[NBA Finals 2015] A resiliência de Stephen Curry

The GOAT
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6 min readJun 4, 2015
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Stephen Curry tomou a NBA de supetão. Seu nome se tornou indispensável nas listas de melhores jogadores da atualidade de quase todo fã da liga. Seus certeiros e divertidamente displicentes arremessos de três já fazem parte do imaginário popular dos torcedores, que lotam a Oracle Arena a cada jogo, bradando ‘MVP’ quando o armador vai na linha de lances livres como se a vida deles dependesse disto. Curry é o símbolo máximo de uma franquia que não sabia o que era Finais da NBA há 40 anos e que agora sonha com uma nova bandeira de campeão hasteada no ginásio. É um jogador de uma nova era da liga, de uma nova era da franquia.

Filho de Dell Curry, ex-jogador da NBA que também tinha um talento especial com arremessos de longa distância, Steph cresceu em meio a vestiários da liga. Desde pequeno, já sonhava em ser um jogador profissional de basquete. Em 2002, quando Dell já estava no fim da sua carreira em Toronto, o garoto de 14 anos já falava com clareza: “eu quero praticar um pouco mais… e espero conseguir me tornar um profissional caso eu tenha uma chance”. Naquele mesmo ano, liderou a sua equipe da escola, o pequeno Queensway Christian, em uma temporada sem derrotas, fazendo 40, 50 pontos nos jogos, mesmo sendo um dos menores jogadores do time. Baixinho, não muito rápido, não muito atlético. No segundo ano do high-school, teve que modificar completamente o seu arremesso, pois ele era facilmente bloqueado por jogadores mais altos. Oscilando no último ano do high-school, Steph foi quase ignorado no recrutamento das universidades. Acabou indo para Davidson, uma pequena universidade de artes perto de Charlotte que não ganhava uma partida da NCAA havia 40 anos.

Curry brilhou em Davidson. Na sua primeira temporada, ficou em segundo entre todos os calouros em pontuação, atrás apenas de Kevin Durant. Em sua segunda temporada, quebrou o recorde nacional de bolas de 3 em um ano e levou uma desacreditada Davidson ao Elite Eight da NCCA, com direito a atuaçõe memoráveis. Entre elas, estão seus 40 pontos contra Gonzaga (30 no segundo quarto), os 30 pontos em uma virada contra Georgetown (25 deles no segundo tempo) e os 33 pontos na vitória contra Wisconsin. Curry e Davidson caíram contra Kansas, o time número 1 da sua região, por apenas 2 pontos. O mais incrível era que, mesmo com os adversários forçando a defesa nele, Steph ainda conseguia produzir muito bem. Se quando sua jornada na NCAA começou ele era um desconhecido, em sua saída no seu terceiro ano para se alistar no draft, muitos especialistas apostavam que seu impacto na NBA poderia ser ainda maior.

No draft de 2009, com a sétima escolha do draft, o Golden State Warriors selecionou Stephen Curry. Mesmo com o sucesso indiscutível no college, Curry ainda era o jogador baixinho, não muito rápido e pouco atlético que poderia não dar certo numa liga física como a NBA. Em um cenário realista, muitos imaginavam que ele não passaria de um JJ Redick, um jogador de rotação que adiciona um espaçamento e um arremesso seguro para sua equipe. Comparações com o próprio pai surgiam, já que este era um arremessador que fez seu nome sendo competente em suas bolas de longa distância. Steph, no fim das contas, era um incógnita que poucos esperavam que um dia chegaria perto de ser uma estrela.

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Seus três primeiros anos na liga ajudaram a reforçar esta ideia. Se sua temporada de estreia foi segura, com 17,5 pontos e 5,9 assistências por jogo, ficando atrás apenas de Tyreke Evans no prêmio de Calouro do Ano, as duas seguintes foram tenebrosas. Em 2010–11, o armador sofreu múltiplas lesões no tornozelo. Em 2011–12, jogou apenas 26 jogos, quando necessitou fazer duas cirurgias após novas contusões. O problema no tornozelo parecia crônico e a carreira dele fadada a mediocridade, como a de vários outros jogadores vítimas de lesões. Muitos poderiam desistir dele aí, mas os Warriors ainda estavam dispostos a apostar algumas fichas. Mesmo com tantas dúvidas, o armador renovou por 4 anos e 44 milhões, e o pagamento em quadra veio rápido.

Na temporada de 2012–13, Stephen Curry provou que o seu sonho era maior que qualquer adversidade. Sua resiliência o empurrou para uma temporada forte, com médias de 22,9 pontos e 6,9 assistências por jogo, além de 45,3% de aproveitamento nos arremesso de três, que resultaram na quebra do recorde da NBA de bolas de 3 em uma temporada. Foi também nesse ano que registrou 54 pontos em um jogo inesquecível contra o New York Knicks no Madison Square Garden. Após alcançar os playoffs, liderou os Warriors contra o Denver Nuggets em uma delirante série de primeira rodada e triunfou por 4 a 2. A experiência do San Antonio Spurs, porém, foi demais para o time, que acabou eliminado por 4 a 2 na rodada seguinte. também por 4–2.

Em 2013–14, Curry fez mais uma temporada forte, com 24 pontos e 8,5 assistências de média por partida, e um aproveitamento de 42,4% nas bolas de três. Steph conseguiu iniciar em seu primeiro Jogo das Estrelas e se consolidou como um fenômeno popular na liga. O armador se firmou longe de lesões sérias e conduziu os Warriors a mais uma pós-temporada, em que acabou eliminado em sete jogos pelo Los Angeles Clippers. Muitos imaginavam que a ascensão de Curry pararia por aí, enquanto outros ainda pareciam confusos com a sua evolução.

Mas foi a temporada transcendental de 2014–2015 que mudou tudo sobre Steph. Registrando 23,8 pontos e 7,7 assistências por jogo, 44,3% de aproveitamento nas bolas de três, Curry impressionou a todos orquestrando uma ótima equipe com maestria. O camisa 30 se tornou o jogador mais rápido na história da NBA a atingir 1000 bolas de 3 (369 jogos). O antigo dono do recorde, Dennis Scott, precisou de 457 jogos. Fora isso, quebrou o próprio recorde de bolas de 3 em uma temporada, foi o jogador mais votado no Jogo das Estrelas e liderou Golden State em seu melhor ano na história da franquia, garantindo a melhor campanha de toda a NBA na temporada. Sem surpresas, foi eleito o Jogador Mais Valioso da temporada regular e levou sua equipe às Finais da NBA.

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A chegada de Steve Kerr aos Warriors é um grande facilitador no rendimento absurdo do time na temporada e do próprio Steph. Se Mark Jackson optava por um jogo mais lento, com jogadas individuais mais constantes e um ataque de meia quadra, Kerr apostou no oposto. O time é a representação esportiva do novo filme de Mad Max. Veloz, letal e louco. Ao mesmo tempo organizado e com as ideias apresentadas com clareza. Com velocidade e muitos passes, girando a bola até buscar o melhor jogador, com screens constantes e com Curry se movendo bastante mesmo sem a bola, para que os espaços apareçam. E espaços são maravilhosos para um arremessador de elite. Os números não são muito diferentes, mas, ao ver o jogo, a diferença é notável. É um sistema feito para tirar o melhor possível dele.

Além disso, Steph está rodeado de talento e boas companhias. Klay Thompson está com ele desde 2011, Harrison Barnes e Draymond Green estão crescendo absurdamente e Andrew Bogut parece realmente se divertir na liga depois de tantos anos confusos no Milwaukee Bucks. Andre Iguodala aceitou virar sexto-homem em prol do time e até o brasileiro Leandro Barbosa mostrou-se útil quando necessário. Curry tem ao seu lado o melhor grupo possível, talvez o melhor que ele terá durante toda sua carreira. “Eu gostei deste ano mais do que qualquer outro”, o próprio disse para o treinador Steve Kerr. O que é melhor do que se divertir no trabalho?

Stephen Curry tinha tudo para dar errado, apesar de seu talento. Sem muitos atributos físicos e com múltiplos problemas de lesão no tornozelo, foi bastante questionado enquanto crescia na NBA. Porém, assim como as suas bolas de três, sua própria carreira é uma caixinha de imprevisibilidade. Sua ascensão parece um milagre dos deuses do basquete. Até em seu ano de MVP, centenas de dúvidas surgem. Ele segue quebrando uma a uma. O último desafio da temporada se apresenta, contra o jogador mais importante da atualidade, LeBron James. Hora de derrubar outra barreira, Steph.

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