A Copa do Mundo que ninguém assistiu

Roberta Rodrigues
THE WNBA HUB
Published in
3 min readOct 1, 2018
Foto: FIBA

Entre junho e julho de 2018, o mundo parou para acompanhar a Copa do Mundo da FIFA. Jogos de futebol eram transmitidos o dia inteiro em diversas emissoras de centenas de países ao mesmo tempo. Qualquer canal de esporte estava sintonizado nas partidas que foram realizadas na Rússia e contavam com os atletas mais bem pagos do mundo.

Em setembro de 2018, outra Copa do Mundo foi disputada, mas dessa vez ninguém assistiu. Em Tenerife, na Espanha, as 16 maiores potências do basquete feminino mundial se reuniram a fim de disputar o título de campeão do mundo.

O torneio durou nove dias e teve um total de 40 jogos, entre fase de classificação, oitavas e quartas de final, semifinal, final e disputa de terceiro a oitavo lugar. Foram aproximadamente 27 horas de basquete e apenas duas horas foram dedicadas à competição no SporTV, da Globosat, emissora que detém os direitos de transmissão das competições da FIBA.

Nos Estados Unidos, pouquíssimas partidas foram disponibilizadas nos canais da ESPN que estão nas grades dos provedores de TV por assinatura. A maioria só pode ser acompanhada pela ESPN+, que exige pagamento de $5 por mês.

A falta da presença de um determinado esporte na televisão diminui sua visibilidade. Segundo o IBGE, 97,2% dos domicílios no Brasil possuem uma televisão em 2018. Caso os jogos tivessem sido transmitidos, aproximadamente 30% dos brasileiros — os que têm serviços por assinatura — poderiam ter assistido às partidas da Copa do Mundo de Basquete Feminino.

Sem os jogos na televisão, o alcance é automaticamente zero e as chances de fomentar a modalidade se tornam ainda mais rasas. Tudo isso reflete no desenvolvimento do basquete feminino e nas chances de conquistas de novos títulos no futuro.

Como culpar as atletas pelos resultados negativos do Brasil nos últimos anos se ninguém sequer consegue assistir o torneio mais importante da modalidade? E mesmo que seja dada a desculpa de que nossa seleção não estava jogando, por que não transmitir os jogos que tem as referências do esporte em quadra? Quantas meninas não seriam inspiradas por Sue Bird, Emma Meesseman, Liz Cambage, Marta Xagay e as jornadas históricas das equipes de Senegal e Nigéria?

Como exigir uma renovação de um técnico pontual se uma geração inteira perde a oportunidade de saber que existe a possibilidade de jogar basquete como profissão? Tudo está muito errado.

Está errado a Globosat assinar um contrato de exclusividade e não transmitir os jogos, impedindo que o canal do YouTube da FIBA esteja disponível para o público brasileiro. Está errado a FIBA não garantir que o acesso a seus eventos seja abrangente aos países com os quais tem acordos.

Esse, mais uma vez, é um caso de padrão duplo e desvalorização da mulher no esporte. Enquanto em modalidades masculinas até mesmo amistosos sem qualquer valor para a classificação de times são transmitidos, nas femininas os próprios clássicos são ignorados.

Até quando?

--

--

Roberta Rodrigues
THE WNBA HUB

Journalist. Feminist. Queer. Immigrant. New Yorker.