação digital para instituições de ensino, a Nuvem Mestra, o Grupo Inicie vêm ampliando sua atuação junto às cerca de 700 escolas clientes, no Brasil, Chile, Argentina e Colômbia. Está investindo também na diversificação de produtos para atender à alta repentina da demanda. “O objetivo é solidificar a transformação digital nas escolas e complementar o trabalho com soluções que achamos impactantes”, diz Valdecir Cavalheiro, CEO do Inicie.

Uma das principais novidades, com lançamento previsto para janeiro, é a plataforma Youtz, especializada em atividades extracurriculares. Trata-se de uma espécie de “Uber” das aulas particulares de reforço, e de qualquer outra disciplina não ministrada regularmente pelas escolas, diz Cavalheiro. “Queremos colocar professores na plataforma para que alcancem os estudantes e para que as escolas, quando desejarem ter alguma disciplina extra, possam encontrar facilmente profissionais capacitados para oferecê-las”, diz o empresário.

Outra das apostas do grupo é a Edutt, um streaming educacional, nos moldes da Netflix, mas com conteúdos socioemocionais e conteúdos escolares tradicionais “com uma pegada tecnológica”, na forma de vídeos e podcasts. O Edutt foi lançado em abril e vêm recebendo recursos e material extra. Até o final do ano, a empresa espera ter no ar mais de 2 mil horas gravadas. “A idéia é dar autonomia o professor e os estudantes, para que possam se ajustar a conteúdos mais adequados à escola moderna”, diz Cavalheiro.

Dois exemplos de como o grupo pretende reforçar a Edutt são os programas Edutt S@S (Startup at School) e Eduth Esportes. O primeiro, voltado à educação empreendedora, incluirá uma espécie de concurso, diz o empresário. Ao longo dos anos do ensino fundamental e do ensino médio, os alunos poderão desenvolver projetos que, no final, serão avaliados por uma banca de investidores, mais ou menos como no reality de TV Shark Tank.

O segundo programa será baseado na experiência de vida de atletas de alto desempenho, que vão explicar como lidam com adversidades. Os dois primeiros nomes escolhidos pelo grupo são os do tenista Bruno Soares e o do ex-atleta olímpico do taekwondo Diogo Silva. “A ideia é inspirar os alunos e mostrar que, por trás de tudo, do momento na TV em que o atleta levanta o troféu, tem muita coisa, muito trabalho, muita frustração”, diz Cavalheiro.

Com a perspectiva de que o volume de conteúdo produzido para a Edutt cresça, e com o acesso a um grande número de professores através da Youtz, o Inicie já fala em se tornar também fornecedor de sistemas educacionais.

O modelo, ao contrário do padrão de mercado, seria aberto, colaborativo, como nos softwares livres, diz Cavalheiro. Segundo o empresário, o produto será montado com base no conteúdo feito por parceiros e vendido por um décimo do preço dos sistemas tradicionais. “Essa é uma nova vertente de negócios que estamos desenvolvendo e que, do ponto de vista metodológico e pedagógico, faz muito sentido”, afirma.

Dinâmica digital

Hoje, a principal atividade do Grupo Inicie é a consultoria em transformação digital. Segundo Raul Ishikawa, diretor responsável pelas operações do grupo, em geral, quando entra em um escola, o grupo faz um diagnóstico do grau de transformação digital, uma ação motivacional e entra com material de formação usando ferramentas próprias e plataformas Google — a empresa é uma das principais parceiras do Google for Education na América Latina. “O objetivo é dar suporte não só à adoção de ferramentas digitais mas também na criação de uma cultura de inovação e formação continuada”, diz.

No processo, uma das etapas chave é a formação de professores, para que sejam capazes de usar as tecnologias oferecidas pelo mercado para melhorar a experiência dos alunos em sala de aula, afirma Ishikawa. “Com a pandemia, as escolas fizeram uma transposição do modelo presencial para o virtual do jeitão que era. E, agora, as pessoas estão um pouco cheias”, diz Cavalheiro. “Temos a percepção de que são necessárias adaptações substanciais. No nosso modelo, um vídeo pode ter, no máximo, cinco minutos”, afirma.

Em vez da exposição de conteúdo pelo Zoom, uma aula nos moldes recomendados pelo Inicie pode começar com o professor fazendo uma breve introdução ao tema, exemplifica Ishikawa. Depois, pode vir uma atividade em um formulário do Google, seguida de uma atividade em grupos, usando salas separadas na plataforma de videoconferência do Google. Na etapa seguinte, o professor pode voltar a reunir todos na mesma janela para avaliar os resultados da atividade e terminar com uma visita a um museu virtual.

É um exemplo entre muitos possíveis, diz o executivo. “Como o professor vai montar essa sequência didática, é como podemos ajudar”, afirma. “Ele pode pinçar nas nossas plataformas sequências de atividades e incluir em templates de aulas já disponíveis e adaptáveis”. “Se o professor não cria uma atividade que gera interação, não onsegue prender a atenção do aluno. A gente pensa na solução completa. Entramos com o tripé tecnologia, formação continuada e uma plataforma simples, com materiais segmentados”, afirma Cavalheiro.

Novo normal

Até agora, os principais clientes do Inicie eram universidades e escolas médias, como as das redes Cultura Inglesa, Pueri Domus e Maple Bear, citadas pelo empresário. Mas com a expansão da Edutt e a plataforma da Youtz, ele acredita ser possível alcançar também pequenas escolas.

O momento é particularmente favorável ao movimento. Mesmo com o fim da pandemia, que ainda não se sabe até quando vai, a expectativa é de que a demanda por transformação digital nas escolas siga em alta.

Um levantamento feito no início do ano pela aceleradora de empreendedorismo educacional Future Education, sobre o impacto da Covid-19 no cenário brasileiro de inovação na aprendizagem, indica que a principal estratégia das escolas para crescer será investir em novas tecnologias (37,2%) e produtos (31,4%). De acordo com a mesma pesquisa, os líderes da maior parte das 114 instituições ouvidas afirmam que o mercado educacional brasileiro passará por uma disrupção nos próximos 24 meses.

“O modelo que se avizinha é o híbrido”, avalia Cavalheiro. “No ensino médio, a legislação já permite que 40% do conteúdo seja moldado por cada escola. Claro que no ensino infantil há mais dificuldade, pelas peculiaridades. Mas em outras etapas escolares dá para intensificar isso”.

De acordo com Ishikawa, dos clientes do grupo no ensino superior, muitos já decidiram que não vão mais ter 100% das aulas presenciais após a pandemia.

“Deveremos começar a ver soluções mais interessantes para os pais, também, naquelas escolas que investiram mais em transformação digital”, diz o executivo. “Na esfera pública, estamos alcançando soluções interessantes, embora a infraestrutura ainda seja empecilho”.

Na ponta do lápis

A meta do grupo para o próximo ano, segundo Cavalheiro, é crescer, em número de escolas, de 700 para 1,2 mil unidades e, em número de estudantes alcançados, de 27 milhões para entre 4 milhões e 4,5 milhões, no Brasil e em outros países da América Latina.

No ano passado, a receita total do Inicie foi de cerca de R$ 7 milhões e, neste, mesmo com a pandemia, deve chegar a R$ 10 milhões, afirma Ishikawa. Mas, com as novidades, a expectativa é de que, já em 2021, o resultado mais do que dobre, para R$ 24 milhões.

No médio prazo, segundo o grupo, o objetivo é alcançar valor de mercado de R$ 100 milhões, atrair um sócio-investidor e acelerar o processo de crescimento, de forma orgânica ou através de aquisições de outras empresas de tecnologia. “Nossa preocupação e olhar para a solução de ponta a ponta. Isso facilita para atender escolas que têm plataforma, mas não têm conteúdo. Ou as que têm conteúdo, mas não têm plataforma”, diz Cavalheiro.

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