Na noite de Natal, a NBA assumiu uma importante posição dentro do cenário político norte-americano: a liga emprestou seu nome, e suas estrelas, à luta do Everytown for Gun Safety, um movimento contra a livre comercialização de armas de fogo nos Estados Unidos.
A principal peça, que foi veiculada durante os intervalos dos cinco jogos da rodada de Natal, tem cerca de 32 segundos e traz pedaços de depoimentos de Stephen Curry, Chris Paul, Carmelo Anthony e Joakim Noah. O comercial começa com uma frase impactante de Curry sobre Riley, sua filha, que ganhou o mundo nas Finais da última temporada. “Eu ouvi sobre um tiroteio que atingiu uma garota de três anos no verão. Minha filha (Riley) tem três anos de idade”. Na sequência, CP3 emenda: “Meus pais sempre me diziam que balas não têm alvos fixos”. Após Carmelo Anthony dizer que armas jamais deveria ser uma opção, Noah encerra o comercial garantindo: “Todos podemos fazer a diferença”.
A propaganda, que pode ser conferida abaixo, também tem pedaços de depoimento de parentes de vítimas da violência de armas no país.
Em seu canal no Youtube, o movimento Everytown for Gun Safety disponibilizou trechos maiores dos depoimentos de cada um dos jogadores citados acima. Confira, com traduções livres do GOAT:
Carmelo Anthony
“Eu poderia ser uma vítima. Em todas as situações, eu estava lá. Eu vi. Todo dia havia alguém sendo assassinado, você acaba se tornando ‘imune’ aquilo. Graças a Deus, eu tive as saídas e o basquete me levou para outro caminho. E enquanto fico velho, começo a olhar para trás e… algo tem que parar. Nós precisamos acabar com isso. Você pode ir até a esquina comprar uma arma, comprar com um cara conhecido, é muito fácil, muito acessível. E será assim até que nós decidirmos, como sociedade, lutar contra isso. Precisamos descobrir como lutar em um plano maior, em vez de focar em eventos isolados. Eu vi muitos amigos perderem a vida para as armas. Um dia eles estão aqui, no outro, não. E agora, nessa situação em que minhas voz pode ser ouvida, você descobre diferentes modos de falar sobre isso. As armas nunca deveriam ser uma opção.”
Chris Paul
“Toda vez que alguma coisa acontece, você se pergunta se poderia ter sido com um de seus familiares. Como um pai, me pergunto se fosse com um de meus filhos… Está nos noticiários, todo dia. Antigamente, ficávamos surpresos: “Nossa, isso acontece!”. E agora estamos mais conformados: “Ah, de novo…”. E isso não é algo que eu ache que possa ser normal. Para mim, é difícil, pelo modo como que meu avô foi assassinado por cinco adolescentes de 15 anos. Por isso, sempre que trabalho em minhas fundações, nas comunidades, penso sempre nas crianças. Porque penso que aquelas crianças que fizeram aquilo com meu avô não tiveram as oportunidades que outras tiveram. Se vê o basquete como um grande pagador, que te dá uma vida boa e carros, entre outras coisas. Mas, para muita gente, ele é uma saída para te manter longe de problemas, longe de outros caminhos. Quando fui para a NBA, a primeira coisa que fiz foi inaugurar uma quadra com o nome do meu avô em uma periferia da cidade em que nasci. Quando estive em Nova Orleans, vi muitas praças e quadras de basquete serem destruída pelo (furacão) Katrina, e queríamos reconstruir tudo aquilo. Porque é lá que essas crianças nascem, lá que os jogadores da NBA também nascem”
Joakim Noah
“A Gota da Consciência é um colar que minha mãe criou há uns 20 anos. Representa as lágrimas pelas vítimas da violência das armas e todo o dinheiro arrecadado vai para ajudar centros comunitários. E esses são os verdadeiros projetos anti-violência: investir em programas dentro das comunidades. Eu cresci em um centro comunitário e aquilo mudou minha vida. O diretor de lá se tornou um segundo pai para mim — descanse em paz, Sr. Green. E é o que tento fazer aqui. Trabalhar com minha mãe para ajudar essas crianças. Temos clínicas de basquete, mas o importante é manter as crianças interessadas. Não importa se é ou não pelo basquete, mas mantê-las envolvidas, dar esperança a elas, coisas diferentes para se fazer.
Eu me sinto abençoado de jogar pelo Chicago Bulls há nove anos, e Chicago é como se fosse uma segunda casa para mim. E por mais que eu ame a cidade, o maior problema é a violência de armas e esse acesso fora de controle a elas. Eu me lembro de uma criança que, durante meu ano como novato, me esperava todo dia no lado de fora do United Center. Há três anos, ele tomou um tiro. Estava com amigos, então era muito fácil querer se vingar. Tentei me aproximar dele, dar a ele palavras de coragem. Às vezes, se trata de ter alguém para quem voocê pode ligar quando você sente que vai explodir, para te dar sanidade. Esse é um grande país, o melhor no mundo, e a realidade é que há muitas crianças que se sentem sem esperança. Que estão usando armas em uma frequência alarmante. Isso não acontece em outros lugares. Por melhor que os EUA sejam, precisamos ser críticos, e é definitivamente hora para uma mudança. É o que espero que essas crianças”
Stephen Curry
“Eu apoio essa luta porque é algo que pode ser mudado. É de quebrar o coração, decepcionante que essas famílias tenham que passar por essa dor inimaginável. Isso está afetando a cultura, o ambiente em que vivemos no país todo. Até mesmo no nosso quintal, perto da Oracle Arena, onde jogamos. Inúmeras pessoas são afetadas. Pessoas que não podem simplesmente sair nas ruas, visitar lojas, não podem ir a festas, que não podem fazer coisas por temer pelas próprias vidas. Isso é triste. Como um pai, tenho duas filhas pequenas, toda vez que ouço que alguém foi vítima de uma briga ou foi atingido de qualquer forma, por uma bala perdida, ou que seja, isso machuca. Eu não sei o que faria se recebesse uma ligação e me dissessem que minha filha se foi. Nenhum pai ou mãe deveria passar por isso. Esperamos a mudança, mudar nossa cultura. É por isso que estamos aqui. Eu tenho uma voz e quero compartilhar isso: parem com a violência de armas”
Saiba mais sobre o Everytown for Gun Safety no site da organização: http://everytown.org/
