Resumo do Product Camp 2020 — parte 1

Fique por dentro de tudo que aconteceu nos dois primeiros dias do maior evento de produto da América Latina.

Caio Rocha
the product discovery
10 min readDec 16, 2020

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O que é o Product Camp

O Product Camp é um conceito global que nasceu em Sunnyvale, Califórnia em março de 2008. Desde então, o movimento se expandiu para Austin, Vale do Silício, Washington, DC, Atlanta, Boston, Toronto, Amsterdam, Melbourne, Berlim, e muitos outros locais. Foi inspirado na “globalização” do tema que surgiu o Product Camp Brasil.

Especificamente no Brasil, o Product Camp acontece todo ano desde 2016. Acabou se tornando uma grande conferência onde pessoas do Brasil inteiro se reúnem para consumir conteúdo de qualidade em diferentes formatos, trocar experiências do “mundo real” e ampliar suas redes de contatos.

Em resumo, o Product Camp é a “festa da firma” para quem faz produto no Brasil.

Em 2020 devido a situação global, o evento está sendo realizado online em uma mega conferência com 8 dias de evento.

Dia 1 — Product Growth

Neste primeiro dia de Product Camp 2020, tivemos palestras focadas no tema de Product Growth. Abaixo vocês encontram resumo dessas palestras:

Palestras:

Batendo o bumbo: boas práticas para empoderar times de produto — Willian Sertório | Revelo

O Willian Sertório, Product Designer Manager na Revelo, começa sua palestra com uma pergunta ”como podemos empoderar os squads a focar em resultados e não em features?” e para responder essa pergunta ele traz um playbook de boas práticas:

1. Deixe clara a estratégia da empresa, e onde cada squad se encaixa — ela deve ser comunicada até ficar claro para todos os times onde se encaixam

2. Trabalhando em duplas — sempre design e produto sendo responsáveis pelos mesmos resultados

3. Métricas e metas — as metas são definidas pelo próprio time, com base nos baseies e taxas de crescimento projetadas

4. Trabalhando com apostas — definir de 3 a 5 apostas, priorizadas e quebra-las em experimentos

5. Defina uma meta de aprendizado semanal — o aprendizado deve ser compartilhado entre os outros times

6. Defina e evangelize um framework de aprendizado

Os resultados atingidos pelo time da Revelo ao implementar esse playbook foram:

  • Times gerando impacto real nas métricas
  • Mais velocidade em testar e tracionar produtos
  • Outras áreas “importando” o jeito deles trabalhar

O que aprendemos sobre Testes A/B em um ano de experimentação — João Cunha & Fernanda Monsó | Nubank

A Fernanda Monsó, Business Analyst, com João Cunha, Product Manager, ambos do Nubank trouxeram seus aprendizados após um de ano de experimentação utilizando Testes A/B, aqui estão esses aprendizados:

1. Rode o experimento por, pelo menos, 7 dias

Comportamentos dos usuários mudam em dias úteis e não úteis.

2. Acompanhe os resultados do seu teste diariamente

Em um teste A/B pode haver algum efeito secundário que não estava esperando. Antes do teste é importante setar alarmes para pausar o teste caso exista um grande impacto negativo na conversão.

3. Esforço tende a ser mais importante que impacto na priorização de experimentos

Razões para priorizar com base em esforço:

  • Em experimentação é muito mais fácil medir esforço do que impacto
  • Experimentos têm um alto grau de imprevisibilidade
  • Facilita a construção de cadência
  • Cadência é mais importante que velocidade
  • Mais hipóteses testadas = mais conhecimento

4. Procure engajar o time no trabalho de CRO

5. Experimentação nem sempre remove a fricção, mas a empurra para frente

Pensando no funil de conversão, se fazemos alguma experimentação no topo dele (aquisição) para melhorar a conversão, nós não removemos a fricção, mas sim empurramos ela para mais para frente no funil.

6. Calculadoras online são muitas vezes suficientes para a análise de resultados

7. Baseie seus experimentos em hipóteses

  • Teste o que acredita, e não tudo
  • Sem hipótese é fácil fugir do foco do experimento
  • Se é óbvio, não é um experimento (vício em experimentação)
  • Tenha um documento de testes

8. Experimentos nunca falham; ou você ganha ou você aprende

Como Marty Cagan fala em um dos princípios do Product Discovery, é tudo pelo aprendizado compartilhado.

Driving product growth through customer feedback — Sunanda Saxena | Microsoft

A Sunanda Saxena é Product Manager na Microsoft, mais precisamente no time do Azure. Nessa palestra ela trouxe como o Customer Feedback pode levar a Product Growth, aqui alguns pontos:

  • Quando você está construindo um produto, você está construindo para pessoas que vão utiliza-lo.
  • As pessoas utilizam esse produto você recebe Feedback para melhorar alguns pontos para que os consumidores tirem mais benefícios dele.
  • Adicionando melhorias que o consumidor se beneficia, isso leva a consumidores mais satisfeitos.
  • Então, os consumidores serão mais leais ao seu produto e irão querer usa-lo mais e mais.
  • Consumidores felizes também irão falar sobre seu produto para outros — onde você pode conseguir novos clientes.

Em resumo, isso é o Customer Feedback levando ao Product Growth. Simplesmente o que você precisa é escutar seu consumidor, entender suas necessidades e resolver seus problemas.

Depois ela apresentou o Feedback Loop, que está representado na imagem abaixo:

1. Ask:

  • Identificar os objetivos do feedback
  • Identificar como você quer ter esse Feedback
  • Coletar tanto dados qualitativos como quantitativos

2. Organize:

  • Categorizar o feedback quantitativo
  • Reconhecer padrões
  • Planejar os próximos passos
  • Focar em resolver os pontos de dor do consumidor, não simplesmente implementar o que o consumidor pede

3. Act:

  • Ações podem ser desde consertar bugs, novas features ou melhorar capacidades existentes

4. Follow up:

  • Suas ações melhoraram a experiência do cliente e resolverem seus problemas?

“Happy customers will share with the world!” — Sunanda Saxena

Pensando Grande Em Growth — Rafa Dahis | Instagram

Na última palestra do dia, Rafael Dahis que é Product Manager no Instagram abordou quatro características dos melhores times de growth do mundo:

1. Amam os usuários

  • Nunca jogue “contra” o usuário
  • Os melhores time de growth colocam as pessoas no centro — PEOPLE PROBLEM NOT BUSINESS PROBLEM
  • Os melhores time de growth vêem o humano por trás da métrica
  • Os melhores time de growth lutam por inclusão — se temos um bom produto, por que nem todos podem usá-lo?

2. Respiram funis. Funil é o idioma de Growth

  • Os melhores time de growth mapeiam a jornada e identificam o A-HA moment
  • Os melhores time de growth cavam até encontrar o problema

3. Testam muito como conseguimos um resultado 10x melhor? Através de 50 melhorias de 5% cada

  • Os melhores time de growth se organizam por objetivos
  • Os melhores time de growth empoderam a equipe
  • Os melhores time de growth celebram as falhas

4. Pensam grande

  • Otimização de funil não resolve tudo
  • Os melhores time de growth tem um portfólio
  • Os melhores time de growth investem em big bets
  • Os melhores time de growth tem liberdade para inovar

Dia 2 — Product Strategy

Nesse primeiro dia de Product Camp 2020, tivemos palestras focadas no tema de Product Strategy. Segue um resumo de como elas foram:

Palestras:

Product Management 101 — Depois do feijão com arroz bem feito, podemos falar de estratégia — Sérgio Schuler | Receeve

O Sérgio Schuler abre o segundo dia trazendo que é preciso fazer o feijão com arroz bem feito antes de falarmos sobre estratégia. Ele passa ponto a ponto um processo básico de produto.

1. Tudo começa no “por quê”

Nenhuma mudança de produto deve ser feita sem definir qual é o objetivo da mudança.

Dica extra: Comunique o “por que” mais do que você acha nescessário.

2. Descoberta das oportunidades

Utilizar a árvore de oportunidades para mapeamento e registro das oportunidades.

Dica extra: Envolvendo o time na descoberta de oportunidades.

3. Escolhendo a oportunidade

Ele passou 3 segredos para escolher a oportunidade:

  1. Não é ciência pura, tem arte
  2. Geralmente é uma decisão do tipo 2 (para quem não sabe sobre two-way doors decision do Jeff Bezzos, acesse aqui)
  3. Quais evidências você tem de que é uma oportunidade grande o suficiente? (aqui temos um link com o item 2. Descoberta das oportunidades, utilizando a Opportunity Solution Tree essas evidências ficam mais claras)

4. Explorando soluções

5. Escolhendo soluções

Existem diversas formas de priorizar as soluções. A apresentada foi a matriz de custo vs impacto.

6. Construir? Não, mitigar

Mais importante que construir a solução é mitigar os principais riscos do produto — Marty Cagan que o diga. Para quem não lembra os quatros riscos são:

  • Risco de valor
  • Risco de usabilidade
  • Risco de viabilidade
  • Risco de negócio

7. Fatiando a solução

É importante fazer entregas incrementais:

  1. Software na mão do usuário > testes
  2. Identificar tretas
  3. Colha os benefícios agora

“Se posso entregar um cupcake para o usuário, pq vou esperar o bolo ficar pronto?” — Sérgio Schuler

8. Delivery

É a hora de trabalhar no desenvolvimento das soluções incrementais.

9. Rollout

  1. Rollout 0: Time de desenvolvimento
  2. Rollout interno: colaboradores
  3. Rollout 1: base restrita
  4. Rollout X: multiplique o número de usuários no rollout anterior por 10

10. Lançamento

  1. Comunicação para quem recebeu o rollout
  2. Comunicação interna (deixando outros times e a organização como um todo ciente do lançamento realizado)

11. Volte ao passo 1

Meça os resultados e volte ao passo 1.

Organizando times de produto para maximizar a eficiência em Discovery e Delivery — Bernardo Srulzon | Quanto

Nessa palestra, o Bernando Srulzon, Diretor de Produto na Quanto, traz como organizar times de produto para maximizar a eficiência em Discovery e Delivery.

Ele traz, de início, que ter uma boa estratégia de produto é apenas o primeiro passo e que uma excelente capacidade de execução é o que faz a diferença no sucesso do seu produto.

E quem executa a estratégia? Os times. E com isso ele inicia dizendo o porque é fundamental pensar na organização e interação entre os times.

Lei de Conway

”Toda organização de desenvolvimento de software está limitada a produzir sistemas de software que reflitam a estrutura organizacional da empresa que o produziu” — Melvin Conway, 1968

Times estruturados por skills

Essa estrutura não é uma boa prática:

  • Entregar uma feature depende da coordenação de vários times
  • Times não são responsáveis pela entrega de valor completa
  • Falta contexto para que os times consigam antecipar problemas

Monte sua estrutura organizacional de forma que produza a arquitetura de software desejada

Alguns princípios que times de alta performance seguem:

  • Estáveis, pequenos, com um propósito claro
  • Carga cognitiva adequada
  • Interação bem definida com outros times
  • Fluidez de entregas

Definir fronteiras e responsabilidades

Algumas formas de definir essas fronteiras e responsabilidades:

  • Domínio de negócios
  • Personas
  • Cadência de mudanças
  • Nível de risco

Existem 3 modos de interação

  • Colaboração: times trabalham em conjunto, em geral em uma etapa de descoberta
  • Facilitação: um time auxilia o outro com conhecimentos específicos
  • X-as-a-Service: time prevê um serviço (via API) para ser consumido por outros

Esse modelo está em constante evolução!

Times começam colaborando para descobrir as soluções, e transformam essa interação no X-as-a Service para aumentar a eficiência das entregas.

Objetivo é eliminar “dependências blocantes” e manter dependências saudáveis.

Don’t Release the Kraken: Leveraging Strategy to Drive Product Success — Saeed Khan | Transformation Labs

Nessa palestra, Saeed Khan, fundador da Transformation Labs trouxe o que é estratégia e como utiliza-la para alavancar o sucesso do produto.

O que é estratégia?

Para Saeed é um framework que nos ajuda a tomar as melhores decisões. Um conjunto de “apostas” alinhadas que foque como você vai atingir os objetivos.

Mas, o que ele quer dizer com “apostas”?

É uma grande atividade / iniciativa (com risco embutido) que irá aumentar suas chances de alcançar objetivos.

Os 4Ps — Estratégia (Marketing Mix)

Ele trouxe quatro pontos que precisamos pensar sobre estratégia, os velho e conhecido 4Ps do marketing.

  1. Product:
  • Design
  • Funcionalidades
  • Qualidade
  • Perfomance
  • Ele endereça a alguma necessidade ou problema?

2. Price:

  • Price point
  • Estrutura de precificação
  • Descontos
  • Termos de precificação
  • Preço/Valor
  • Preço vs Competição

3. Position:

  • Categoria do produto
  • Disponibilidade do produto
  • Acesso ao produto
  • vs Alternativas

4. Promoção:

  • Mensagem
  • Programas de marketing
  • Propaganda, etc.

Processo de definição da estratégia

  • Não existe uma maneira única de definir a estratégia
  • Depende do tipo de estratégia e seus objetivos
  • Frameworks como SWOT, Oceano Azul, etc, são úteis.

Por fim ele compartilhou um processo de definição da estratégia:

Making Strategy Accessible — John Cutler | Amplitude

John Cutler, Head de Produto no Amplitude, falou sobre a North Start metric e sua importância no desenvolvimento de produtos. Aqui temos alguns key takeaways:

  • A North Star Metric é um abreviação de estratégia
  • Conseguimos entender as crenças e suposições superficiais
  • É a cola entre “o trabalho” e o progresso sustentável
  • Promove autonomia alinhada — o famoso caos organizado
  • Linguagem comum — o que facilita o alinhamento entre os stakeholders
  • O que gera melhores conversas!
  • Estratégia é uma conversa que liga suposições, hipóteses
  • Colocar dinheiro em uma feature não é estratégia — o que comumente vemos em algumas empresas
  • OKRs não são a estratégia — lembrando que OKRs são muito mais uma ferramenta de comunicação
  • A estratégia do produto precisa ser um guia — para conseguirmos garantir a autonomia alinhada
  • Quando a estratégia mudar, mude seus inputs e/ou North Star Metric

Takeaway

Os dois primeiros dias do Product Camp 2020 fez jus ao status do evento, conteúdos de altíssimo nível para quem atua com desenvolvimento de produtos, trazendo insights importantes e conexão entre teoria e prática nas palestras. Product Strategy e Growth são dois assuntos que estamos vendo a comunidade de produto explorando muito mais agora e esses dois dias cumpriram seu papel de informar e gerar aquela faísca para buscar entender mais e aplicar esse tipo de conteúdo.

Obviamente que, por ser online, acaba perdendo aquele interação cara a cara tanto com palestrantes mas também com os outros participantes do evento — e essa troca traz tanto valor quanto as palestras. Para garantir que tenha essa troca eles criaram salas de networking, onde podem entrar 10 pessoas (em cada sala) para conversar sobre o evento, palestras e outros assunto, o que achei interessante por melhorou a dinâmica de uma conferência online.

Revisão: Mauro Tavares

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