Afinal, DeAndre Jordan merece um contrato máximo?

The GOAT
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6 min readJul 4, 2015

Um dos maiores nomes dessa classe de agentes livres, DeAndre Jordan acertou um vínculo de US$ 80 milhões em quatro anos com o Dallas Mavericks. Após se destacar pelo Los Angeles Clippers, o pivô ganhou o maior contrato que poderia e ocupará boa parte do teto salarial dos Mavs. Pensando nisso, e no que Jordan construiu na liga até aqui, o The GOAT traz as opiniões de Matheus Meyohas e Rubens Borges sobre o novo reforço do Dallas Mavericks.

Contrato máximo para um jogador supervalorizado, por Rubens Borges

Antes de mais nada, vamos estabelecer algumas coisas. Não sou contra jogadores ganharemdinheiro. Longe disso, se as franquias querem pagar muito para certo jogador, torço para ele ir até o banco com um largo sorriso no rosto para descontar o cheque. É difícil dizer o valor de um atleta individualmente. Afinal, ele faz parte de um ecossistema que está sempre em evolução. Por isso, quando avalio o quanto um jogador deveria receber, em condições normais de temperatura e pressão, penso, também, na equipe que deverá ser montada em volta dele. Então, vamos ignorar o teto salarial que vai explodir.

Tendo deixado isso claro: DeAndre Jordan, o unidimensional pivô do Los Angeles Clippers, merece receber o máximo? Não. Por que não? Bom, deixa eu continuar o texto, pô! A ideia de um “jogador max” é alguém que podemos construir o time em volta. Você imagina um time sendo construído em volta de um atleta com menos armas ofensivas que Dwight Howard? Eu não.

No lado ofensivo da quadra, por toda sua capacidade atlética, Jordan depende de outros jogadores. Nos Clippers esse cara é Chirs Paul. O melhor armador do mundo acha Jordan nos ângulos mais difíceis, deixando o pivô em condições para que pontue com o mínimo de movimentos possíveis. Muitas vezes só tendo que saltar e enterrar.

E pontuação custa dinheiro. Jogar um contrato máximo para um jogador que, sem Paul ou Blake Griffin — dois jogadores com visão além do comum — não sabemos como encontrará seus pontos é arriscado. Em nenhum momento ele desenvolveu um jogo de costas para a cesta. Ele não tem um jogo de frente também. Limitado à enterradas e tapinhas ofensivos.

E nem comecei a falar nos seus lances-livres. Ao contrário de Shaquille O’Neal, Jordan não tem outras habilidades para compensar. Sua visão de quadra é terrível, altamente suscetível à armadilhas. Quando chega na linha de lance-livre, ele é um terror. Dando chance ao Hack-a-Jordan, o pivô é um problema no final da partida. Falando no QI de basquete dele…

Jordan, obviamente, é um excelente defensor de aro. No entanto, mais e mais, se chega a conclusão que um defensor de aro é um pouco supérfluo. Uma defesa forte de perímetro e um sistema defensivo bem postados eliminam a necessidade de alguém que cuide do aro.

Fora da ajuda defensiva e proteção do aro, ele tem números bem parecidos com o de Robin Lopez, novo pivô do New York Knicks, sendo que Lopez leva vantagem na defesa um contra um. Jordan só vê o adversário arremessar pior com sua presença quando fecha o arremesso de 3 pontos. Compreensível, afinal, é um atleta superior à Lopez.

Com tudo isso em mente, acho difícil justificar um contrato máximo para Jordan. Um atleta excelente, gosta de fazer o trabalho sujo, mas muitas limitações ofensivas, e uma defesa um tanto quanto supervalorizada, não são a receita ideal para um “jogador max”.

A Jordan o que é de Jordan, por Matheus Meyohas

DeAndre Jordan nunca esteve tão bem. O pivô é uma besta fisicamente, com uma capacidade de impulsão que dá a ele todas as credenciais para ser um jogador temido dos dois lados da quadra. Jordan teve a temporada de sua vida, com regularidade e durabilidade invejáveis. Os US$ 80 milhões serão muito bem pagos pelos Mavs.

Com a explosão do CAP, que deve subir para até US$ 92 milhões a partir de 2017 (Zach Lowe, do Grantland, diz que pode ir a US$ 105 milhões), a ordem é que as franquias comprometam uma parte de seu dinheiro em contratos longos, para assegurar barganhas no futuro. Assim, um contrato máximo, que representaria quase 30% da folha salarial, se tornará pouco mais do que 20% do total com o aumento. Isso muda um pouco o conceito de “jogador de max”. Ele deixa de ser necessariamente aquele cara da franquia, mas um atleta imprescindível no elenco. Ainda assim, é uma grana boa, só que é o preço que se paga para negociar com um jogador no auge de sua carreira.

Mas o que DeAndre Jordan tem feito de tão bom para merecer tamanha consideração? O pivô é um reboteiro de elite, provavelmente o melhor de toda a liga nesse quesito. Liderou a NBA pela segunda temporada consecutiva no quesito. Foram 15 rebotes por jogo, a maior marca desde que Kevin Love acumulou uma média de 15,2 rebotes em 2010–2011. Além de Love, o único a ultrapassar a marca de Jordan no século foi o pivô Ben Wallace, uma verdadeira âncora defensiva, em 2002–2003, com 15,4 rebotes.

Em 2014–2015, foi o melhor da NBA em porcentagem de rebotes pegos. De cada 100 rebotes gerados enquanto DeAndre está em quadra, 24,5 ficaram nas mãos do pivô. No ataque, ele ficou com a sobra de aproximadamente 16,2% de todos os arremessos errados do Clippers, gerando novas oportunidades ofensivas. Na defesa, mais de 32% dos rebotes ficam com ele.

Jordan teve o maior número de participações defensivas em vitórias da NBA, com 5,4 na temporada. Os números indicam que o Clippers sofre menos pontos e permite menos assistências sem ele em quadra, mas isso é muito provavelmente efeito de DeAndre jogar muitos minutos e o tempo em que ele não está em quadra se referir, geralmente, aos momentos em que o adversário não está usando o time titular, com uma capacidade ofensiva menor. Ao mesmo tempo, sua presença em quadra melhora o Clippers em todos os aspectos de rebote, bem como em assistências e pontos feitos (são 13 a mais por 100 posses).

O jogador tem se destacado bastante na sua capacidade de ler a marcação na cobertura e distribuir tocos. São 2,2 por jogo, a quarta melhor marca da liga. De todos os arremessos de dois feitos pelos adversários enquanto Jordan esteve em quadra, mais de 5% foram bloqueados por ele. Menos da metade dos arremessos feitos no garrafão são convertidos com ele na defesa. É verdade que DeAndre ainda falha frequentemente na marcação individual, caindo em fintas e cometendo faltas desnecessárias. O QI de basquete, a maneira como lê o jogo e o posicionamento do seu time e do adversário talvez sejam as maiores ressalvas defensivas de Jordan.

Quando os Clippers perderam Blake Griffin por 15 partidas no meio dessa temporada, Jordan pisou firme no acelerador e potencializou seu rendimento. O pivô alcançou médias de 14,5 pontos e 18,5 rebotes, com 10 duplos-duplos e nove vitórias da franquia californiana neste intervalo de tempo.

Apesar de limitados a pick and rolls e pontes aéreas (ele praticamente não tem jogo no poste baixo ou alto, e nem mesmo tem um bom passe), os chutes de quadra de DeAndre Jordan atingiram um nível histórico nessa temporada. Obviamente, boa parte disso vem de jogar ao lado de Chris Paul, mas, com o aproveitamento de 71% de todos os arremessos de quadra, Jordan se juntou a Wilt Chamberlain como únicos jogadores titulares de uma equipe a ter mais de 70% de conversão dos chutes ao longo de uma temporada. Sua intensidade na finalização e na enterrada é tão significativa que o jogador dificilmente erra qualquer oportunidade de pontuar dali. Não à toa, 91,8% de seus arremessos são ao redor do aro (mais da metade dele são enterradas), com um aproveitamento de 71,3%. DeAndre ainda precisa melhorar o toque em ganchos e bandejas, mas também ganha muitos pontos em tapinhas e rebotes ofensivos. O ponto negativo do ataque é seu péssimo aproveitamento de lances livres, de 39,7%, que permitiu o Hack-a-Jordan nos playoffs.

Um fator muito subestimado de Jordan é a sua durabilidade: ele chegou à quarta temporada seguida sem perder um jogo sequer pelos Clippers. Para uma posição tão frágil, um jogador com esse tipo de regularidade se torna uma peça rara no mercado. É difícil dizer que um atleta tão impactante numa partida como ele, no auge da forma física, com esse nível de estabilidade em sua saúde, não seja um jogador de destaque. Mais do que isso, é difícil pensar que não valha a pena abrir mão de cerca de 20% da sua folha para ter um dos pivôs de maiores relevância da liga em seu elenco, passando por todo o ápice de sua carreira lá (e terminando o contrato assim que o declínio comece a chegar, aos 30 anos). Contar com DeAndre Jordan é contar com uma máquina atlética na melhor de suas fases, que influenciará o jogo de sua equipe no ataque e na defesa, que ainda tem perspectivas para melhora e, sobretudo, não pesará tanto na folha salarial dentro de alguns anos. DeAndre Jordan, definitivamente, vale o esforço de um contrato máximo.

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