O melhor Jogo 7 na história das Finais da NBA

The GOAT
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3 min readJun 19, 2016
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Antes de mais nada, comecem a ler este post com James Brown — Superbad Part 1 & 2 em uma outra aba.

O ano era 1970. Como as paradas de sucesso eram dominadas pela música disco, a NBA era dos grandões. Wilt Chamberlain, Willis Reed levaram seus times — Los Angeles Lakers e New York Knicks, respectivamente — para as Finais. Sem a linha de 3 pontos para abrir o jogo, era uma terra de gigantes. Se Wilt e Reed eram a música disco, dominando, algo diferente aparecia. Com estilo, suavidade, diversão, excêntrico chegava o Funk. E ninguém representava melhor o estranho estilo novo como Walt Frazier, o Clyde, armador dos Knicks.

Com seus casacos de pele e chapéus enormes, Clyde tinha todo o estilo da música de James Brown, Earth, Wind & Fire, Parliament/Funkadelic. E, no Jogo 7 das Finais de 1970, os Lakers viram como era jogar contra uma força da natureza. Clyde teve o maior Jogo 7 em Finais da NBA. Foram 36 pontos, 19 assistências e sete rebotes. Poderia ser melhor, NBA não contava roubadas em 1970 — foram umas cinco. Tudo sem Reed, o jogador mais importante dos Knicks na época.

Tudo começou no Jogo 5 das Finais. Os Lakers fizeram uma corrida de pontos e, de repente, Willis Reed, o Cap, caiu no chão. “Pensei que estava lesionado demais”, disse Reed eventualmente, “aí sentei por um minuto e não achei tão ruim. Aí tentei levantar e vi que estava lesionado de verdade. Não sabia o que aconteceria a partir dali”.

Contra Wilt, Jerry West e Elgin Baylor as esperanças de título pareciam fugir dos Knicks. “Pensei, ‘bom, lá se vai o campeonato’. Willis era a espinha dorsal do time”, lembrou Clyde. Sem ele, não via como conseguiríamos conter Chamberlain”.

No Jogo 5 os Knicks resistiram. Dobrando, triplicando a marcação em Wilt, o time do Leste roubou o Jogo 6. Sem Reed desde o início, no entanto, o Jogo 6 foi impossível para os Knicks. O palco estava pronto para um Jogo 7 entre duas das maiores franquias da NBA, na maior arena do mundo, o Madison Square Garden.

Ninguém esperava ver Reed no Jogo 7. Mas Cap não estava pronto para entregar os pontos. “Sempre lembro ter pensado, não seria um jogador de basquete para sempre”, disse Reed. “Em 20, 25 anos estaria sentado em algum lugar, pescando, e pensando ‘cara, queria ter jogado aquela partida’. Não deixaria isso acontecer. Era o meu momento”.

E foi. Pelo menos pelos primeiros minutos. Quando Reed entrou pelo túnel, na época localizado perfeitamente no meio da torcida, o Garden explodiu. Cap voltou. Quando Clyde viu os olhos dos Lakers arregalados com a entrada triunfal de Reed ele sabia. “Pegamos eles”. Quando Reed converteu os dois primeiros arremessos, com Wilt inexplicavelmente dando espaço para um jogador que não caminhava direito, ficou claro que Clyde tinha razão.

Willis foi um fator importante. Tirou a confiança dos Lakers como Frazier tirava a bola dos adversários. Com facilidade. Mas foi Clyde quem, metodicamente, desconstruiu a defesa do time de Hollywood. Aliás, abra um dicionário aí na sua casa e procure pela palavra “metódico”. Do lado dele verá uma foto de Clyde Frazier.

Ele destruía defesas de maneira fluída. Como a água. Olhem a água, se você colocar a água em um copo, ela vira o copo, em uma garrafa, ela vira a garrafa. Água pode fluir ou trombar. Clyde era como a água. Se os Knicks necessitassem de 30 pontos, ele faria. 40? Sem problemas. Cinco roubadas? Clyde tá aqui.

Clyde dominou os Lakers sem desperdiçar um movimento. O passe perfeito na hora perfeita. O corte para a cesta quando o time mais necessitava de agressividade. A defesa. Ah, a defesa. Clyde costumava deixar um adversário fazer um drible o jogo inteiro. Como uma cobra, ele deixava o adversário ganhar confiança naquele drible específico. Quando era de tomar conta do jogo, ele dava o bote. Roubava a bola. As bolas. A do jogo e do adversário. Acaba com a confiança.

Além das estatísticas. A maneira com que jogou fez com que os Knicks vencessem um time superior. Sem seu melhor jogador.

Clyde. O Jogo é dele. Sucka!

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