A escalada de Curry e do small ball em 2015

The GOAT
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5 min readDec 31, 2015

2015 foi um ano especial para Stephen Curry. Reconhecido de vez como uma estrela, vencedor do prêmio de MVP e adorado por pessoas de todas as idades, o jovem franzino conquistou a liga não só por sua simpatia e seu jogo único de arremessos longos, mas também por se provar um dos jogadores mais letais em quadra da atualidade. Mas, como basquete é um jogo coletivo, ele não fez isso tudo sozinho. O esquema armado por Steve Kerr e um time extremamente receptivo às mudanças sagrou-se vencedor da liga e principal favorito para mais um anel no ano que entra.

Primeiro, a estrela. Stephen Curry não teve vida fácil na NBA. O armador sempre foi marcado por lesões em seus tornozelos nos primeiros anos, além de carregar uma aura de dúvida ao seu redor por ter vindo de uma faculdade menor. O seu talento só começou a aparecer mesmo depois dele ficar saudável e dos Warriors realmente apostarem suas fichas nele, despachado o ala-armador Monta Ellis. Com a bola na mão, Curry apresentou seu estilo de muito domínio de bola, dribles rápidos e bolas longas assassinas.

Na temporada 2014–15, Curry entrou de vez na briga por um lugar ao sol no hall de estrelas. Contando temporada regular e playoffs foram: 384 bolas de três convertidas, 202 roubos de bola e 48% de aproveitamento de chutes de quadra. A temporada 2015–16 começou com ainda mais fogo. Em 30 jogos, Curry tem incríveis 140 bolas de 3 convertidas. Isso já é praticamente metade do que ele converteu de bolas de 3 na temporada passada inteira, um recorde da história da NBA. Com 50 jogos a menos (ele jogou 80)!

Muitos se queixaram que seu jogo próximo a cesta era fraco. Curry evoluiu nisso também, com 71% de aproveitamento em arremessos ao redor do aro. Seu PER (índice que mede a eficiência do jogador por minuto, com a média da liga sendo 15) é 32.0, o maior da temporada. Russell Westbrook é o segundo, com 30,2. Seu DRtg (quantidade de pontos permitida a cada 100 posses) é de 100. Os únicos 3 armadores em sua frente com quantidade equiparável de jogos são Patty Mills e Tony Parker, do San Antonio Spurs, e Marcus Smart, do Boston Celtics.

Essa temporada começou tão boa para Steph que existe um plano real e cabível para que ele seja candidato a MIP, jogador que mais melhorou desde temporada passada. E ele foi MVP! O infográfico abaixo mostra a sua melhora em relação a temporada passada, comparando com últimos 5 vencedores do MIP em pontos por jogo (PPG), minutos por jogo (MPG) e quantidade de vitórias contribuídas por um jogo em 48 minutos (WS/48), eficiência do jogador por minuto (PER) e eficiência de arremessos (eFG%). São dados do começo de dezembro, mas não mudou muita coisa.

Curry MIP Case
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Steph tem muito a agradecer a Steve Kerr, que conseguiu montar ao seu redor uma máquina que faz sua produtividade atingir os céus, além de funcionar perfeitamente de forma independente. A ideia principal circula ao redor do small ball, uma estratégia não muito utilizada na liga. A ideia principal dela é causar o espaçamento da quadra com jogadores mais baixos. Manter a maior quantidade possível de arremessadores em quadra, forçando um jogo de velocidade e de arremessos, buscando vantagem em cima de times dominantes do garrafão ou de ritmo mais lento. O grande problema dela era não ser sustentável por muitos minutos, já que após um tempo bolas começaram a não cair ou ficava insustentável caçar rebotes contra um time maior. Kerr resolveu levar o small ball a sério, ao notar que seu elenco poderia aceitar essa estratégia.

A arma principal para essa maleabilidade de posições se chama Draymond Green. O ala consegue jogar em qualquer posição da quadra e produzir ofensivamente de qualquer ponto. Dray pode espaçar o jogo por ter um bom tiro de 3, como ir para o garrafão e defender jogadores maiores do que ele, como provou contra Dwight Howard e LaMarcus Aldridge. Green consegue trancar até jogadores rápidos de infiltração, com sua facilidade fora do normal para cobrir espaços. Ele engoliu a titularidade de Iguodala, que aceitou de bom tom ser o sexto-homem do time, entrando para confirmar suas bolas de 3 ou ser o defensor principal da estrela adversária, como fez contra o Cleveland Cavaliers nas finais da NBA, dando pesadelos a LeBron James.

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O elenco mais efetivo do small ball dos Warriors é conhecido. A rotação da morte, com Stephen Curry, Klay Thompson, Andre Iguodala, Harrison Barnes e Draymond Green. São 5 jogadores espaçando quadra, todos com qualidade para criar uma jogada para seus companheiros. O contra-ataque é letal, a velocidade é alucinante e a defesa é sufocante. Graças a forma com que os jogadores conseguem se adaptar a outras posições e não tornarem-se inúteis por isso, é sustentável. E tornou-se o grande trunfo de um agora campeão como técnico, Steve Kerr.

Esta temporada começou sem Steve Kerr para liderar a equipe do banco, mas Luke Walton não deixou a peteca cair. São 29 vitórias e apenas 2 derrotas. O small ball da morte continua funcionando bem e aniquilando os adversários quando está em quadra. Há um pouco de confusão já que o time não conta com Harrison Barnes há um tempo, mas Shaun Livingston vem dando conta do recado.

2015 foi o ano do Golden State Warriors. Curry foi o MVP, ganhou diversos prêmios. A equipe foi campeã novamente da liga, já é considerada favorita a um novo título e parece ainda mais forte. 2016 pode ser mais um grande ano para uma das franquias mais impactantes da liga na atualidade, promovendo novas diretrizes no basquete moderno. Que seja outro ano grandioso, então.

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