Ainda há muito a assistir na WNBA

Roberta Rodrigues
THE WNBA HUB
Published in
6 min readMay 24, 2019

A temporada de 2019 da WNBA começa nessa sexta-feira, 24 de maio. As expectativas para o início de mais uma edição da liga estavam a mil desde o fim da última, quando o Seattle Storm conquistou seu terceiro título na história. Aos poucos, porém, movimentações e lesões durante a offseason jogaram um balde de água fria sobre fãs que estavam animados para acompanhar os principais nomes do basquete feminino mundial.

Até o momento, seis jogadoras que se tornaram símbolo da WNBA anunciaram que estarão de fora este ano. Maya Moore foi a primeira a falar sobre não atuar em 2019, por motivos pessoais. A atleta vai se dedicar à vida ministerial na Passion City Church, de Atlanta. Skylar Diggins-Smith acabou de ter um filho e está em licença-maternidade, e apesar de participar das atividades extra-quadra com o Dallas Wings, não vai entrar em quadra na temporada regular.

Angel McCoughtry rompeu os ligamentos do joelho em 2018, no jogo em que o Atlanta Dream conquistou sua vaga para os playoffs. Passou por cirurgia e ainda está em recuperação, sem previsão de volta. Breanna Stewart, a atual detentora do título de MVP e um dos principais nomes do Seattle Storm, rompeu o tendão de Aquiles em uma disputa com a pivô Brittney Griner durante um jogo do campeonato russo, e já anunciou que só volta à WNBA em 2020.

A ala-armadora Diana Taurasi, do Phoenix Mercury, passou por uma cirurgia nas costas e não entra em quadra por pelo menos 10 semanas. Ou seja, não joga a primeira metade da temporada e ainda corre o risco de não estar 100% para a segunda. Sue Bird, a veterana do Seattle Storm e uma das jogadoras mais vitoriosas do mundo, lesionou o joelho durante um treino e se junta à sua companheira de equipe Breanna Stewart na reabilitação até 2020.

Para qualquer pessoa com o mínimo conhecimento de basquete feminino, a ausência desses seis nomes é extremamente lamentável. Juntas, só essas atletas colecionam 11 títulos (Moore — 4, Bird — 3, Taurasi — 3, Stewart — 2) e três MVPs (Taurasi — 2009, Moore — 2014, Stewart — 2019). Todas são campeãs olímpicas e universitárias (coincidentemente, pela University of Connecticut) e foram selecionadas inúmeras vezes para o All-Star Game.

Essas ausências certamente causam um desconforto tanto para os espectadores quanto para a WNBA. É natural para o ser humano querer sempre ter o melhor diante de seus olhos, seja em um evento esportivo ou em situações corriqueiras. E é muito difícil para uma liga que — apesar de estar ativa há 23 anos — ainda tem muito para se consolidar no mercado se encontrar sem os seus melhores produtos. Porém, ignorar ou diminuir a importância das outas jogadoras e situações que farão o campeonato ter uma de suas melhores edições de todos os tempos é um erro maior ainda.

CLASSE DE NOVATAS

O draft de 2019 apresentou uma das classes mais talentosas de atletas universitárias. É quase impossível observar a tabela de escolhas desse ano e não pensar que qualquer uma delas poderia ter sido a primeira escolha. Jackie Young, Asia Durr, Teaira McCowan, Katie Lou Samuelson, Napheesa Collier, Kalani Brown, Brianna Turner, Sophie Cunningham, Han Xu, Megan Gustafson, Ángela Salvadores, Macy Miller… entre tantas outras, se encaixam tão perfeitamente nos times que as selecionaram.

QUEM VAI SE DESTACAR NA AUSÊNCIA DAS ESTRELAS?

Cada elenco da WNBA é composto por 12 jogadoras. Sim, no mundo do esporte a presença ou ausência de uma peça pode definir o destino de um time em um campeonato. Porém, em um torneio onde apenas 144 atletas são contempladas com a chance de jogar no melhor palco da sua modalidade, as possibilidades de se mostrar eficiente e fundamental aumentam quando não há a sombra de alguém com o status de “estrela” em sua frente.

No caso do Atlanta Dream, esse é o momento de Tiffany Hayes provar que é um dos nome mais consistentes da WNBA. Há sete anos no Atlanta Dream, a ala mantém uma consistência invejável em comparação a maioria das demais atletas. Não houve um ano sequer em que sua média de pontos diminuiu. Pelo contrário, só aumenta. Em relação à sua primeira temporada, Hayes DOBROU sua média. Você pode conferir no gráfico abaixo sua evolução:

O Seattle Storm, apesar de não ter Breanna Stewart e Sue Bird não está mal das pernas. Na verdade, está longe disso. Jewell Loyd, Alysha Clark, Kaleena Mosqueda-Louis, Courtney Paris, Crystal Langhorne, todas essas comandadas por Dan Hughes, está longe de ser um time fraco. Tal qual o Phoenix Mercury, que tem Brittney Griner, DeWanna Bonner, Briann January, Essence Carson e Yvonne Turner para seguras as pontas enquanto Diana Taurasi está se recuperando.

O Minnesota Lynx, mesmo com a ausência de Maya Moore, ainda tem um elenco que pode ficar entre os primeiros lugares. Afinal, Seimone Augustus, Sylvia Fowles, Odyssey Sims, Daniel Robison, Karima Christmas-Kelly e a brasileira Damiris Dantas são espetaculares. Isso sem contar Napheesa Collier, novata que veio da University of Connecticut.

Talvez a franquia que mais sofra com a ausência de uma jogadora é o Dallas Wings, porém existem alguns fatores a ser considerados. Além de Skylar Diggins-Smith, que está em licença-maternidade, o time texano não pode contar mais com Liz Cambage, que escolheu por trocar de time e agora está no Las Vegas Aces. Ainda assim, o time comandado por Brian Agler (um dos melhores da WNBA), tem à disposição Moriah Jefferson, Imani McGee-Stafford, Allisha Gray, Azura Stevens e Glory Johnson.

LAS VEGAS ACES

O Las Vegas Aces é, por si só, um grande motivo para animar qualquer pessoa a assistir a WNBA em 2019. Apesar de ser o caçula da liga — prestes a entrar em seu segundo ano de existência, é um dos favoritos ao título. Mesmo sem qualquer movimentação na offseason, a equipe comandada por Bill Laimbeer já tinha um dos elencos mais invejáveis, e para deixar ainda melhor, conseguiu levar a pivô australiana Liz Cambage — em um processo conturbado e cheio de especulações — se tornando, assim, o principal candidato ao título, de acordo com pesquisa interna do torneio.

Agora, além da gigante do garrafão, o Las Vegas conta com A’ja Wilson, Kayla McBride, Kelsey Plum, Tamera Young, Sugar Rodgers, Carolyn Swords e a primeira escolha do draft, Jackie Young. Um time que pode facilmente levar o troféu da temporada.

NEGOCIAÇÃO DE NOVO ACORDO SALARIAL

Um dos principais motivos de debate sobre a WNBA é o quanto as jogadoras recebem para jogar na melhor liga de basquete do mundo. O máximo que uma atleta pode receber (em 2019) é US$ 117.500, sem os descontos de imposto. Esse é o valor para alguém que atua há mais de cinco anos e é condecorada. Ou seja, a maioria recebe menos do que isso. Como medida de comparação, um rookie da NBA não ganha menos de US$ 800 mil.

A quantidade de dinheiro que a WNBA disponibiliza para as jogadoras não chega a 20% da sua receita, e elas estão bem cientes disso. Com o objetivo de mudar essa realidade, a Associação de Atletas — presidida por Nneka Ogwumike (Los Angeles Sparks) — decidiu por romper o atual contrato que tem com as franquias e negociar novos termos. Algumas das principais exigências são salarios justos, voos privados para jogos, melhores bônus e hospedagem.

O deadline para essa negociação é até o final de 2020, quando os novos valores passarão a ser praticados. Caso não haja um acordo, as atletas podem entrar em greve e se recusar a jogar, tal qual acontecei na NBA em 2011.

Com tudo isso, fica óbvio que tem muito a assistir, acompanhar e torcer na temporada de 2019 da WNBA. Ainda em fase de evolução e mesmo sem suas principais estrelas, o campeonato consegue oferecer as atletas mais talentosas do mundo para um dos principais eventos esportivos do mundo. A temporada começa hoje, 24 de maio. Não deixe de acompanhar.

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Roberta Rodrigues
THE WNBA HUB

Journalist. Feminist. Queer. Immigrant. New Yorker.