Maria Fernanda Garcia
The way | My way
Published in
5 min readMay 2, 2018

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Caminho de Santiago – Day 1 and 2

A primeira impressão é a que fica… será?

Ontem foi meu primeiro dia de caminhada e até agora não sei como andei os 20km e mais de 6 horas de caminhada sorrindo, feliz e contemplando as paisagens e as pessoas. Estava anestesiada com o início. Um “passeio” diferente, com mil coisas novas pra aprender.

Dormimos bem em Ponferrada, em um Hotel no centro da cidade. Comemos burrata, pizza e bebemos vinho na noite em que cheguei. Acordei na terça toda empolgada, já botando meia de compressão, faixa do polar, separando luva e capa de chuva. Óbvio que coloquei tudo nos piores lugares possíveis da mochila, mas isso eu só descobri depois. Saímos felizes e contentes e andamos até a saída da cidade onde vimos a minha primeira Igreja. Parei, tirei foto e postei um video no stories toda felizinha.

Continuamos e encontramos a Vanessa, uma alemã que a Lydia conheceu durante o Caminho. Uma das primeiras perguntas que ela fez foi: por que vcs vieram fazer o Caminho? Fiquei nervosa e respondi que ainda não sabia. A Lydia contou a história dela (que vcs já conhecem, vide textos anteriores) e depois perguntamos pra ela e ela contou que se encantou quando leu um livro de um comediante alemão que mudou de vida depois do Caminho. Até aí, só alegria.

Paramos pra almoçar num restaurante lindo, comemos bem e tomamos vinho, no meio do dia. O almoço demorou quase duas horas, o que fez a gente chegar quase duas horas mais tarde em Villafranca Del Bierzo. Eu tinha programado andar 10km a mais nesse dia e dormir em Trabadelo, doce ilusão. Perto de chegar em Villafranca eu comecei a sentir o joelho esquerdo e quando chegamos no albergue só conseguia ficar deitada. Doía a perna toda, joelho inchado e eu só pensava no dia seguinte. Pela primeira vez passou pela minha cabeça desistir. Mas era só o primeiro dia e eu já tava pensando em desistência: Maria Fernanda, você é mais forte que isso! Minha consciência logo me deu um grito e fui dormir rezando pros anjos do Caminho fazerem a suposta massagem da madrugada que a Lydia tanto fala (vide textos anteriores). Acordei com dor mas botei a roupa, respirei fundo e desci pra tomar café sem pensar. Foram 28km de Villafranca até Las Fabas, onde estamos dormindo hoje. Foram 28km sentindo dor. A Lydia e a Vanessa conversaram durante toda a rota. No começo tentei acompanhar mas depois de um tempo eu percebi que olhar a paisagem e conversar com elas me fazia sentir mais dor e eu ficava mais reclamona (já passaram o dia com alguém que só reclama do seu lado? É uma merda) então decidi ficar em silêncio e focar na minha dor. A conversa delas me fazia perder o foco e comecei a ficar irritada mesmo assim. Fui caminhando e pensando o que eu podia tirar da mochila pra deixar ela mais leve. Foi quando me toquei que era tudo importante. Água, comida, roupas, saco de dormir, capa de chuva. Se eu deixasse alguma coisa pra traz ia sofrer depois. Nessa hora veio na minha cabeça aquela oração: não peço um fardo mais leve, mas costas mais fortes. E eu percebi que nada iria fazer a minha dor parar. Eu ia ter que conviver e cuidar dos meus joelhos. Fiquei pensando como Jesus conseguiu chegar até a cruz. COMO? O sofrimento físico faz sua cabeça pirar. Você não consegue se concentrar em nada e tudo te aborrece. Nem o fato de a Lydia estar ali e me trazer certa “segurança” me deixava mais tranquila. Então comecei a rezar e pedir pra Jesus não me abandonar porque eu achava que a cruz era pesada demais pra mim. Comecei a chorar quietinha quando dei por mim que não era tão forte assim quanto eu demonstrava pros outros e era mais fraca ainda do que eu pensava sobre mim mesma. Comecei a questionar toda essa máscara de Maria-Fernanda-pode-tudo. E Jesus me chacoalhou: EU posso tudo e eu não vou te abandonar. Pedi pra Ele não costas mais fortes, as minhas estavam ok, mas joelhos mais fortes e uma bexiga maior (tava quase fazendo xixi na calça nessa hora). Apareceu um posto de gasolina e paramos pra ir no banheiro e comer. Chegamos perto de Las Herrerias, cidade que poderia ser onde iríamos dormir hoje. Mas eu me sentia forte apesar da dor e disse que estava ok pra continuar até Las Fabas que era quase 5km pra frente, mais uma hora de caminhada. As meninas concordaram e fomos. Mas a gente não sabia que era uma subida atras da outra, as vezes com asfalto, mas a maioria de pedra e muito barro por conta da garoa. Foi uma das coisas mais difíceis que fiz na vida. E ainda nem subimos o Cebreiro (pesquisem no Google) que é a parte mais temida do Caminho. Agora estamos no albergue maravilhoso em Las Fabas (chegamos!) depois de um banho quentinho. Tô na fila pra lavar as roupas da lavadora enquanto a Lydia cozinha o jantar (cada uma com suas tarefas). Amanhã subimos o Cebreiro e eu espero do fundo do meu coração que os anjos não esqueçam de mim essa noite. Porque eu tenho certeza que Jesus vai estar comigo amanhã. Ah! Sobre o motivo pelo qual estou fazendo o Caminho: continuo sem saber. Quando eu descobrir conto pra vcs! :)

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