Kobe nunca mais vai errar um arremesso

The GOAT
thegoatbr
Published in
3 min readApr 13, 2016
kobe bryant boston

16.938. Esse é o número de vezes em que uma bola saiu das mãos de Kobe Bryant, ganhou os ares e falhou miseravelmente na tentativa de entrar na cesta adversária. O armador do Los Angeles Lakers é o jogador que mais errou na história da NBA. E não há estatística que resuma melhor o que foi Kobe.

Sua carreira foi mais do que um conjunto de momentos gloriosos, como ouviremos falar muitas vezes nesta quarta-feira. Os 20 anos de Kobe Bryant na NBA dizem muito mais sobre suas falhas e suas voltas. Sobre a capacidade do ser humano de errar e lidar com os próprios fracassos. Antes de se tornar o craque que foi, Kobe errou muito.

Foi Kobe que, numa prorrogação contra o Utah Jazz nos playoffs, chutou três air-balls seguidos. Teve a noção do tamanho da responsabilidade de botar um time sobre os ombros. À época, um fardo pesado demais para um jogador pouco preparado. “Tive que lidar com a opinião pública, duvidei de mim mesmo. Foi um ponto importante para mim ter que lidar com essa adversidade aos 18 anos”, disse o astro. Afinal, foi Kobe que, dez anos depois, aniquilou o Phoenix Suns com duas bolas no estouro do cronômetro nos playoffs. O erro nos faz melhores.

É fácil encontrar declarações do técnico Phil Jackson citando Bryant como um jogador que não poderia ser treinado. Incontrolável, ingovernável. Foi um dos motivos para que o Mestre Zen deixasse os Lakers anos após o tricampeonato de 2000–01–02. Em 2007, Kobe soube passar por cima das diferenças e se reuniu com Jackson para uma nova sequência de dois títulos. O erro conserta as relações.

Não é complicado observar como Kobe se transformou como colega de equipe. Do garoto problemático que não aceitava o estilo e a importância de Shaquille O’Neal, do craque que ofendia publicamente companheiros de time, ao grande líder de um time bicampeão da NBA. Não é à toa que Pau Gasol, um dos mais respeitados jogadores da NBA, o considera tanto: “Ele sempre foi direto, honesto comigo. Eu tenho orgulho de chamá-lo de irmão”. O erro amadurece.

O que nos leva para um momento da temporada 2012–2013, a última de alto nível de Kobe. Em meio ao drama de Dwight Howard com a cobrança de lances livres, o Black Mamba deu um conselho: “Vá ao ginásio. Chute mil arremessos. Você vai errar muitos desses lances, mas estará ensinando a si mesmo que é ok errar”. Por trás desse conselho, provavelmente está a filosofia que motivou um dos maiores atletas da história do esporte. Por esse motivo, não desistiu de jogar mesmo após uma lesão devastadora em 2013. Voltou, se machucou de novo, até aprender a lição que seu próprio corpo quer lhe ensinar. “É incrível poder ir embora sabendo que eu tentei de tudo. Eu fiz tudo que pude.”

Para cada acerto e glória da carreira de Kobe, foi necessário um erro anterior. Um momento em que ele enfrentou a realidade de suas escolhas e cresceu como jogador, como atleta, como pessoa. Há sempre uma parte da história em que a lenda se mostra humana, imperfeita e, por isso, fascinante.

Quando hoje, relembrarem os títulos, as cestas no fim, as marcas históricas, não se esqueçam: para que tudo isso acontecesse, Kobe Bryant errou. Nesta quarta-feira, contra o Utah Jazz, o time contra o qual chutou os três air-balls em 1997, Kobe errará pela última vez. E então será a hora de aplaudir todas as conquistas do craque que se vai, todo o legado que ele construiu; não importa o quanto ele tenha fracassado antes chegar onde chegou. É na eternidade que os erros perdem força e as vitórias se destacam.

--

--