O problema da propaganda nos uniformes da NBA

HitTheGlass
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5 min readOct 14, 2017

A foto de capa feio do excelente site Uni Watch. Fundado por Paul Lukas, que também trabalha para a ESPN.com, o Uni Watch é onde caras como eu, que também se importam e gostam bastante do lado estético do esporte, se encontram para discutir os mínimos detalhes dos uniformes dos atletas que acompanhamos.

Foi Lukas que inventou a hashtag #NoUniAds, que tanto uso. Foi ele que, logo que começou o rumor de que NBA adotaria propaganda nos uniformes, deu a ideia de mandar emails para o comissário Adam Silver. O que fiz em um longínquo post no Hit the Glass.

Qual não foi minha surpresa, completamente agradável, quando vi que, ao anunciar o outdoor nos uniformes do New York Knicks, Lukas usou uma estratégia parecida com a minha. Foi um “chega, deu de mostrar essas marcas que mancham nossos esportes”. Ele optou pelo patch do Mr. Yuck. Eu tirei de foco as propagandas.

No momento, 17 dos 30 times da NBA colocaram propaganda, manchando de maneira irreversível seus uniformes. Além dos Knicks, Philadelphia 76ers (o primeiro a pular nas costas do monstro da ganância), Boston Celtics, Brooklyn Nets, Utah Jazz (que, pelo menos, tem uma ação de caridade), Sacramento Kings, Cleveland Cavaliers (que já interferiu até no design do uniforme preto), Orlando Magic, Toronto Raptors, Minnesota Timberwolves, Detroit Pistons (como Pistons não fecharam com uma marca automotiva?), Denver Nuggets, Milwaukee Bucks (talvez o pior — se é que tem como ser “o pior” nessa categoria de piores), Atlanta Hawks, Golden State Warriors, Miami Heat, Los Angeles Lakers são as equipes que já se renderam ao dúbio futuro.

Você se importa demais com algo tão sem importãncia como propaganda em uniformes, cara!

Parafraseando algo que alguém me tuitou esses dias. Olha, de certa forma, se preocupar com o lado estético do esporte é meio “sem importância”, verdade. Mas, se partirmos deste tipo de pensamento, se importar com esporte também é. Tem tanta coisa séria no mundo que os esportes não passam de uma mera distração para alguns, trabalho de vida para outros e tudo entre esses extremos.

Mas eu sou o cara que vai falar de X e O, provar por A mais B que o triângulo não é ultrapassado e, no próximo tweet, reclamar que a Nike mexeu em alguns uniformes que não deveriam mudar, Suns, pelo menos não desse jeito, mudou pouco uniformes que deveriam ter sido refeitos do zero, Rockets, e que os Knicks poderiam ter um dos uniformes mais perfeitos — pré Mr. Yuck — se time mudasse alguns detalhes.

O problema maior também envolve a invasão de propagandas em nossas vidas. Hoje em dia, nem um quadra em um programa de TV está livre de ser “Apresentado por Marca X”. Essa ganância desenfreada é até uma piada em uma parte do Inside the NBA.

O quadro no qual Earnie Johnson mostra uma estatística “jóia, mora”, a TNT sempre brinca com o fato de ninguém querer patrocinar o quadro. Claro que, se fosse necessário, colcoariam uma marca, mas a piada, por enquanto, ganha da ganância.

Hoje temos propagandas na mesa que cuida das informações do jogo, na quadra na frente dos bancos, em cima da tabela, em zepellins passeando pelo ginásio, nem os lugares dos torcedores escapam de alguma propaganda. Um dos grandes problemas da sociedade atual é termos passado de uma economia de mercado para uma sociedade de mercado. Tudo está a venda. Tudo tem seu preço. Corporações invadem nossas vidas mesmo quando não são convidadas.

Os uniformes eram o último hectare livre. Tinhámos o nome da equipe, logo da liga, número, nome do atleta é era isso. Tinha algo de puro.

Com um canetaço, Silver acabou com tudo isso.

Quando as propagandas se espalharem para a MLB, NFL e a menor NHL, a culpa será de Silver. E usar o futebol como desculpe não serve. Em um, temos 45 minutos de ação ininterruptos, mais descontos, antes de uma parada para os comerciais. Os outros param o tempo inteiro para propaganda. Cara, até pedido de tempo obrigatória para os comerciais existe.

Basquete europeu? Nope. Os times europeus, e os daqui, precisam do dinheiro para sobreviverem. A NBA fechou um contrato bilionário de televisão, joga dinheiro no colo de atletas que jogaram 31 partidas em 3 temporadas e suas franquias têm os valores explodindo cada vez mais.

Outro problema das propagandas

Com as propagandas e a marca da Nike estampando o peito dos jogadores, por enquanto só nos cantos, perdemos um dos locais mais nobres dos uniformes.

Era ali que os times colocavam homenagens póstumas, mostrando respeito aos que se foram, mas deixaram sua marca nos times.

Também era ali que os times comemoravam seus aniversários. Três times já apresentaram patches de aniversário para a proxíma temporada, Nuggets, Bucks e Suns.

Apenas os Suns têm espaço para comemorar os 50 anos da equipe.

Isso que ainda não chegamos no objetivo final da NBA. Pode levar cinco ou 50 anos, mas, eventualmente, veremos os uniformes de basquete como os de futebol. Um pequeno logo representando a equipe e uma grande propaganda estampando o peito.

Será minha deixa para deixar a liga que tanto acompanhei.

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