O incômodo de ser um incomodado

Bernard De Luna
Jellyfish Factory
Published in
6 min readJun 7, 2016

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Olá, como você está? Tenho achado você um pouco diferente. Acho que está um pouco incomodad@ certo? Se não, por que raios você estaria lendo esse texto?

Hoje sabemos que temos todos os motivos do mundo para reclamarmos, política, religião, falta de segurança, mobilidade, saúde, dinheiro, etc etc etc (sei que nao posso repetir o etc, mas e se eu quiser? Por que não posso?)

Todos te dizem a vida toda como você deve se comportar, como você deve se vestir, que tipo de mulher ou homem você deve gostar, que você está ficando gordo ou magro, até mesmo o que você deveria ser quando crescer. Sabe o que é mais triste? É que quando você segue a risca tudo que falam, você se torna uma pessoa desinteressante, daí vem uma pessoa como eu e fala "você precisa jogar tudo para o alto e ser você mesmo!", só não entendo como o "você mesmo" entra nessa frase, já que tudo que somos é através de influencias e manipulações.

Veja meu caso, quando criança queria ser médico, mas sempre gostei de criação, o que me fez na adolescência migrar para publicidade. Muitas pessoas achavam que era a minha cara: Tudo a ver com você. Você é descolado, comunicativo, talentoso, tem a cara de trabalhar em uma agência.

Nunca trabalhei em uma agência na vida. Quando decidi entrar na publicidade, fiz apenas por um motivo: Ganhar estratégia e planejamento de criação, para utilizar em meus projetos web que já desenvolvia.

en: I planned each chartered course
Each careful step along the by way
And more, much more than this
I did it my way

pt: Eu planejei cada caminho do mapa
Cada passo cuidadoso ao longo da estrada
E mais, muito mais que isso
Eu fiz do meu jeito

Usei a publicidade, usei a minha faculdade, usei minha rede de amigos, usei artigos, inspirações, usei empresas, tudo isso com o meu objetivo, inventar algo. Me tornei um inventor (não, não é um comercial da Nextel), fiquei famoso por isso, viajei bastante por isso. Fui tão longe, que um dia estava palestrando em inglês para americanos, mostrando o que estávamos criando aqui no Brasil. E sabe, isso me deu apenas uma certeza: Se eu continuar assim, eu vou acabar dando certo na vida. Isso é o que todo mundo gostaria de ouvir de si mesmo certo?

Por isso, mudei minha vida toda de novo. Saí da segurança que eu tinha, abandonei um nome que tinha na comunidade de desenvolvimento no Brasil, que construí com muita honestidade, muita amizade e alegria. Muitos podem duvidar do meu talento, do meu trabalho, conhecimento, sorte, mas ninguém nunca pode duvidar da minha paixão e carinho por cada um que eu conhecesse nesse caminho.

en: Regrets I’ve had a few
But then again too few to mention
I did what I had to do
And saw it through without exemption

pt: Arrependimentos, eu tive alguns
Mas, ainda sim, tão poucos para mencionar
Eu fiz, o que eu tinha que fazer
E eu vi tudo, sem exceção

Opa, por 1 segundo esqueci que você tava aí. Queria te perguntar, o que você definiu para você como caminho a ser trilhado? Se você não tem um objetivo, você não tem um caminho para seguir, e o pior, se você não tem um caminho, alguém lhe dará um, e você não terá poder para decidir não trilhá-lo.

Enquanto amigos discutiam linguagem, eu aprendi UX, enquanto amigos discutiam estilos de design, eu aprendi métricas, enquanto amigos discutiam salários, eu empreendia. Enquanto amigos se incomodavam, eu incomodava.

Parece um texto de Valeska Popozuda, eu sei. Mas, o fato é que hoje contesto tudo que me dizem, as vezes é bom, eu sei, mas as vezes é improdutivo. Para ilustrar melhor, estou nesse momento no Aeroporto de BH (Confins) a caminho de Governador Valadares dar algumas palestras em instituições de ensino. Qualquer um pensaria, rapaz boa sorte, se comporte, cuidado pois instituições são tradicionais. Ninguém chega e fala: O que você vai aprontar hoje? O que de mais louco você poderia fazer numa faculdade? Como você pode tornar essa palestra inesquecível para sua audiencia?

Penso e temo que minha palestra possa ser a banda JQuest tocando a música "Fácil" em um show ao vivo. Sempre igual, o público se adequando a banda, e não o contrário (não os critico, adoro a banda e a música em si), mas eu não quero esse caminho. Não quero competir com um vídeo da minha mesma palestra no Youtube. Quero poder entreter, ensinar, desconstruir, inspirar, etc etc etc (já disse que posso usar e pronto)(extremamente bem feito Almir Filho > https://speakerdeck.com/almirfilho/the-creative-developer)(não sei se posso usar vários parenteses, mas fiz!), para isso, estou disposto a fazer tudo, tudo que tenho feito na minha vida, e muito mais, do rídiculo ao genial, do criativo ao culinário, do músico ao palhaço de circo, pois só quando eu me cansar, olharei e verei que fiz a minha vida um caminho cheio de aventuras, sem loops, sem bloqueios.

en: I’ve lived a life that’s full
I travelled each and every highway
And more, much more than this
I did it my way

pt: Eu vivi uma vida por inteiro
Eu viajei por cada e em todas as estradas
E mais, muito mais que isso
Eu fiz do meu jeito

Claro que as vezes bate uma vontade de descansar, claro que as vezes bate uma vontade do conforto do loop, mas é novamente o lado incomodado reclamando do incomodo de outro incomodado. Porém, quando você está desacreditado, a vida lhe mostra que você se tornou uma pessoa cara, pois acumulou tanta experiência, tantas "soft skills", que passou a ser um mutante. Você se adequa aos problemas, selecionando suas melhores armas(mutações) para resolvê-los, mas não de forma isolada, sempre combinativa e inventativa. É a história do Ben10 X Mistica (Tá! Não existe uma historia ainda entre os dois…. ainda), onde o Ben10 usa monstros com habilidades específicas para de forma isolada resolver um problema, enquanto a mística utiliza habilidades específicas sempre de forma combinativa e inventativa, onde o ser imitado traz um pouco do hospedeiro, diferente do Ben10.

Fato é que você precisa colher troféus, pois eles lhe darão afago no dia da derrota. Eu colhi muitas derrotas, perdi muito dinheiro, perdi chances de mudar minha vida, recebi não quando achava que o sim era certo, mas… (sempre achamos que tem um mas, quando falamos algo triste), mas não tem mas. Perder é ruim, fracassar é ruim, pronto.

en: Yes, There were times
I’m sure you knew
When I bit off more than I could chew
But through it all, when there was doubt
I ate it up, and spit it out
I faced it all, and I stood tall
And did it my way

pt: Sim, Teve horas
Eu tenho certeza de que você sabe
Quando eu mordi mais que eu podia mastigar
Mas, entretanto, quando havia dúvidas
Eu engoli e cuspi fora
Eu encarei tudo isso e continuei erguido
E fiz do meu jeito

Por isso, meu conselho é… ou melhor, por que conselho? Não te aconselho a nada, eu inspiro com minha história, para te aconselhar, eu deveria supor que você é igual a mim, dane-se isso. Se eu pudesse me aconselhar…Não! Eu não posso aconselhar o meu eu do passado, pois ele também não é igual a mim.. dane-se isso também. Vivi tudo que precisei viver, escolhi caminhos, me arrependi de caminhos, mas cheguei no meu objetivo, um dia escrever esse artigo, sem armaduras, sem fórmulas, simplesmente falando que apenas se incomodar não vai te fazer trilhar nada, trilhe, evolua, e incomode, pois essas pessoas incomodadas repensarão também seus caminhos… É isso! Entendi! É isso que farei mais tarde nas palestras. Deseje-me boa sorte e uma dose de loucura!

OBS: Obrigado Frank Sinatra pela música My Way.

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Bernard De Luna
Jellyfish Factory

Head de Produto na ThoughtWorks e Fundador do Curso de Produtos Incríveis — https://www.instagram.com/bernarddeluna