Caroline Capitani, Caroline Capitani, vice-presidente de digital design e inovação na ilegra. / Foto: divulgação.

Mercado financeiro começa a perceber a necessidade de focar no público 60+

Redação The Funnel
The Funnel
Published in
4 min readAug 24, 2020

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Inserção da camada mais longeva da população no mundo digital abre a perspectiva de alcançar também parentes e pessoas próximas mais novas

*Caroline Capitani

As empresas de tecnologia financeira, há muito focadas nos millennials, começam, como um reflexo direto do mercado, a atender as pessoas mais velhas e seus parentes mais próximos. Um pequeno mas crescente número de empresas vêm oferecendo ferramentas online ao púbico sênior e também aos seus filhos adultos, para que possam gerenciar e monitorar as finanças e o bem-estar dos pais.

O surgimento desses serviços é resultado dos esforços de aplicação de tecnologia para atender às mudanças nas necessidades de uma população em constante envelhecimento. A capacidade de enxergar as demandas tecnológicas e financeiras do público sênior tem como consequência direta a manutenção da relevância no atual contexto competitivo do mercado. Além disso, traz como bônus a oportunidade de criar vínculos e um relacionamento próximo com os filhos adultos dos clientes de mais idade, que provavelmente serão beneficiários de uma transferência financeira de seus pais no futuro.

Quando pensamos em tecnologia para o mercado dos 60+, devemos considerar não apenas pessoas mais velhas, mas também a rede ao seu redor. Ela é formada por pessoas mais familiarizado com o uso de novas tecnologias, geralmente na faixa dos 30 ou 40 anos, e inclui filhos e colegas de trabalho. Por isso, temos que pensar em soluções financeiras voltadas a famílias multigeracionais, onde os jovens estão ajudando os pais com suas finanças e vice-versa.

As novas ferramentas geralmente utilizam formas de inteligência artificial para ajudar os usuários a executar uma série de tarefas, desde o pagamento de contas até o monitoramento de atividades financeiras suspeitas. Os serviços também podem ajudar a coibir a exploração por cuidadores inescrupulosos ou ajudar os membros da família a restringir o comportamento de pais que podem já apresentar declínio cognitivo.

Apesar das oportunidades que oferece, o mercado para esses serviços ainda está engatinhando. A maioria dos produtos das fintechs têm como foco a geração millennial, que possui grande familiaridade com tecnologia, conectividade e digitalização de processos. No entanto, é provável — e necessário — que isso mude, dado o volume financeiro acumulado pela aposentadoria de muito dos baby boomers.

Para pensar em soluções para esse público, é importante considerar que as questões da idade vão exigir o ajuste de produtos e serviços de acordo com as limitações que advêm do envelhecimento. A dificuldade de leitura de letras pequenas, por exemplo, é uma mudança que envolve desde o departamento de marketing, passando pela publicidade e os canais de distribuição, até chegar ao ponto de venda. Ao contrário dos mais novos, as pessoas acima de 65 anos, por exemplo, necessitam de 50% a 100% mais tempo para completar uma tarefa que adultos com menos de 30 anos, de acordo com estudo realizado pela Hype60+.

Entre as soluções disponíveis no mercado e voltadas para esse público, vemos várias iniciativas estrangeiras. Muitas com aplicações que podem servir de inspiração para o mercado brasileiro, que tem como característica distintiva a transformação de sua pirâmide etária e a afeição crescente por soluções digitais. Nesse contexto, algumas fintechs e empresas se destacam:

  • Willing: Solução voltada para auxiliar no planejamento para o final da vida através da elaboração de testamento e questões imobiliárias. Foi fundada em 2015, nos EUA.
  • Cake: Startup que visa facilitar o planejamento avançado de final de vida. O perfil online do Cake armazena as preferências de final de vida, que podem ser compartilhadas com as pessoas-chave do usuário. Também foi criada nos EUA, em 2015.
  • Profile Pensions: Empresa inglesa, nascida em 2013, que fornece consultoria para aposentadoria.
  • Kindur: Empresa de tecnologia financeira focada em ajudar baby boomers no planejamento da aposentadoria, com aconselhamento digital. Um dos atrativos é o mapeamento de custos de poupança, seguro, previdência social e saúde, indicando às pessoas mais velhas quanto terão que gastar com isso.
  • True Link Financial: Ferramenta de monitoramento em tempo real de contas bancárias para proteger idosos contra fraudes e roubo de identidade. Permite que os usuários ou seus filhos adultos imponham restrições aos valores em dólar ou aos tipos de transações permitidas no cartão oferecido pela empresa.
  • Golden: Fornece ferramentas e recursos para guiar o público sênior na melhoria da saúde financeira.
  • Silver Bills: Auxilia no pagamento de contas de idosos, através do recebimento e verificação das mesmas. A tecnologia da empresa recebe as contas dos clientes eletronicamente, examina e paga.
  • Eversafe: Protege a saúde financeira dos idosos e de suas famílias contra fraudes, exploração e questões relacionadas à idade.
  • Capital One: Holding americana de bancos que investe no desenvolvimento de um conjunto de vídeos gratuitos chamado “Ready, Set, Bank” para treinar idosos em muitos aspectos no uso do internet/mobile banking, configurar o pagamento automático de contas e muito mais sobre cada tipo de transação.

A pandemia está apresentando o público sênior a uma realidade cada vez mais conectada, com ferramentas que auxiliam na resolução de questões da rotina diária — entre elas as questões financeiras. A conclusão a que muitos chegam é a de que a pandemia de COVID-19 trouxe como efeito colateral uma aceleração de anos na mudança de comportamento do consumidor.

Como disse Joseph Coughlin, no livro A economia da longevidade (tradução livre): “Quando as empresas fazem planos para o futuro, nada deveria ser mais importante do que se preparar para um mundo mais velho”. Portanto, olhar para essa camada da população, entender suas dores e dificuldades e pensar soluções que, de fato, façam sentido é um caminho bastante importante, além de ser inclusivo atender à demanda de um público cada vez mais exigente e em crescimento contínuo.

* Caroline Capitani é VP de Digital Design e Inovação na ilegra

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