[NBA Finals 2015] A metamorfose de Harrison Barnes

The GOAT
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4 min readJun 3, 2015

Quando o assunto Golden State Warriors chega numa mesa de conversa, alguns temas são comuns: os Splash Brothers, o MVP de Stephen Curry, Draymond Green, Andrew Bogut e o seu talento que pode ser interrompido a qualquer momento por mais uma lesão… Até mesmo a força de vontade de Shaun Livingston e as marretadas aliadas ao impacto defensivo de Andre Iguodala. Mas poucas vezes o papo converge para um cara que faz de tudo um pouco e que, a cada ano, cresce ainda mais e funciona como um mini-reflexo dos Warriors: Harrison Barnes.

Barnes faz parte daquele seleto grupo de jogadores importantes e subestimados que quase nunca são reverenciados. Ele mesmo não chama muita atenção por possuir uma personalidade mais calma, e, se analisarmos quantos olhares seus companheiros chamam, é compreensível que o Falcão Negro passe quase despercebido. No seu ritmo, Barnes continua a evoluir em suas qualidades e reduzir suas fraquezas. Em uma temporada tão afiada, os mais atentos conseguem perceber o paraíso amarelo que o ala cultiva.

O caminho de Barnes, porém, foi complicado. Quando jovem, o ala era um dos mais talentosos prospectos do high-school. Foi para a Universidade da Carolina do Norte, seguindo os passos da lenda Michael Jordan. Já na universidade, começou a tentar se vender: “As pessoas vêem Michael Jordan como um grande jogador de basquete, mas ele também é um grande homem de negócios”, disse certa vez. O problema foi quando este pensamento e todas as entrevistas e conferências acabaram criando um monstro de expectativa, que não foi alimentado suficientemente com o seu basquete apresentado.

No draft de 2012, foi o 7º escolhido na primeira rodada. Nos Warriors, começou como um jogador de rotação que apresentava diversos problemas, como irregularidade em seus arremessos mais longe da cesta. Com a chegada de Iguodala, virou seu reserva imediato, enquanto começava a destruir as suas deficiências. Todo aquele pensamento de criar uma marca ao redor de si sumiu. Barnes passou a focar apenas em melhorar o basquete e ser um cara mais comum em suas entrevistas. A torcida começou a apreciá-lo.

Nesta temporada de 2014–15, Steve Kerr o colocou no quinteto titular. Seus minutos por jogo continuaram quase na mesma quantidade da temporada anterior (28,3 aproximadamente), mas o jogador apresentou um basquetebol de muito mais qualidade nesse tempo. Da temporada passada para esta, nenhum outro arremessador na liga melhorou tanto quanto ele. Dos 136 atletas que tentaram um mínimo de 300 arremessos somados nesta e na temporada passada, ele foi o que mais evoluiu em aproveitamento, pulando de 32,8% para 40,3%. O rapaz que não conseguia arremessar muito longe da cesta agora tem um tiro de média distância confiável. Não suficiente, ele é o atleta mais preciso da liga do canto direito da quadra, acertando 58,5% dos seus arremessos.

A imagem acima, do site Grantland, demonstra a evolução geral de Barnes em seus arremessos em todos os cantos da quadra. Seuchute do canto direito é o que apresenta uma maior evolução, porém também é notável que, com sua melhora nos arremessos de média distância próximos a cabeça do garrafão, mais espaço aparece para que ele consiga se aproximar da cesta, seja por meio infiltrações criadas por ele ou vindas de um passe ou em uma jogada de post, que ele também consegue executar suficientemente bem. É esse o tipo de versatilidade que ele dá ao ataque dos Warriors.

Nestes playoffs, Barnes viveu seus maiores momentos individuais na série contra o Houston Rockets. No Jogo 3, em Houston, o ala ficou encarregado de defender primariamente a estrela do adversário, James Harden. Klay Thompson foi quase completamente queimado nos dois primeiros jogos pelo barbudo, mesmo sendo um defensor competente. Na troca de marcações, nem sempre era eficiente ter que sobrar Draymond Green nele, já que isso poderia abrir espaços para Dwight Howard e Josh Smith trabalharem melhor próximos à cesta. Barnes conseguiu deter muitas das investidas do adversário, sempre colado à sua cintura e utilizando seu tamanho e velocidade a seu favor. O ala conseguiu ser extremamente efetivo, ajudando os Warriors a abrir 3 a 0 na série e limitando muito Harden.

Já no Jogo 5, os Rockets puderam se manter perto no placar mesmo com um Harden cambaleante. Foi aí então que Barnes teve um último quarto digno de estrela. Foram 13 pontos apenas neste período, 9 destes nos 2 minutos e meio após a saída de Klay Thompson, atingido por uma joelhada de Trevor Ariza em sua cabeça. O Falcão Negro terminou a noite com 24 pontos e responsável por jogar os Rockets para longe na hora crucial.

Harrison Barnes é um turbilhão de acontecimentos presos em um rapaz calado e esforçado. Tentou vender seu potencial, não atendeu expectativas e não parecia que seria nada mais além de um jogador de rotação. Mas a verdade é que ele começa a alimentar o seu monstro interior da forma correta, evoluindo e se transformando em um cara indispensável nos planos que passeiam na cabeça de Steve Kerr. Mais do que isso, tornou-se um parceiro eficiente e confiável para Stephen Curry, com um grande potencial. Não será surpreendente se o ala ainda subir mais alguns degraus daqui em diante.

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