Maria Fernanda Garcia
The way | My way
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2 min readFeb 4, 2019

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Hoje acordei saudosa daqueles dias frios no interior da Espanha. O sofrimento diário me parecia uma cruz e seu peso impossível de carregar.

Desisti em diversos momentos: desisti dos roncos e na metade dos 220km que caminhei comecei a dormir em quarto separado do resto dos peregrinos. Desisti de caminhar com a Lydia e comecei a andar sozinha como se a solidão fosse amenizar a minha dor. Desisti do peso de roupas a mais que levei e despachava uma sacola pro próximo destino. Desisti de enfrentar as descidas e cada vez que me deparava com uma, chorava compulsivamente como se minhas lágrimas fossem milagrosamente fazer a descida sumir. Elas nunca sumiam, os quartos separados nunca eram confortáveis o suficiente, a solidão era enlouquecedora e eu nunca conseguia me livrar do maior peso que eu carregava: eu mesma.

Aprendi que chegar a Santiago não significa que seu caminho acabou. Significa que você aprendeu a caminhar. Entre um choro e outro enxergava uma paisagem de tirar o fôlego. Entre uma parada e outra pra ajeitar a joelheira um peregrino de coração livre chegava pra contar a sua história e deixava o meu coração um pouquinho mais livre também. Entre uma descida e outra, uma subida pra não deixar esquecer o sentido obrigatório dessa vida terrena: pra cima.

Quase um ano passou e ainda consigo sentir tudo mudando dentro de mim. O caminho, lá na Espanha, não me curou, mas o caminho que comecei depois que cheguei está me curando. Depois que cheguei, desci ao lugar mais íntimo de mim e organizei a casa. Cada coisa em seu lugar, cada momento no seu tempo. Doeu mais que o joelho e o quadril durante o caminho da Espanha, mas a vista foi mais bonita que a da Galícia. Não sinto mais o peso de carregar a mim mesma, mas a leveza de viver comigo mesma. E só essa mudança já fez tudo valer a pena.

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