Fim de uma era: Fizdale quer nova filosofia em Memphis

The GOAT
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5 min readOct 27, 2016
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Há anos, uma mentalidade reina no Memphis Grizzlies. Mas o “grit n grind”, expressão que resumia o estilo de basquete nas últimas temporadas, está com os dias contados. Se depender do técnico David Fizdale, será difícil rever aquele jogo mais lento, truncado, com pivôs de costas para a cesta e abusando dos rebotes. Auxiliar técnico do Miami Heat por oito temporadas, Fizdale quer trazer muito do basquete rápido e espaçado que se jogou nos tempos de LeBron James, Chris Bosh e Dwyane Wade na Flórida, e já começou seu trabalho. O novo treinador dos Grizzlies fez sua estreia com a franquia na vitória por 102 a 98 sobre o Minnesota Timberwolves na noite desta quarta-feira (26), e admitiu certo nervosismo com a partida.

“Eu tentei não parecer, mas estava morrendo por dentro. Só que no fundo eu sabia que nosso time tinha jogadores que entregam os resultados na hora que precisam”, revelou após o jogo.

O triunfo sobre os Wolves foi o primeiro passo para o que promete ser uma revolução em Memphis. Com o mesmo núcleo de jogadores que fundamentou a escola do grit n grind por anos, Fizdale quer um sistema completamente novo para se adequar à nova mentalidade da NBA.

“Você não pode mais ser um time de garrafão. Não dá para pensar que você vai preencher o garrafão e vencer jogos. Você precisa marcar a linha de 3 pontos, limitar o números de bolas que o adversário vai chutar de lá. Porque esses caras estão chutando muito bem hoje em dia”, disse Fizdale, em entrevista à Sports Illustrated.

Essa era também parte da promessa que Dave Joerger tinha quando, há duas temporadas, assumiu o comando da franquia no lugar de Lionel Hollins. Mas com os resultados ruins no começo de seu trabalho, o time foi aos poucos retornando para o estilo de jogo mais tradicional, buscando Marc Gasol e Zach Randolph de costas para a cesta, preenchendo o garrafão.

E isso talvez seja um dos principais problemas em tentar mudar a cultura de uma equipe acostumada a jogar e vencer de uma maneira, sem mexer nos protagonistas. Se os jogadores não confiarem no sistema, a tentação para voltar ao padrão que eles sabem que funciona é enorme. Mais importante jogador da franquia, o espanhol Marc Gasol deu crédito ao que Fizdale projeta como ideal para o time.

“Quando se está em um novo sistema, não se pode simplesmente se comprometer a ele. Você precisa acreditar nele. Quando você somente se compromete a algo, você acaba voltando para as suas antigas tendências quando as coisas começam a dar errado”, afirmou o pivô.

Diferente do que aconteceu com Dave Joerger, porém, Fizdale tem uma trajetória que impõe muito mais respeito. É claro que Joerger fez um ótimo trabalho como assistente técnico defensivo dos Grizzlies, transformando uma defesa ruim na segunda melhor da liga em poucos anos. Mas é diferente. Fizdale esteve nas Finais, venceu, trabalhou com lendas do basquete, jogadores que estarão no Hall da Fama assim que puderem. É algo que não se ignora.

“Ele está vindo de um time que foi quatro vezes seguidas às Finais. Nos últimos dois meses, nossas conversas têm sido muito sobre cultura e confiança. Sua mensagem é muito profunda desde o primeiro dia… e eu precisava disso”, revelou Marc à ESPN.

As mudanças em que David Fizdale pensou já começaram a surtir efeito nos Grizzlies. O time arremessou 24 bolas de 3 na vitória sobre o Minnesota Timberwolves, incluindo três arremessos de Marc (um deles foi convertido) e dois de Randolph (que acertou um). Antes da temporada começar, o técnico estipulou uma meta de pelo menos quatro chutes de três pontos por partida para o espanhol, e ameaçou tirá-lo de quadra se insistisse em passar a bola em chances claras de arremesso. Em Miami, Fizdale foi um dos que mais encorajaram Chris Bosh a expandir o alcance de seu arremesso para a linha de três, uma transição que remodelou a forma de jogar do Heat.

“Eu não teria um emprego como técnico agora se Bosh não soubesse chutar de 3. E ele aprendeu isso em Miami. É o que quero fazer com Marc também”, afirmou.

Na agência livre, os Grizzlies não navegaram muito entre os candidatos que o mercado oferecia. Foram certeiros e rápidos para assinar a maior contratação da história da franquia, o ala Chandler Parsons. Mesmo sem estar pronto para jogar ainda, o ala indica novas possibilidades para o ataque dos Grizzlies. Excelente chutador de 3 pontos, tem a capacidade de carregar a bola além de Mike Conley e até de abusar de alguns defensores menores. Sua versatilidade ajuda um sistema cada vez menos posicional.

No comando do ataque, Mike Conley terá as chaves do sistema. A ideia é facilitar as infiltrações e os cortes para a cesta sem a bola de todos os jogadores, uma vez que os pivôs não estão mais congestionando a área pintada. No duelo contra os Wolves, Conley conseguiu achar os espaços de um garrafão mais esvaziado, e terminou a noite com 24 pontos, cestinha dos Grizzlies, apesar dos problemas de falta no começo do jogo.

Mas a mudança mais significativa de Fizdale nos Grizzlies foi a passagem de Zach Randolph para o banco de reservas. Por anos, ZBo e Gasol formaram uma das duplas de garrafão mais temidas da NBA. Juntos, recebiam a bola de costas para a cesta, trabalhavam com seus corpos enormes e forçavam a pontuação com técnica e intensidade física. Na defesa, ocupavam os espaços para evitar infiltrações e contavam com a ajuda dos bons defensores de perímetro do time. Mas se depender de Fizdale, essa dupla acabou. Após conversar francas com o ala-pivô, David conseguiu convencê-lo a assumir um papel de Sexto Homem e ser o principal jogador ofensivo do banco de Memphis.

“Usar Marc e Zach juntos não é uma fórmula para jogar com velocidade. Então por que experimentar isso?”, rechaçou.

Em sua primeira noite no novo papel do time, ZBo anotou 19 pontos e 11 rebotes, e fechou a partida como um dos principais jogadores dos Grizzlies. Seu substituto, JaMychael Green fez 12 pontos e 7 rebotes, jogando quatro minutos a mais que Zach. A princípio, parece que Randolph assumiu o compromisso de sacrificar seu status pelo bem do time.

E, enquanto o time continuar vencendo, não há motivos para acreditar que Fizdale e os Grizzlies vão cancelar seu projeto. Tudo pode mudar de figura, porém, se o caminho não indicar que pode levar às vitórias. Mas David Fizdale sabe onde estão as vitórias, já venceu e, por enquanto, tem total credibilidade para tocar o projeto dos novos Grizzlies. Se o que lhe deu tudo isso foram os triunfos do passado, as conquistas do futuro é que determinarão quanto tempo ele terá para realizar esse trabalho.

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