O guri de apartamento da NBA

The GOAT
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4 min readNov 5, 2016
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Guri de apartamento. Até onde sei, é uma gíria bem gaúcho, então explico. Primeiro, não tem muito a ver com o local onde você mora. Alguém pode crescer a vida inteira morando em apartamentos e não ser um guri de apartamento. Guri de apartamento é aquele criado com tudo na boquinha, com a mãe — ou a vó — passando a mão na cabeça, não deixando ele se soltar e ir correr pela vizinhança. Também conhecido como “criado a leite com pera”. O Quico, do programa do Chaves.

Esse é o Golden State Warriors hoje em dia. Seja pelas declarações fora de quadra, seja pelas atitudes em quadra, o time mostra um certo transtorno de personalidade. Por um lado, são os durões que abraçam o papel de vilão que tanto a NBA necessitava. Do outro, dobram os joelhos ao encontrar qualquer atitude parecida com a sua e corre para “contar tudo pra minha mãe”.

#ArrogantSZN

Tudo começou há muito tempo atrás em um reino após as Finais de 2015. Ao ouvir que o time teve sorte por ter todos jogadores saudáveis nos playoffs, os Warriors se sentiram ofendidos. Ora, ninguém disse que o time era ruim e perderia caso outros também estivessem 100% — OK, alguns falaram, mas ignorem eles, forçaram a barra. Mas, sim, é sorte passar uma temporada inteira sem lesões. Qualquer pé no lugar errado na hora errada pode tirar um jogador da temporada. E isso não aconteceu com Golden State.

O time resolveu que iria mudar de cara. Virar uma equipe arrogante. #ArrogantSZN surgiu, temporada arrogante. Vai lá, clica no link em cima da hashtag e dá uma lida no que a torcida falou durante a temporada. Eles tiraram onda da NBA a temporada inteira, com razão, afinal o time teve um recorde de 73–9. “Perderam ano passado (não tinha Love/Irving)… Perderam na temporada regular (era temporada regular)… Qual vai ser a próxima desculpa? #ArrogantSZN”, dizia um tweet. “NBA é armada, já posso até escutar #ArrogantSZN”, respondia outro torcedor dos Warriors. Assim que Draymond Green foi suspenso por agredir um saco escrotal a mais do que a liga aguentava, “NBA armando contra a gente”, reclamara. Assim que o time entregou uma vantagem de 3–1 nas Finais, reclamaram das piadas.

“É jogo de homem, tá magoado”

Klay Thompson viu seu companheiro acertar as jóias da família James e ser suspenso, confiante com a vantagem, resolveu atacar o ala do Cleveland Cavaliers em vez de condenar o colega de equipe que colocou em perigo as chances de título. “É um jogo de homens… alguns ficam com os sentimentos machucados”, disse. James, ao ouvir isso, riu. A declaração parece ter acordado ele e os Cavs venceram as Finais.

Como Thompson reagiu? Não deu os parabéns aos adversários, deixou a quadra sem o costumeiro abraço de parabéns e “te vejo ano que vem”. Depois reclamou de perguntas sobre as Finais durante os Jogos do Rio. Agora, se sentiu magoado pelos cookies na festa de Dia das Bruzas de James, com lápides para ele e Steph Curry. Mais uma vez, o time que disse abraçar o papel de arrogante conseguiu dar o tapa, mas não aguentou levar.

“Estou de volta!”

Esse é um problema menor, mas quando você age desse jeito…

O homem do saco

Então chegamos ao Draymond Green. Pior que tinha tudo para o ala-pivô ser um de meus jogadores favoritos. Algumas coisas lembram os anos de ouro da NBA. A atitude, intensidade, ares de poucos amigos. No entanto, como todo o time, Green gosta de tirar onda, mas não aguenta quando fazem com ele.

Green adora provocar. Mostra a língua encarando adversários, passa 48 minutos reclamando com árbitros, mostra os músculos mesmo após uma cesta contra um armador que pesa metade de seu peso. Reclama aos berros com os treinadores e colegas de time.

Seria interessante, se não ficasse de mimimi quando fazem com ele. Green, recentemente, reclamou que times estão sendo mais físicos com os Warriors e que tentam desrespeitar o time, talvez com a intenção de iniciar uma confusão. Roto, conheça o esfarrapado.

E os chutes. Ah, os chutes. Não existe maneira de defender quem chuta, desculpem a maneira grossa de colocar em palavras, o saco de alguém. Um golpe baixo em um esporte que não tem golpes. E o cara continua. Nem ser suspenso, custar o título ao time, fez com que mudasse.

Mais do que na hora dos Warriors mudarem. Ou abraçam realmente a #ArrogantSZN e aguentam as consequências de abraçar um papel de vilão, ou param de fingir que querem esse papel e sigam sendo o Quico da NBA.

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