Do Unicórnio ao Einstein — Entendendo sobre maturidade no design
Um sinal de que estamos amadurecendo em algo é quando paramos para pensar sobre maturidade. Se tratando de design existem alguns sinais que podemos analisar para saber se estamos evoluindo ou não.
Apesar do produto final do trabalho de design quase sempre ser algo visível que podemos dizer com base em nosso conhecimento se está bom ou ruim, a maturidade do design não é algo tão concreto assim. E quando se trata de um aspecto mais abstrato a subjetividade gera muitas dúvidas.
A intenção deste artigo não é ser um framework para medir sua maturidade ou de sua empresa, considerando que a subjetividade do assunto tornaria tudo ainda mais complexo, mas sim fornecer insumos para que você avalie como isso deve ser medido e chegue a uma conclusão baseado em seu contexto.
Régua de nível de maturidade
Para saber sobre a qualidade e maturidade do design, tenho utilizado uma metáfora das linhas de pensamento que a humanidade teve ao longo da história, dividindo entre mitologia, filosofia e ciência. Como a história é sempre uma evolução, acredito ser uma boa comparação com o nosso crescimento do conhecimento de design.
Mitológico
Mito (s.m.)
Exposição alegórica de uma ideia qualquer, de uma doutrina ou teoria filosófica; alegoria.
Na mitologia existiam histórias em que as pessoas passavam umas para as outras para tentar explicar algum fenômeno associado a realidade. Porém, estas histórias não tinham um embasamento aprofundado em questão de veracidade, elas eram construídas conforme a sensibilidade e no conhecimento da humanidade para explicar questões da natureza.
O design de nível mitológico tem algumas características parecidas, onde:
- Não há um embasamento aprofundado para a execução do Design;
- Existe uma narrativa que tenta explicar o que é feito, porém não há algo efetivamente concreto;
- É o começo de um aculturamento do design dentro do contexto em que está sendo aplicado.
Falando de uma forma mais tangível, neste nível existe um trabalho muito mais relacionado ao visual, sem um aprofundamento do design como algo estratégico .
Filosófico
Filosofia (s.f.)
No âmbito da relação entre teoria e prática, pensamento inicialmente contemplativo, em que o ser humano busca compreender a si mesmo e a realidade circundante, e que determinará o seu caráter prescritivo ou prático, voltado para a ação concreta e suas consequências éticas, políticas ou psicológicas.
A filosofia foi influenciada pela mitologia, e foi estabelecida quando o homem passou a questionar as coisas a sua volta gerando discussões críticas e provocando argumentações para tentar encontrar uma resposta para aquilo que não entendiam.
Trazendo isso para o contexto do Design, podemos dizer que chegamos a este nível quando começamos a questionar a forma como as coisas são feitas, onde:
- Já existe o início de um aculturamento, porém nem todos a compreendem;
- Existe um pensamento estruturado com uma lógica a respeito de design;
- São criadas deduções aplicadas a casos, porém existe uma dificuldade de se executar algo.
Neste nível o design participa do processo pontualmente ou em paralelo, porém ainda não é estratégico.
Científico
Ciência (s.f.)
Corpo de conhecimentos sistematizados adquiridos via observação, identificação, pesquisa e explicação de determinadas categorias de fenômenos e fatos, e formulados metódica e racionalmente.
Na ciência existe um estudo aprofundado sobre algo, e a partir de diversas inferências diferentes é possível chegar a uma conclusão que provém a partir de uma hipótese a ser validada.
No Design podemos dizer que é o momento em que conseguimos tirar uma conclusão a partir de diferentes metodologias e técnicas que executamos. E com isso temos aprendizados que podem ser aplicados, podendo alterar e trazer melhorias a forma de se trabalhar.
De forma resumida, neste nível de maturidade de Design temos:
- Uma técnica de trabalho estruturada;
- Metodologias aplicadas durante todo o processo com foco no resultado;
- Metodologias abertas para uma evolução constante.
Quando o design atinge este nível de maturidade, ele está participando ativamente dos processos como algo estratégico e essencial. Em algumas empresas chega no nível onde o design é um pilar tendo uma liderança exclusiva para isso, unificando todas as pontas.
Critérios para avaliação de nível
Para direcionar melhor o entendimento de qual nível você ou a empresa que trabalha encontra-se, vou listar alguns critérios que você pode levar em consideração:
Relação tempo e conhecimento
- O tempo de experiência está diretamente relacionado a evolução do conhecimento e aprimoramento das técnicas de design?
Processos e métodos
- Existe um processo de design definido e claro?
- Houve algum aprimoramento e amadurecimento no processo de design?
- Ao longo do tempo o time apenas seguiu processos ou construiu novos a partir da experiência?
Autonomia
- Até que ponto o time possui autonomia para andar com as próprias pernas?
- Até que ponto o senso de líder e dono afeta na tomada de decisões?
Analisar tudo isso é extremamente subjetivo, mas acredito que realizando as perguntas certas você consegue ter uma visão clara do nível que está e consequentemente te dará uma visão de que caminho você deve tomar.
Vale uma última observação: Cuidado com comparações! Muitas vezes quando você se compara com outro profissional ou empresa, pode ser que você não enxergue a realidade estando do lado de fora. Leve em consideração o que o resultado do seu trabalho e se ele está atendendo as expectativas. Desta forma é possível ter um senso de valor muito mais próximo da realidade.
Inspiração e referência
Inspiração vinda da incrível aula sobre Pesquisa Científica dada pelo Rodrigo Vilalba para o curso de Pós Graduação de UX e Design de Interação do IED SP.
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