Você ainda vai ser o Patinho Feio

Ian Romano
Jellyfish Factory
5 min readApr 24, 2016

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Você ainda vai se sentir o patinho feio da história, muitos irão te dizer não mas não se preocupe, isso é normal.

Se você ainda está começando fique tranquilo, ainda vai ouvir muitos “nãos” e muitos não vão acreditar em você, principalmente se trabalhar com tecnologia ou inovação. Isso acontece com muitos em determinado momento e é completamente natural. Faz parte do ser humano estranhar o que não é comum e afastar o que é diferente, isso vem do nosso inconsciente e acontece com todos em determinados níveis, em alguns mais que outros mas tenha a certeza que acontece.

Há pouco tempo li um livro muito interessante que se chama: Subliminar. Como o inconsciente influencia nossas vidas, do Leonard Mlodinow. É um livro que recomendo a todos, mostra muitas interpretações baseadas na ciência e em estudos experimentais. O Leonard Mlodinow é um cara que passei a admirar bastante, pela sua simplicidade e capacidade prática de pensamento.

Uma das coisas que achei mais interessante neste livro é como o nosso inconsciente é programado por nós mesmos para facilitar nossa vida. Mesmo sem que a gente perceba nós tomamos milhões de decisões das coisas mais simples até as mais complexas. Imaginem ter que pensar de forma consciente todas as vezes que tivéssemos que continuar em pé ou manter certa posição, que grupos de músculos devemos usar? Reconhecer os barulhos estranhos que saem da boca das pessoas, que são palavras, como reconhecer?

A nossa mente inconsciente foi criada para a nossa sobrevivência nos poupando energia para as coisas que realmente importam. Para se ter ideia é dito nesse livro que apenas 5% do nosso cérebro é utilizado na mente consciente enquanto os outros 95% são utilizados pela nossa mente inconsciente. E enquanto isso 1/3 do nosso cérebro é totalmente voltado para o processamento do que nossos olhos vêem e mesmo assim não fazemos isso de forma consciente, dando um super relatório já processado pela nossa mente inconsciente, poupando a nós muito tempo de ter que reconsiderar tudo o que vemos e decidir se são coisas novas ou não. Façam o pequeno exercício de pensar em uma cadeira. Agora pense na quantidade devastadora de tipos de cadeira. Imaginem o quanto conscientemente teríamos que decidir se aquilo é uma cadeira ou se é um banquinho, mas graças ao nosso inconsciente as cadeiras são classificadas por um modelo mental de cadeira, que pode ser pés de apoio e um encosto (cada um pode ter o seu, mas esse é o meu :P) e já é reconhecido dessa forma, imaginem se tivéssemos que resignificar cada vez que mudassem de cor ou formato… seria um trabalho de louco para o nosso cérebro, tadinho… Por isso a evolução tomou conta disso pra gente, nos dando mais tempo livre.

Dentro desse modelo mental podemos ainda discutir sobre a noção de realidade que temos e o como ela é viciada pela nossa mente. Muitos filósofos já debateram se nossas percepções deveriam ser consideradas ilusões ou realidade (Platão, Sócrates, Kant, Aristóteles entre muitos outros…). Segundo a neurociência moderna devemos considerar nossa percepção de realidade somente como ilusões, pois percebemos o mundo de forma indireta, segundo o nosso próprio inconsciente que foi moldado por ninguém menos que nós mesmos, criando o que acreditamos ser um modelo de mundo, acho que pode acabar sendo um pouquinho tendencioso, não?! ;)

Ok. Já ta ficando chato. Porque precisei falar disso tudo se estava falando de patinho feio (wtf…). O importante é perceber o quanto o nosso inconsciente preza pela percepção do que ele já conhece, como uma forma de poupar energia para nos concentrarmos em outras coisas e também de preservação. PRESERVAÇÃO era aqui que eu queria chegar.

Uma das formas mais simples de sobrevivência é a preservação. Por isso muitas vezes somos contra o que é diferente ou o que não conhecemos, é uma resposta do nosso inconsciente de preservação, para que duremos cada vez mais e para que continuemos vivos. Imaginem nos tempos antigos, beeeeem antigos mesmo, tipo idade da pedra, quando a evolução começou a tomar conta do nosso inconsciente e qualquer coisa que fosse diferente do que já conhecemos poderia nos comer ou acabar com a nossa existência… por isso nada mais natural que manter o máximo de distância dessas coisas estranhas. Mas sempre existiram aqueles que não concordavam com isso e esses foram aqueles que eram considerados um perigo a sociedade e a sobrevivência humana, mas também foram os mesmos que levaram a sociedade adiante. Por isso fique tranquilo, se você ousar fazer alguma coisa diferente ou até mesmo ser diferente você ouvirá muitos “nãos” como disse no início e nada mais natural que isso, pois é simplesmente o instinto de preservação das pessoas querendo manter as coisas como estão porque simplesmente tem funcionado e estamos sobrevivendo, por isso é muito possível que você seja considerado um patinho feio, simplesmente por ver o mundo de um forma diferente mas não ache que isso é ruim.

“A comfort zone is a beautiful place, but nothing ever grows there” — Zeno Rocha

Vi hoje essa frase do Zeno Rocha no twitter e gostei muito. Ela me fez perceber que só vamos deixar de ser os “Patinhos Feios” se sairmos da zona de conforto e continuarmos seguindo até nossas ideias se tornarem cada vez mais familiares para as pessoas, deixando de ser apenas mais uma coisa estranha que as deixam desconfortáveis. Só assim conseguiremos ser mais abertos e receptivos. Como a frase que o Bernard De Luna gosta: “Great Things take time.”, vejam também esse vídeo do Mundo De Luna, sobre o carvão e o diamante, que dá um ótimo exemplo sobre isso.

Se vocês assistiram o vídeo (se não shame on you.) vão perceber que se fala o como o carvão e o diamante são formados da mesma matéria: o carbono. Só que o diamante passou por um grande processo de pressão, temperatura e tempo até se tornar realmente o lindo diamante. Ou seja, o diamante durante muito tempo foi um carvão (ou se preferir foi um patinho feio) e mesmo assim não desistiu e acabou se tornando um lindo diamante. Por isso mesmo sendo um patinho feio não desista, uma hora você pode chegar lá.

Gosto muito de fazer um exercício quando me deparo com alguma coisa nova e diferente, busco evitar a repulsa inicial e trazer para o lado mais consciente da minha mente, buscando perceber se é somente meu inconsciente tentando me passar a perna ou se de fato a ideia é ruim. Busquem fazer esse exercício e vão se surpreender o como nos sabotamos sem perceber e quem sabe pode se tornar até um pouco mais compreensivo. Mas afinal porque você deveria me escutar? Sou apenas mais um patinho feio ;)

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